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segunda-feira, 11 de julho de 2011

(re) store. Este museu podia ser a sua casa



Inaugurada há três meses na Praça José Fontana, em Lisboa, a (re)store é uma casa e galeria onde pode comprar e alugar as peças





Quem passa lá fora vai espreitando entre a curiosidade e o limite da indiscrição. As janelas do rés-do-chão estão escancaradas e a grande portada escura também. Estamos no centro de Lisboa e abrir a porta de casa no meio da cidade é sugestivo para quem anda na rua. Pedro Silva, designer de interiores e proprietário da casa do século XIX, acha graça ao que provoca: "É giro ver daqui de dentro. As pessoas vão olhando, dão uns passos à frente, voltam para trás. E finalmente entram devagar, quando percebem que o podem fazer", conta.

O conceito da (re) store, apartment gallery, como se chama, é pouco usual em Portugal: uma casa restaurada, cuidadosamente decorada com peças de autor expostas por salas, quarto, cozinha e casa de banho, onde qualquer um pode entrar. É uma espécie de apartamento-museu, mas o objectivo é vender: "Se houver um conceito dentro de um espaço comercial, é mais fácil vender", explica. 

A ideia apareceu há cerca de um ano e meio, quando Pedro Silva procurava um espaço para mostrar o seu trabalho: "Procurava um ateliê e falaram-me desta casa. Soube logo que não podia ser uma loja vulgar", conta. Pedro meteu mãos à obra e recuperou o apartamento de finais do século XIX, que estava abandonado há mais de 35 anos. "Demorámos um ano e dois meses para restaurar e decorar. O prédio é de família e este andar servia de armazém desde a altura que os inquilinos se foram embora. Estava a cair aos bocados." As palavras de Pedro Silva são comprovadas pelas fotografias que nos mostra no grande monitor do Mac que está no escritório da casa, lugar que serve de recepção à loja. 

Visita guiada Na rua somos recebidos pelas tais portadas, suspeitas de escancaradas, do número 14 na Praça José Fontana. Subimos dois ou três degraus e estamos no hall de entrada. Há peças exclusivas, cadeirões, o candeeiro pendurado no tecto trabalhado, entre telefones de discar e estantes recuperadas. Alguns trabalhos são, claro, de Pedro Silva, outros de Geoffrey Harcourt, Philippe Starck ou o casal Charles e Ray Eames - os preferidos de Pedro. 

Entramos na Sala Verde, à direita. Do tecto cai um candeeiro antigo, pintado à mão pelo designer com cores exuberantes. O preço é 1500 euros: "Gosto de peças minimalistas, mas conceptuais. Demorei uma semana para pintar, com tinta vitral para dar este efeito de transparência."

O espaço seguinte, em frente, é a Sala Rosa, maior, e com mais iluminação natural. Há inúmeras peças, desde quadros a cadeiras, cómodas, máquinas fotográficas, ou mesas de vidro pintadas de renda portuguesa: "Aproveito muito os materiais antigos, portugueses, e dou-lhes alguma contemporaneidade", diz. Para a mesa que ali está, e outros quantos móveis onde depois aplicou a ideia, comprou renda natural numa feira: "Gostei tanto da senhora, falei um pouco com ela e trouxe a toalha. Depois estendi-a em cima da mesa." O designer utilizou um compressor e uma pistola próprios para o efeito, e o resultado é original. "Adoro fazer estas coisas", atira quando termina a explicação entusiasta.

Pedro Silva gosta de Arte Sacra, Arte Nova ou Art Déco: "E de iconoclastia [temas religiosos]", explica, apontando para uma tela que comprou em Trancoso, no Nordeste brasileiro. Procuramos a obra, e em vez de anjinhos de auréolas, o quadro ostenta duas grandes flores tropicais. "Os brasileiros fazem misturas engraçadas, eram capazes de pôr este numa igreja." Pedro larga o quadro e corre para a terceira sala, a Rothko. Ali agarra num moinho manual, também trazido do Brasil, transformado em aplique de parede: "Foi a partir destas peças que a minha inspiração se foi formando", recorda. A Rothko tem duas paredes em homenagem ao artista russo Mark Rothko. Para fazer uma delas, Pedro demorou três dias: "Se algum cliente quiser, também faço este tipo de trabalho."

Pedro Silva não é adepto das lojas onde tudo combina. Como numa casa verdadeira, o designer faz várias misturas: "Não tenho um estilo, tenho direcção e conceito. O conforto não tem barreiras", justifica. E abre as portas da sua casa, onde não vive, porque acredita que merece ser vista por todos.


fonte:
http://www.ionline.pt/conteudo/135905-re-store-este-museu-podia-ser-sua-casa