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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Os museus que deveriam contar a história da cidade estão praticamente fechados aos visitantes

O filme alemão Uma Cidade Sem Passado (1990) conta a história de uma lugarejo cujo apoio ao nazismo envergonha seus moradores, por isso, a tentativa de apagar a memória e fatos que incriminam pessoas influentes da cidade. Natal parece viver o mesmo drama. Apesar de ter abrigado simpatizantes famosos do nazi-fascismo, a relação é outra. É que os museus que deveriam contar a história da cidade estão praticamente fechados aos visitantes. E se os prédios históricos - remanescentes vivos do passado - estão em ruínas ou dão lugar a estacionamentos e estabelecimentos comerciais, os museus também parecem sentir vergonha da história da cidade.

Talvez o mais visitado, o Museu Câmara Cascudo fechou para reforma desde janeiro de 2011 e ainda se encontra na primeira etapa do projeto. O Museu Café Filho está em reforma desde março. O Museu de Natal, no Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte, fechou em janeiro de 2010 após dois meses de inaugurado. Resta praticamente o mais novo museu da cidade: o Museu de Cultura Popular Djalma Maranhão, inaugurado há cinco anos e que se volta mais às tradições culturais e menos à história propriamente dita da cidade, ao antigo, às raridades. "Um museu de grandes novidades", diria Cazuza.


Câmara Cascudo: obras da reforma se arrastam desde janeiro de 2011. Foto: Fotos: Fábio Cortez/DN/D.A Press
A "salvação" a quem deseja conhecer o passado e a história natalense vem mesmo do divino. O Museu de Arte Sacra é quase o único, hoje, aberto à visitação. O espaço, anexo à Igreja do Galo (Centro Histórico), também carece de reforma. Mas aguarda a conclusão dos demais para configurar a salvação da lavoura. E enquanto estiver fechado, fará falta apenas a poucos estudantes e idosos. "Quem se interessa por arte religiosa é esse público: estudantes de disciplinas relacionadas à história da arte ou idosos, sempre mais interessados em religião", aponta a coordenadora do Museu, Lígia Maria Álvares.

O cupim presente nas vitrines ou carências nos revestimentos precisam esperar os recursos do poder público para reforma. A taxa simbólica de R$ 1,50 do museu é liberada justo aos dois públicos mais presentes: os idosos e estudantes. São eles os beneficiados pela contemplação de obras plásticas raras. Um exemplo é a tela de aproximados 12 m2, antes presente no teto da Igreja e hoje a peça mais rara do Museu. "Dizem ter sido pintada por Hostílio Dantas. Quando da reforma da cobertura da igreja, a tela precisou ser retirada e ficou difícil recolocar a peça", lembra Lígia.

Visionário
A necessidade de um museu de arte sacra para abrigar toda a riqueza do acervo potiguar foi lembrada por Cascudo duas décadas antes de sua inauguração, em 1989. E por lá o visitante encontra ainda rico manancial da imaginária do século 17 ao 20, além de pinturas, alfaias, mobiliário, ouriversaria e prataria utilizados no culto religioso. Também lampadário, patenas, oratórios de camarinha, santeiros e tudo acompanhado de informações e características da arte da época: maneirismo, barroco, rococó, período neoclássico e outras curiosidades.

Arte sacra limitada

Além do Museu de Arte Sacra, o Eremitério do Santo Lenho, no município de Macaíba, oferece acervo ainda mais pungente. Administrado há mais de cinco anos pelo cônego José Mário, o amplo espaço é semelhante a uma granja, muito arborizado e onde padres realizam retiros espirituais. Algumas peças do museu são consideradas das mais raras do mundo, a exemplo do véu que cobriu o rosto do papa João XXIII após sua morte ou o pó dos ossos de São Francisco de Assis. A importância cultural e histórica do lugar é reconhecida pelo Vaticano.

O Eremitério foi inaugurado em 21 de abril de 2000. Está localizado a 17 quilômetros de Natal, na estrada de Macaíba. Fica próximo à estação de Rádio Guarapes da Marinha. Mas ao contrário do Museu de Arte Sacra, o lugar - mantido pela Arquidiocese de Natal - só é aberto à visitação uma vez ao mês. O Museu guardião de mais de 900 peças sacras, entre relíquias e tesouros históricos relevantes à cultura religiosa mundial, se mantém acessível a poucos privilegiados por falta de apoio governamental em transformar o lugar aberto ao público e ao turismo religioso.

fonte:
http://www.diariodenatal.com.br/2012/01/15/muito1_0.php

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