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domingo, 4 de março de 2012

A memória do nuclear

Há um museu pequeno mas muito bem organizado em Nagasaki sobre a bomba atómica.


O museu é simples porque em boa verdade não há muito pouco para contar. Mas há uma foto, isolada, imensa, tremenda na sua evocação: uma criança de lábios apertados carregando o irmãozinho bebé, já morto, no local da cremação. Órfãos.

Local onde caiu a bomba atómica em Nagasaki, a 9 de Agosto de 1945


A foto é de Joe D'Donnell, o marine americano que em 1945 fotografou durante seis meses Hiroshima e Nagasaki. No museu, a foto, que todos os japoneses conhecem, tem uma legenda escrita pelo próprio O'Donnell. Diz ele que, no final, a criança tinha os lábios cheios de sangue, tal a força com que cerrava os lábios.


Rapaz no crematório, Nagasaki, 1945

Para mim, o museu foi aquela foto.

Em Tóquio, toda a gente continua a falar muito do terramoto do ano passado. Há um antes e um depois. Nada vai ficar como dantes, garantem.

Uma portuguesa que aqui vive dizia que os japoneses fazem questão de sublinhar, durante os treinos sistemáticos a propósito dos terramotos, que não se deve gritar para não assustar os outros e assim não entrarem em pânico. Se assim fizerem, têm mais possibilidades de sobrevivência.

Os japoneses têm razão. Mas são um povo especial, com uma maneira de reagir muito própria, irrepetível se calhar. Foi por isso que me lembrei da foto do menino órfão. Não chorou. Não gritou. Mas apertou os lábios até fazer sangue.

Palavras-chave  nuclear, o expresso no japão, bomba atómica, Nagasaki, Postais, Enviados, Luísa Meireles, japão

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