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domingo, 17 de junho de 2012

Projeto une museu e comunidade da Baía de Todos os Santos

“Ela é uma das maiores e mais bonitas baías do mundo, com espaço para mais de dois mil navios”. Com essas palavras o engenheiro francês François Froger (1676-1715) tentava definir – no relato Relation d’un Voyage Fait en Brésil – a beleza, amplitude e importância da Baía de Todos os Santos, quando chegava a Salvador em 1698.

Mais de 300 anos depois, as águas dessa baía continuam deslumbrando visitantes e até mudando a vida de pessoas que habitam ou trabalham nas suas margens. É o que está acontecendo com moradores da Comunidade do Unhão, surgida com pescadores que moravam vizinhos ao Forte de São Paulo (séc. XVIII) e o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA) sediado num antigo engenho à beira-mar, conhecido também como Solar do Unhão (séc. XVII).

“Esta é a primeira vez, em toda a minha vida, que visito uma exposição neste museu, que é vizinho da minha casa”, diz a moradora da comunidade do Unhão, Ana Lúcia de Jesus, de 72 anos. A ideia de aproximar moradores das redondezas e o museu é de um projeto do Núcleo de Arte Educação do MAM-BA que tem o sugestivo nome de ‘Linha do Abraço’.

“Visamos comunidades previamente contatadas para aproximar o museu delas, mas também para recebê-los e realizar visitas guiadas para quem nunca frequentou uma exposição”, diz a coordenadora do núcleo de educação, Roseli Amado. O projeto objetiva ainda buscar parcerias entre o museu e outras instituições privadas e públicas, assim como, organizações não-governamentais, com fins de responsabilidade social.

A coordenadora do MAM-BA explica que, especialmente neste ano, aconteceu mais do que o previsto. “Surpreendente, as representantes da comunidade que vieram visitar o museu são, igualmente, parte integrante da exposição ‘Estranhamente possível’ que está aberta gratuitamente até 22 de julho”, relata Roseli.

Segundo ela, os videoartistas Mauricio Dias (carioca) e Walter Riedweg (suíço) que estão com trabalhos expostos no museu, decidiram durante a residência artística realizada em janeiro deste ano (2012), em Salvador, filmar e gravar depoimentos de lavadeiras dessa comunidade, integrando-as a um trabalho inédito ao qual deram o nome de ‘Água de chuva no mar’.

“Havíamos planejado um trabalho sobre circuitos e roteiros dentro do complexo arquitetônico-histórico do museu, mas quando conhecemos a comunidade do Unhão nos surpreendeu a força dessas mulheres que sobrevivem com tanta dificuldade e alegria ao lado do museu, mas que nunca tinham visto exposições do local”, comenta Mauricio Dias.

Com reconhecimento artístico em vários países, 45 coletivas, 23 individuais e 13 prêmios internacionais no currículo os artistas Dias&Riedweg resolveram documentar em fotos, vídeos e entrevistas a vida dessas mulheres. “O título surgiu porque elas trabalham com água – pois são lavadeiras – e porque separando a comunidade do Unhão e o MAM-BA existe um braço de mar numa pequena enseada, tendo novamente água como tema”, afirma Dias.

E como o vídeoarte com as lavadeiras é uma das atrações da exposição o núcleo educativo convidou-as para visitar a mostra e realizar palestra voltada para crianças e adolescentes. No primeiro encontro ocorrido ontem (14) apareceram 15 crianças, entre meninas e meninos de 5 a 16 anos, e foram promovidas oficinas educativas para 40 adolescentes nos horários das 15h e 18h. “Hoje (16), promovemos mais uma oficina para jovens das 9h às 11h30”, diz Roseli.

“Fiquei muito feliz de fazer parte desse trabalho. E hoje, olhando o mar de perto daqui do museu vi o movimento da água – com a qual trabalho todos os dias – e como ela é cristalina, bonita e nos dá vida”, conta a lavadeira da comunidade Unhão, Ana Lúcia de Jesus. Ela diz que a experiência com os artistas Dias&Riedweg foi um momento único na vida dela, proporcionando “uma lembrança maravilhosa e da qual estou falando agora para essas crianças”.

Os encontros acontecem no Pátio das Mangueiras e Galpão das Oficinas direcionados especialmente para crianças que residem na comunidade do Unhão. As lavadeiras contaram das suas experiências de vida pessoais e profissionais. Para Claudia Rodrigues, de 30 anos, mãe de Fabrício (9) e Juliana (7) as oficinas foram muito proveitosas. “É maravilhoso poder contar com o MAM-BA para complementar a educação dos meus filhos, sem contar que eu também aprendi muito”, ressalta Claudia.

As visitas no MAM-BA são feitas via agendamento. Cada um com cerca de 60 participantes. O museu atende média de 52 agendamentos/mês. Quem ainda não visitou a exposição ‘Estranhamente Possível’ tem até 22 de julho quando será encerrada em Salvador. MAM-BA está na Avenida Contorno, s/nº, Solar do Unhão. A realização da mostra é do Governo do Estado, através da Secult/IPAC/MAM, com apoio da Fundação Pro Helvetia e Consulado Geral da Suíça no Brasil.

Mais informações via telefone (71) 3117-6139, ou nos sites: www.mam.ba.gov.br , bahaimam.org e www.ipac.ba.gov.br

fonte:
http://www.tribunadabahia.com.br/news.php?idAtual=118907

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