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segunda-feira, 23 de julho de 2012

Museu do café, entra na rota do turismo


O histórico Sítio São Luis, em Tabapuã, guarda ainda características da década de 1930. Naquela época, imigrantes italianos desembarcam no Brasil e apostaram na produção do café como fonte de renda. Membros da Família Facchin chegaram ao país e viram naquela propriedade uma maneira de contribuir com o desenvolvimento do então novo país, que vivia o entusiasmo da industrialização e a aposta na produção do café. 






Passado aquele período com a crise de 1929 e o enfraquecimento econômico do café, restou uma rica e vasta história que pode ser contada no Museu do Café São Luis, único da região. Ele possui em acervo importante sobre o cultivo do café na região de Tabapuã durante o final do século XIX e princípio do XX, preservado e expondo vários artigos e objetos no local. 

O acervo conta com os equipamentos manuais tradicionais com os quais os trabalhadores cultivavam o café, mas também possui uma magnífica máquina centenária que era utilizada no cotidiano dos trabalhadores. Nela, o café era selecionado, limpo e aprovado para o consumo e a venda. O processo era chamado de beneficiar o café.

De forma caprichosa, todos os utensílios e objetos foram restaurados e trazem como resquício o traço dos trabalhadores que contribuíram para o desenvolvimento do local. O museu deve entrar na rota oficial de visitações na região de São José do Rio Preto. 

Uma árvore genealógica, dentro da máquina, retrata os responsáveis pela produção cafeeira da época. “Além de manter viva a memória e a história de toda uma família que lutou muito pelo desenvolvimento dessa região, passado aquele período, podemos contribuir agora com a história preservando a memória do cultivo do café”, explicou Maria Teresa Mazzucato, responsável pelo Museu. 

O sítio conta ainda com um conjunto de edificações históricas tal como a máquina de beneficiar café, cujo conjunto construído pelas famílias italianas para abrigar os trabalhadores vindos para labutar nos cafezais permanecem caracterizados como a colônia dos imigrantes, que fora outrora.

Criação

Ao entrar no local o visitante deparara-se com a enorme máquina onde foram instalados estrategicamente os sacos de café. Objetos como pilão e carriolas trazem anotações históricas, como a procedência e o período em que foram utilizados. “Essa máquina de café, que está em pleno funcionamento, dificilmente será encontrada em algum outro sítio. Trata-se de uma raridade do início do século passado e que deixam vivas as lembranças daquele período”, continuou. 

Maria Teresa conta que a ideia de construir o museu surgiu quando ela deparou-se com o grande valor agregado que continha o sítio. “Mantivemos todas as peças e equipamentos e, então, tivemos essa iniciativa de fazer esse museu. É uma forma importante de manter viva a história de nossa região”, frisou.

Artesanato

O espaço também abriga uma sessão com artesanato e lembranças do museu para os visitantes. O local traz um pouco da riqueza produzida em Tabapuã, como artesanato, licores, alimentos e o elogiado e reconhecido trabalho floral e de arranjos desenvolvidos pelas floriculturas tabapuanenses. O Sítio São Luis encontra-se a cerca de dois quilômetros da área urbana do município, sentido Tabapuã/Uchoa, na entrada do bairro Japurá. “Os turistas que nos visitam sempre querem levar algo de recordação e, desta forma, desenvolvemos essas peças”, argumenta.

Turistas

A responsável pelo museu aposta na grande visitação de turistas da região para que o local possa ganhar espaço ainda maior e, como conseqüência, integrar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), organismo federal de proteção ao patrimônio brasileiro. 

“Recebemos visitas de alunos da Fatec de São José do Rio Preto, interessados em saber um pouco mais da história do café no Brasil”, diz.  O local também poderá passar a ser rota obrigatória para turistas que fazem excursões até o Thermas dos Laranjais, em Olímpia. “Ao lado do Sítio Beija-Flor, que possui o Museu da Macadâmia, ambos devem passar a integrar essa rota turística de parte do Noroeste Paulista”, destacou Maria Teresa, referindo-se a propriedade também localizada em Tabapuã.

Primeira aparição do café foi na Arábia Saudita

A história do café começou no século IX. Seu cultivo se estendeu primeiro na Arábia Saudita, introduzido provavelmente por prisioneiros de guerra, onde se popularizou aproveitando a lei seca por parte do Islã. O Iêmen foi um centro de cultivo importante, de onde se propagou pelo resto do Mundo Árabe. O conhecimento dos efeitos da bebida disseminou-se e no século XVI o café era utilizado no oriente, sendo torrado pela primeira vez na Pérsia.

Na Arábia, a infusão do café recebeu o nome de kahwah ou cahue. Enquanto na língua turco otomana era conhecido como kahve, cujo significado original também era “vinho”. A classificação Coffea arabica foi dada pelo naturalista Lineu.

O café, no entanto, teve inimigos mesmo entre os árabes, que consideravam suas propriedades contrárias às leis do profeta Maomé. No entanto, logo o café venceu essas resistências e até os doutores maometanos aderiram à bebida para favorecer a digestão, alegrar o espírito e afastar o sono, segundo os escritores da época.

Por volta de 1570, o café foi introduzido em Veneza, Itália, mas a bebida, considerada maometana, era proibida aos cristãos e somente foi liberada após o papa Clemente VIII provar o café.

Na Inglaterra, em 1652, foi aberta a primeira casa de café da Europa ocidental, seguindo-se a Itália dois anos depois. Em 1672 cabe a Paris inaugurar a sua primeira casa de café. Foi precisamente na França que, pela primeira vez, se adicionou açúcar ao café, o que aconteceu durante o reinado de Luís XIV, a quem haviam oferecido um cafeeiro em 1713.

Brasil

Em 1727, o sargento-mor Francisco de Melo Palheta, a pedido do governador do Estado do Grão-Pará, lançou-se numa missão para conseguir mudas de café, produto que já tinha grande valor comercial. Para isso, fez uma viagem à Guiana Francesa e lá se aproximou da esposa do governador da capital Caiena. Conquistada sua confiança, conseguiu dela uma muda de café-arábico, que foi trazida clandestinamente para o Brasil.

O sucesso da lavoura cafeeira em São Paulo, durante a primeira parte do século XX, fez com que o Estado se tornasse um dos mais ricos do país, permitindo que vários fazendeiros indicassem ou se tornassem presidentes do Brasil (política conhecida como café-com-leite, por se alternarem na presidência paulistas e mineiros), até que se enfraqueceram politicamente com a Revolução de 1930.

O café era escoado das fazendas depois de secados nos terreiros de café, no interior do estado de São Paulo, até as estações de trem, onde eram armazenados em sacas, nos armazéns das ferrovias, e, depois embarcado nos trens e enviado ao Porto de Santos, através de ferrovias, principalmente pela inglesa São Paulo Railway.

Geadas

O café foi plantado no oeste do estado de São Paulo, nos lugares mais altos, os espigões, divisores das bacias dos rios que desembocam no rio Paraná, lugares menos propensos à geadas que as baixadas dos rios. Nestes espigões foram também construídas as ferrovias e as cidades do Oeste de São Paulo, longe da malária que era comum nas proximidades dos rios. O café em São Paulo sofreu sobremaneira com a “grande geada de 1918” e a geada de 18 de julho de 1975, que atingiu também o norte do estado do Paraná.

O mais conhecido convênio de estados cafeeiros para obter financiamento externo para estocagem de café em armazéns a fim de diminuir a oferta externa e conseguir preços mais elevados para o mesmo foi o Convênio de Taubaté de 1906. O pressuposto da retenção de estoques de café era a crença de que depois de uma safra boa, seguiria-se uma safra ruim, durante a qual o café estocado no ano anterior seria exportado. A partir da década de 1920, a valorização do café tornou-se permanente, aumentado muito o volume estocado, fazendo os preços se elevarem, atraindo com isso novos países produtores ao mercado fazendo concorrência ao Brasil. Com a crise de 1929, a partir do governo de Getúlio Vargas, todos os estoques de café tiveram que ser queimados para os preços não subirem. A escolha foi feita de modo a manter o café como um produto destinado às elites. Atualmente, o Café é considerado “a bebida do sistema capitalista”, devido às propriedades que a cafeína confere aos seus usuários, levando-os a obterem melhor rendimento e produtividade no meio profissional.

Superada mais essa crise, o Brasil continuou a ser o maior produtor mundial de café, embora nos últimos anos tenha de concorrer com outros países da América Latina.

O café é, atualmente, a bebida preparada mais consumida no mundo, sendo servidas cerca de 400 bilhões de xícaras por ano. O tipo de café mais comum é o arábica, ocupando cerca de três quartos da produção mundial, seguido do robusta, que tem o dobro da cafeína contida no primeiro.

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