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segunda-feira, 2 de julho de 2012

Museus de Belém são grandes preciosidades



Quando o político e intelectual Domingos Soares Ferreira Penna idealizou o museu que hoje recebe o nome de outro pesquisador, Emílio Goeldi, em 1866,Belém era marcada pelos anos do Brasil Império. De várias partes do mundo, chegavam ao Pará expedições que buscavam mapear territórios, catalogar espécies animais e vegetais e conhecer a fundo a biodiversidade da Amazônia. No centro dessa corrida e diante da euforia das chamadas Ciências Naturais, Belém acolheu aquele que viria a se tornar, passados 145 anos de história, o segundo maior museu do país em quantidade de acervo, com 4,5 milhões de itens

Para chegar ao que é hoje, o Museu Paraense Emílio Goeldi teve seus momentos de crise. Idealizado para ser, inicialmente, a Sociedade Filomática do Pará – que pretendia, além de desenvolver pesquisas científicas em âmbito nacional, promover o primeiro curso superior do Estado -, o museu nem sempre recebeu o prestígio que tem hoje. Instalado onde atualmente está localizada a Academia Paraense de Letras, no bairro da Campina, o museu ficou em segundo plano durante muito tempo. “Durante o Império, o museu pouco se desenvolveu. Recebeu poucos recursos durante esse período”, conta o diretor decomunicação e extensão do Museu Emílio Goeldi, Nelson Sanjad. “A estrutura do museu também não foi priorizada na época da Província. Na verdade, o museu não passava de um gabinete”.

A falta de interesse governamental aos propósitos do museu também culminou em sua extinção, prevista somente em lei. Decisão que não chegou, porém, a se concretizar. “Durante a primeira legislatura da Província, em 1889, o museu foi extinto em lei e só foi salvo pelo Golpe Republicano”, explica. “A visão dos primeiros republicanos era diferente dos que governavam na época do Império, alguns deles [republicanos] eram positivistas e o museu foi repensado e ganhou lugar de destaque na estrutura da administração pública”.

Esse foi o início da configuração do museu tal como ele pode ser visto hoje. A transferência de sua sede para a avenida Magalhães Barata - onde hoje também funciona o parque zoobotânico da instituição – aconteceu em meados de 1895, quando já se havia definido um pesquisador de renome para retomar a administração da instituição. “Goeldi chegou a Belém em junho de 1894 e recebeu carta branca para reestruturar o museu”, lembra Nelson. “Ele pensou em uma nova sede e manteve o foco do museu na história natural e na etnografia científica”.

Em apenas 20 anos de existência do museu, Belém já tinha uma das mais importantes coleções da Amazônia. E com o impulso proporcionado por Goeldi, o museu foi apresentando um crescimento cada vez maior atribuído, em grande parte, ao seu prestígio, à importância de suas coleções e ao apoio da visitação da população.

DESAFIOS

Hoje, segundo Nelson Sanjad, os maiores desafios do museu são referentes à necessidade de aumento de seu quadro funcional e da valorização de seu acervo através de exposições. “De 1980 para cá, a curva do número de pesquisadores servidores do museu só decai. Isso é um problema muito sério com relação à preservação do acervo”, acredita Sanjad. “De 80 para cá, também, várias espécies vivas foram retiradas do museu por falta de espaço e o desafio é fazer o público entender que o museu não é apenas um zoológico. Por isso, nosso investimento hoje está focado na acessibilidade às nossas coleções, através das exposições”.

Museu da Imagem e do Som quer sede própria

O foco na produção de exposições também tem sido o desafio percorrido pelo museu mais antigo sobre a gerência do governo do Estado do Pará. Fundado em 1971 e idealizado pela escritora paraense Eneida de Moraes para preservar depoimentos de personalidades políticas e artística do Estado, o Museu da Imagem e do Som (MIS), ainda hoje, se mantém pulsante.

Quem vê a porta estreita que se abriga na lateral da Igreja de Santo Alexandre não imagina a grandiosidade dos materiais que guarda. Entre prateleiras, estantes e equipamentos de diversas utilidades, estão fitas, CDs, vinis, rolos de filmes e parte da história cultural do Pará. Acontecimentos que ganham vida sempre que colocados em uma tela. “O nosso material está mais voltado para pesquisadores porque a característica fundamental do museu é de um espaço voltado à pesquisa”, explica o diretor do MIS, Armando Queiroz. “O nosso interesse está focado na memória da produção amazônica. Temos uma política voltada para a produção que fale da região ou que tenha sido feita aqui”.

Dentre as raridades guardadas nas três salas do museu estão películas de Líbero Luxardo, Milton Mendonça e Pedro Veriano. No acervo de áudio está a coleção do compositor paraense Waldemar Henrique e ainda o maquinário das TVs Guajará e Marajoara, as primeiras emissoras do Pará. Materiais que atendem à demanda de pesquisadores locais e de outros estados, mas que podem vir a integrar exposições de livre acesso da população. “Não possuímos espaços expositivos, por isso temos feito parcerias com outros museus do Sistema Integrado de Museus”, explica Armando. “Nossa expectativa é de que tenhamos uma sede própria onde poderemos montar exposições”.

Mabe reconta a nossa história através da arte e do patrimônio

Com uma exposição de longa duração e duas salas de exposições temporárias, o Museu de Arte de Belém (MABE) - único museu sobre a gerência da Prefeitura Municipal de Belém -, conserva a história da capital paraense. No salão tomado pela cor verde, a trajetória se inicia com a imponente tela ‘Fundação da Cidade de Belém, de Theodoro Braga. No percorrer dos olhos pela parede, a história da cidade desde sua fundação até o período do Brasil Império.

Construído para ser a sede da Intendência Municipal, na segunda metade do século XIX, o Palácio Antônio Lemos abriga a sede da Prefeitura e, desde 1991, o Mabe. “A exposição do salão principal é um belo recorte da história da cidade, mas também temos a sala que fala da identidade do povo paraense e da religiosidade”, explica a diretora do museu, Daura Gomes.

Segundo ela, o espaço que hoje é aberto permanentemente para visitações chegou a ficar fechado. “O museu ficou quatro anos fechado para visitações porque estava oferecendo risco. Então, foi feito todo um trabalho de recuperação dos telhados, do forro e a obra só acabou em 2010”, afirma, ao lembrar das relíquias expostas a partir da reforma. “O lustre da entrada era do próprio palácio e foi colocado para a exposição de reabertura desses salões. O museu passou por todo um projeto de modernização das bases, cortinas e dos desumidificadores”.

(Diário do Pará)

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