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quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Chinnery instantâneo no Museu de Arte


Conservam “o momento em que o artista preparou a sua obra” a carvão e com anotações. Os desenhos do pintor britânico, principal retratista do Oriente na sua época, estão em exibição. Um livro de esquissos é dado a ver pela primeira vez.


Maria Caetano
Foi adquirido há seis anos e, de então para cá, ainda não tinha saído à luz do dia. Um dos cadernos de esboços de George Chinnery, pintor de paisagens que retratou Macau e as regiões vizinhas durante perto de três décadas da sua vida, pode ser visitado desde ontem no Museu de Arte.
O caderno é a peça mais valiosa de Chinnery que se encontra à guarda da instituição e pertence à colecção particular do empresário Peter Lam. Reúne 74 estudos do pintor inglês que faleceu em Macau em 1852, estabelecendo-se como o principal autor ocidental da sua época com obra plástica que tem como tema o Oriente.
A esta peça, juntam-se 30 outros desenhos detidos pelo Museu de Arte, numa exposição que surge enquadrada por outras visões ocidentais da China – uma série de gravuras do quotidiano chinês do século XIX em locais como Suzhou, Nanjing ou Qiantang, da autoria do também britânico ilustrador e arquitecto Thomas Allom.
“Este tipo de bloco de desenhos, se é adquirido, muitas vezes é separado em peças individuais que são vendidas. Agora podemos ver um bloco inteiro que retrata somente Macau e que não ficou fora de Macau. É uma grande sorte”, destaca o curador da mostra “Desenhos de Chinnery”, Edmond Lo Ka Chon.
O caderno de esquissos (datado entre 1836 e 1837) foi licitado num leilão londrino por Peter Lam, sob apelo do então director do museu e actual presidente do Instituto Cultural, Guilherme Ung Vai Meng. “É uma oportunidade rara poder encontrar no mercado a obra dele”, destaca o organizador.
“É uma peça muito importante, que reflecte dois anos de trabalho do artista”, salienta Edmond Lo. Já a colecção de 30 desenhos da qual o museu é proprietário é organizada em três secções nesta exposição: retratos, paisagens costeiras e arquitectura de igrejas de Macau.
Entre a série de retratos e paisagens, predomina a vida marítima: as tancareiras são presença dominante, assim como pescadores e crianças que brincam junto à água. Além das mulheres do mar, em terra  e junto às igrejas Chinnery reproduz nos desenhos o aparato de uma saída à rua de macaenses e portuguesas, debaixo dos seus pára-sóis.
“Desenhos de Chinnery” experimenta ainda uma abordagem mais interactiva junto dos visitantes, através de uma parceria com o iCentre, do Centro de Estudos Permanentes Pós-Laborais, que produziu uma animação com a duração de cinco minutos onde desfilam aguarelas e desenhos do pintor. Por entre eles, é projectada a imagem de quem assiste ao desfilar da animação. O resultado é um passeio virtual pela obra do pintor inglês.
A mostra do Museu de Arte sucede depois de, em Maio de 2010, o Museu de Macau ter exibido “Refúgio de Um Viajante”, uma mostra de 150 peças que celebrava os 185 anos da chegada do pintor à China. As obras – óleos, aguarelas e esquissos – foram então emprestadas por instituições de Hong Kong e Inglaterra.
“Esta exposição é diferente”, afirma o curador. “No Museu de Macau foram expostas principalmente colecções do estrangeiro, apresentando muitas pinturas a óleo e aguarelas. Desta vez, apresentamos os desenhos e esquissos de George Chinnery porque acreditamos que, neste tipo de obra, conseguimos encontrar o momento em que o artista preparou a sua obra, o seu sentimento instantâneo no momento de capturar a fisionomia de Macau”, explica.
O traço do britânico, a carvão e com algumas anotações, pode ser observado no Museu de Arte até ao dia 4 de Novembro.

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