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sábado, 11 de agosto de 2012

Família quer transformar casa de Jorge Amado em museu


Obras em casarão onde escritor morou com Zélia Gattai devem custar R$ 2,5 milhões. Nesta sexta-feira é comemorado seu centenário


No número 33 da rua Alagoinhas, no bairro Rio Vermelho, em Salvador, está localizada uma das mais importantes casas da história da literatura brasileira. De 1964 a 2001 - ano de sua morte - morou ali o escritor Jorge Amado, cujo centenário é celebrado nesta sexta-feira (10).
João Paulo Gondim
Fachada da casa onde Jorge Amado viveu com Zélia Gattai
Fechado desde 2003, quando a mulher de Amado, a escritora Zélia Gattai, que morreu cinco anos mais tarde, se mudou, o imóvel deve ser transformado em memorial. Assim planeja a família do casal, que, além da vida e do ofício, compartilhou a cadeira 23 da Academia Brasileira de Letras (ABL) e o lugar onde estão depositadas as suas cinzas, sob uma mangueira no quintal.
A ideia de transformar a casa no Memorial Jorge Amado (nome provisório do projeto), que ainda não tem prazo para ser inaugurado, era natural, segundo o filho do escritor João Jorge Amado. É algo similar ao que acontece com tantos outros artistas, como o escritor russo Léon Tolstói (1828-1910) e o também escritor inglês Charles Dickens (1812-1870), cujas residências se tornaram museus, em Moscou e Londres, respectivamente.
João Paulo Gondim
Peças de decoração da casa de Jorge Amado
"São casas que permitem aos admiradores terem uma visão de como vivia esse artista, seu universo e tudo o mais. Nós temos nos empenhado muito em transformar essa casa em memorial. Infelizmente, o que nós queríamos fazer, que era tê-la funcionando ainda para que nossa mãe visse o museu, não foi possível. Mas, mesmo assim, nós mantivemos essa vontade e estamos lutando por isso até o fim", disse João Jorge.
Jorge conta que, em 2003, Zélia deu uma festa na casa. Era uma espécie de pontapé inicial para fazer do imóvel o museu. A família pediu o tombamento do imóvel. O Instituto do Patrimônio Artístico Cultual da Bahia (Ipac) iniciou o processo, que ainda está aberto. No entanto, a família não planeja mais o tombamento, pois isso impediria qualquer intervenção - o bem tombado deve preservar as suas características originais. Não seria possível, por exemplo, adaptá-lo a deficientes físicos.
"Para buscarmos enquadramento na Lei Rouanet e conseguir alguns recursos, entramos com pedido de tombamento da casa. Mas, primeiro, a Lei Rouanet não saiu; segundo, a casa, tombada, engessaria e atrapalharia todo o trabalho da reforma. A casa em si não tem valor arquitetônico que justifique o tombamento, que seria em função do valor agregado, por ter sido onde morou Jorge Amado e Zélia Gattai", afirmou.
"A lei do tombamento não distingue entre o monumento arquitetônico e o que tem valor agregado. Isso significaria que, a cada intervenção que se tivesse de fazer na casa, tivesse de passar por um trâmite burocrático muito grande", completou.
João Paulo Gondim
Local onde estão enterradas as cinzas de Jorge Amado e Zélia Gattai
De acordo com Jorge, faltam mudanças de ordem museológica na construção para o memorial funcionar. Os descendentes de Jorge Amado querem dotar o lugar de cafeteria ou um pequeno restaurante. Além disso, deve haver uma loja para vender livros e objetos alusivos ao universo literário do escritor. Apesar disso, ele acredita que o memorial não vai ser autossustentável. Ele espera conseguir doações para mantê-lo.
O projeto do museu, com quase um ano, é de autoria do arquiteto português Miguel Correia, que se disse fã do escritor e foi um presente do Ministério da Cultura de Portugal. De acordo com o arquiteto, as obras devem custar R$ 2,5 milhões.
Nesta sexta-feira, houve a apresentação do vídeo com a simulação do memorial pronto. Amigos da família Amado, representantes do governo português, o governador Jaques Wagner e três dos seis candidatos a prefeito de Salvador: ACM Neto (DEM), Nélson Pelegrino (PT) e Mário Kertész (PMDB).
Durante a cerimônia, Wagner afirmou que o governo baiano "está totalmente engajado no projeto de fazer da casa de Jorge Amado um espaço aberto à visitação pública", mas não explicitou como será isso exatamente. De acordo com ele, o Estado pode contribuir financeiramente com o futuro memorial. "Não é uma obra que vá requerer um volume de recursos elevado", afirmou.
O governador destacou uma faceta pouco lembrada do escritor: a política. Eleito deputado federal em 1945, Amado participou da Assembleia Constituinte do ano seguinte, na qual formulou a Lei da Liberdade de Culto Religioso. Ele foi cassado ainda em 1946, quando sua legenda, Partido Comunista Brasileiro (PCB), foi posta na ilegalidade.
Jorge Amado Neto explica a diferença entre o projeto do memorial e a Fundação Casa de Jorge Amado, inaugurada em 1987 no Pelourinho. A fundação, diz, mantém o acervo literário do avô, autor de "Gabriela, Cravo e Canela", "Jubiabá" e "Tenda dos Milagres", entre tantas obras. O museu vai preservar o estilo de vida de Jorge Amado e Zélia Gattai.
Imortalizado no livro "A Casa do Rio Vermelho" (1999), da própria Zélia Gattai, e no curta-metragem "Na Casa do Rio Vermelho (1974)", de David Neves e Fernando Sabino, o casarão poderá voltar a receber visitantes que se espalhavam pelos cerca de 2.000 metros quadrados de área.
Parada obrigatória de artistas e intelectuais que visitavam a Bahia, a residência recepcionou do poeta chileno Pablo Neruda (1904-1973) ao comediante brasileiro Zé Trindade (1915-1990), afora uma multidão de anônimos, turistas, fãs e curiosos.
Até hoje há quem passe em frente ao imóvel e tire fotos da fachada. "Sou fã de Jorge Amado e quero muito ver esse museu pronto", afirmou o comerciante Paulo Henrique Macedo, de 27 anos, que andava próximo à casa, após a cerimônia de apresentação do projeto.

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