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sábado, 25 de agosto de 2012

Novo ancoradouro para o museu das naus

O Museu das Naus, enfim, avistou terra nova e encontrou um porto seguro. A iniciativa do arquiteto João Maurício Fernandes de Miranda, que durante três anos manteve na Cidade Alta sua coleção de réplicas navais em miniatura, ganhou espaço próprio no Iate Clube de Natal, em Santos Reis. A abertura será nesta sexta-feira, às 17h, para convidados. As naus, caravelas e galeões que Maurício trabalhou ao longo de 16 anos com todo seu requinte detalhista, ganharam um espaço de maior alcance, segurança, acessibilidade e, curiosamente, bem próximo do mesmo local em que os navios originais portugueses aportaram em Natal há mais de 400 anos. O rio Potengi mais uma vez emoldura o cenário para as velhas naus.

Em boa hora o Iate Clube serviu de novo 'ancoradouro' para o museu de João Maurício. "O espaço na rua Princesa Isabel era alvo constante de reclamações, principalmente pela dificuldade de achar estacionamento no centro. Isso atrapalhava bastante", explica. Em fevereiro deste ano, numa conversa informal entre sócios do Iate, surgiu a proposta. Ao visitar o museu, o comodoro Alberto Serejo Gomes ficou deslumbrado, e a ideia foi sendo posta em prática. "As únicas exigências de Maurício foram um espaço digno e a conservação de seu acervo. Garantir a longevidade desse trabalho é um prazer para nós", ressaltou o comodoro.

GALPÃO DAS NAUS TEM PROJETO DE GRAÇA MADRUGA

Um galpão localizado à entrada do clube foi destinado ao museu. O ambiente foi ampliado e reformado, com projeto da arquiteta Graça Madruga. Amplas vidraças mostram o rio Potengi ao fundo, criando o cenário ideal para a exposição permanente das naus. João Maurício trouxe para o novo espaço as nove réplicas dos navios construídos por ele, junto com a reprodução dos brasões (em madeira) dos primeiros capitães donatários, incluindo Gaspar de Lemos, que trouxe o Marco de Touros em 1501.

Há ainda painéis que contam a história das caravelas e do contexto político da época, os séculos XV e XVI, período das grandes navegações e da colonização ibérica. As naus que João Maurício reproduziu se localizam em momentos chave do período, como o Tratado de Tordesilhas, a expedição de Pedro Álvares Cabral e a fundação de Natal. "Estudos mostram que as primeiras frotas exploradoras aportavam nessa mesma área onde está o Iate Clube, e isso me faz gostar ainda mais de trazer o museu para cá", ressalta o arquiteto, que se mantém como curador de sua obra.

Serviço: Museu das Naus. Abertura para convidados nesta sexta-feira, às 17h, no Iate Clube de Natal, bairro de Santos Reis. Mais informações sobre visitas e agendamentos pelo 3202-4402.

PLANTAS ORIGINAIS DE LISBOA

O trabalho de João Maurício reúne interesses artísticos e históricos. Começa pelo fato dele ser um exímio marceneiro, algo que lhe garantiu o primeiro emprego quando foi morar no Rio de Janeiro. Anos depois, após trabalhar como professor e fundar o curso de arquitetura de Natal, ele decidiu viajar. Na Europa, descobriu um museu náutico, e foi paixão à primeira vista. Decidiu que poderia fazer algo semelhante no Brasil. Para começar os serviços, Maurício procurou as fontes primordiais - no caso, o Museu da Marinha de Lisboa, em Portugal, que vendeu a ele cópias das plantas originais dos navios. "Não inventei nada. Tudo que está aí é tal e qual as caravelas originais", afirma.

A madeira utilizada é a mesma das caravelas originais: o 'louro vermelho', que pertence às floras brasileiras e africanas; e o 'pinho de Rigo', nativo de de mares gelados como os que banham a Ucrânia. Segundo João Maurício, cada um dos modelos levou no mínimo dois anos para serem feitos. É um trabalho por demais detalhista. Em um dos modelos, pode-se ver o interior do navio, com seus ambientes, compartimentos e personagens. Entre as reproduções está a famosa nau capitânia Santa Maria, a mesma em que Cristóvão Colombo "descobriu" a América em 1492.

MINIATURAS FORAM LANÇADAS NO 4º CENTENÁRIO

Os navios de João Maurício foram mostrados ao público pela primeira vez em 1999, por ocasião de uma exposição comemorativa aos 400 anos da fundação de Natal, na Capitania das Artes. Após essa mostra, houve a promessa do poder público der um museu na Ribeira - algo que nunca aconteceu. O arquiteto resolveu então, do próprio bolso, bancar a abertura da casa para suas caravelas. Investiu R$40 mil para a abertura do espaço. Desde então, o museu navegou por águas turvas e incertas - às vezes, paradas até por demais. Agora, chegou o momento de redescobrir essas preciosidades.

O comodoro Alberto Serejo afirma que não poderia haver um lugar mais propício para abrigar o museu. "O Iate Clube de Natal tem 57 anos, e faz parte de um sítio que já é histórico por si só. Aqui, as peças estarão seguras, constantemente vigiadas, limpas e preservadas. Temos constantes visitas de turmas escolares e universitárias, portanto, é um lugar de grande movimento, e fácil de também entrar na rota das visitas turísticas", explica. Alberto ressalta que a futura presença do Museu da Rampa valorizaria ainda mais o espaço do museu. As águas finalmente estão a favor das caravelas de João Maurício Fernandes.
fonte:
http://tribunadonorte.com.br/noticia/novo-ancoradouro-para-o-museu-das-naus/229590

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