O Museu das Naus, enfim, avistou terra nova e encontrou um porto seguro. A
iniciativa do arquiteto João Maurício Fernandes de Miranda, que durante três
anos manteve na Cidade Alta sua coleção de réplicas navais em miniatura, ganhou
espaço próprio no Iate Clube de Natal, em Santos Reis. A abertura será nesta
sexta-feira, às 17h, para convidados. As naus, caravelas e galeões que Maurício
trabalhou ao longo de 16 anos com todo seu requinte detalhista, ganharam um
espaço de maior alcance, segurança, acessibilidade e, curiosamente, bem próximo
do mesmo local em que os navios originais portugueses aportaram em Natal há
mais de 400 anos. O rio Potengi mais uma vez emoldura o cenário para as velhas
naus.
Em boa hora o Iate Clube
serviu de novo 'ancoradouro' para o museu de João Maurício. "O espaço na rua
Princesa Isabel era alvo constante de reclamações, principalmente pela
dificuldade de achar estacionamento no centro. Isso atrapalhava bastante",
explica. Em fevereiro deste ano, numa conversa informal entre sócios do Iate,
surgiu a proposta. Ao visitar o museu, o comodoro Alberto Serejo Gomes ficou
deslumbrado, e a ideia foi sendo posta em prática. "As únicas exigências de
Maurício foram um espaço digno e a conservação de seu acervo. Garantir a
longevidade desse trabalho é um prazer para nós", ressaltou o comodoro.
GALPÃO DAS NAUS TEM PROJETO DE GRAÇA
MADRUGA
Um galpão localizado à entrada do clube foi destinado ao
museu. O ambiente foi ampliado e reformado, com projeto da arquiteta Graça
Madruga. Amplas vidraças mostram o rio Potengi ao fundo, criando o cenário
ideal para a exposição permanente das naus. João Maurício trouxe para o novo
espaço as nove réplicas dos navios construídos por ele, junto com a reprodução
dos brasões (em madeira) dos primeiros capitães donatários, incluindo Gaspar de
Lemos, que trouxe o Marco de Touros em 1501.
Há ainda painéis que contam
a história das caravelas e do contexto político da época, os séculos XV e XVI,
período das grandes navegações e da colonização ibérica. As naus que João
Maurício reproduziu se localizam em momentos chave do período, como o Tratado de
Tordesilhas, a expedição de Pedro Álvares Cabral e a fundação de Natal. "Estudos
mostram que as primeiras frotas exploradoras aportavam nessa mesma área onde
está o Iate Clube, e isso me faz gostar ainda mais de trazer o museu para cá",
ressalta o arquiteto, que se mantém como curador de sua obra.
Serviço: Museu das Naus. Abertura para
convidados nesta sexta-feira, às 17h, no Iate Clube de Natal, bairro de Santos
Reis. Mais informações sobre visitas e agendamentos pelo 3202-4402.
PLANTAS ORIGINAIS DE
LISBOA
O trabalho de João Maurício reúne interesses artísticos e
históricos. Começa pelo fato dele ser um exímio marceneiro, algo que lhe
garantiu o primeiro emprego quando foi morar no Rio de Janeiro. Anos depois,
após trabalhar como professor e fundar o curso de arquitetura de Natal, ele
decidiu viajar. Na Europa, descobriu um museu náutico, e foi paixão à primeira
vista. Decidiu que poderia fazer algo semelhante no Brasil. Para começar os
serviços, Maurício procurou as fontes primordiais - no caso, o Museu da Marinha
de Lisboa, em Portugal, que vendeu a ele cópias das plantas originais dos
navios. "Não inventei nada. Tudo que está aí é tal e qual as caravelas
originais", afirma.
A madeira utilizada é a mesma das caravelas
originais: o 'louro vermelho', que pertence às floras brasileiras e africanas; e
o 'pinho de Rigo', nativo de de mares gelados como os que banham a Ucrânia.
Segundo João Maurício, cada um dos modelos levou no mínimo dois anos para serem
feitos. É um trabalho por demais detalhista. Em um dos modelos, pode-se ver o
interior do navio, com seus ambientes, compartimentos e personagens. Entre as
reproduções está a famosa nau capitânia Santa Maria, a mesma em que Cristóvão
Colombo "descobriu" a América em 1492.
MINIATURAS FORAM LANÇADAS NO 4º CENTENÁRIO
Os navios de João Maurício foram mostrados ao público pela
primeira vez em 1999, por ocasião de uma exposição comemorativa aos 400 anos da
fundação de Natal, na Capitania das Artes. Após essa mostra, houve a promessa do
poder público der um museu na Ribeira - algo que nunca aconteceu. O arquiteto
resolveu então, do próprio bolso, bancar a abertura da casa para suas caravelas.
Investiu R$40 mil para a abertura do espaço. Desde então, o museu navegou por
águas turvas e incertas - às vezes, paradas até por demais. Agora, chegou o
momento de redescobrir essas preciosidades.
O comodoro Alberto Serejo
afirma que não poderia haver um lugar mais propício para abrigar o museu. "O
Iate Clube de Natal tem 57 anos, e faz parte de um sítio que já é histórico por
si só. Aqui, as peças estarão seguras, constantemente vigiadas, limpas e
preservadas. Temos constantes visitas de turmas escolares e universitárias,
portanto, é um lugar de grande movimento, e fácil de também entrar na rota das
visitas turísticas", explica. Alberto ressalta que a futura presença do Museu da
Rampa valorizaria ainda mais o espaço do museu. As águas finalmente estão a
favor das caravelas de João Maurício Fernandes.
fonte:
http://tribunadonorte.com.br/noticia/novo-ancoradouro-para-o-museu-das-naus/229590
Nenhum comentário:
Postar um comentário