Nega ser um “sticker nerd”. Abriu o Hatch Museum em 2008, em Berlim, e já perdeu a conta a quantos autocolantes tem expostos. Não rejeita nenhum donativo e aceitas trocas com Portugal
Oliver Baudach colecciona autocolantes desde os 13 anos.
Hoje, com 41, dá para imaginar a quantidade de pequenas obras de arte
que devem andar lá por casa. E pelo Hatch Museum, em Berlim, a sua maior realização profissional – e pessoal, claro.
No primeiro (e único) museu do mundo dedicado a autocolantes, Oliver
não cobra entrada aos visitantes. Turistas e artistas são convidados a
conhecer o espaço no bairro Mitte, no centro da capital alemã, e a
apreciar a colecção que deve rondar as 25 mil peças, espalhadas em
várias divisões.
Em entrevista ao P3 via e-mail, Oli, como prefere ser tratado, contou
a história do espaço. Ao aperceber-se do crescimento de exposições
temporárias e concursos de design de autocolantes, bem como de livros e
sites para trocas, concluiu que não era um “sticker nerd” no meio de um
“pequeno planeta de ‘stickers nerds’”. Havia mais pessoas (muitas mais) a
apreciar as pequenas obras de arte. Uma breve pesquisa online, no Verão
de 2007, confirmou a sua ideia inicial: não havia nenhum sítio que
celebrasse apenas esta cultura.
Oli, que cedo começou a andar de skate, chegou a ter uma skateshop e a
trabalhar como director de marketing para uma grande empresa do meio,
estava “mais do que impressionado com a grande e incrível cultura de
‘stickers’ das ruas de Berlim”. A vontade de preservar os autocolantes
que o clima estraga e de ter informação sobre os autores levou-o a
consolidar a ideia antes que alguém tivesse a mesma ideia ao mesmo
tempo.
Com o apoio financeiro dos seus pais – no banco, todos o viam como um
louco assim que mencionava o projecto – e de um programa estatal que
incentivava a criação do próprio emprego, apressou-se a fazer obras no
local escolhido e abriu ao público em Abril de 2008. Aí se manteve até
Dezembro de 2010, quando o contrato acabou e teve de recomeçar do zero.
Aproveitou e decidiu “pensar em grande, o que significou mudar para uma
área mais cara mas, também, mas visitável por turistas”, onde se mantém
até hoje.
No início, valeu-se da sua própria colecção, “maioritariamente de
skateboard, streetwear, música, lojas, revistas e um pouco de street
art”. Só ao longo dos primeiros meses, quando o projecto começou a ser
divulgado, passou a receber donativos de artistas e visitantes.
Trocas em Portugal
Oli, que nasceu em Barcelona, recebe e envia, pelo correio,
autocolantes de e para toda a Europa e colabora com 150 marcas. É o
envio de “stickers” através da pequena loja do Hatch que
garante a sobrevivência do mesmo. Graças a este projecto, os miúdos que
gostam desta arte “sabem sempre quando são lançados novos autocolantes e
têm imediamente a hipótese de escolher aqueles que querem”. É por isso
que o museu lembra a Oli a sua infância, quando “corria as lojas de
skate e graffiti a perguntar por autocolantes”.
Também pede aos visitantes que lhe enviem autocolantes dos seus
países de origem, para que a colecção se diversifique. Foi isso que
aconteceu com Ana Carolina, uma portuguesa que, numa viagem a Berlim, se
deparou com o museu e logo se prontificou a partilhar com Oli algum
espólio nacional, uma vez que o dono "tinha interesse em ter alguns
autocolantes portugueses".
"Encontrámos o museu por acaso e como gostamos muito de 'street art'
entrámos. Vimos uma colecção fabulosa, com artistas muito conhecidos",
contou Ana Carolina ao P3. Regressou a Portugal com vários autocolantes
oferecidos e, de momento, está a recolher, entre alguns amigos e
conhecidos, material para enviar para a Alemanha. Há, até, artistas
portugueses a produzir “stickers” especiais para o Hatch Museum.
Como qualquer coleccionador que se preze, Oli tem vários autocolantes
repetidos. Divide-os em caixas e, sempre que pode, deixa que os
visitantes do seu museu levem algum para casa, como recordação. E esta é
uma das coisas de que mais gostam, a par das bebidas orgânicas grátis
que preenchem um cantinho do espaço e da hipótese de “receber informação
de contexto sobre alguns artistas ou autocolantes”.
A cada artista, Oliver Baudach garante a presença no museu, “porque a
exposição é como parte da rua, onde toda a gente pode deixar os seus
autocolantes e ninguém os selecciona”. “A única coisa que faço é criar,
por vezes, molduras individuais de ‘stickers’, dependendo da sua
relevância, da quantidade ou da qualidade criativa dos mesmo”, explica.
“Mas nunca recuso um donativo e nunca tirei um autocolante da exposição,
pelo que a colecção do museu cresce permanentemente.”
De Berlim, cidade para onde se mudou em 2000 vindo de uma pequena
cidade do Sul da Alemanha, Oli esperava maior apoio, sendo o primeiro
museu dedicado a “stickers”. “Ainda há quem trate os autocolantes como o
enteado da arte contemporânea.”
fonte:
http://p3.publico.pt/cultura/exposicoes/4248/oli-guarda-o-unico-museu-de-autocolantes-do-mundo
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