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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Tecnologia dos museus dá asas à imaginação



Desça a uma mina de ouro em companhia do imperador, calcule a quantidade de minerais no corpo, veja quadros ganharem vida e conviva com figuras históricas em museus mineiros

Projeção dá a visitantes impressão de estar em companhia de don Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina, que narram visita à mina em 1881 (Fotos: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press)
Projeção dá a visitantes impressão de estar em companhia de don Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina, que narram visita à mina em 1881
“Pode entrar, não tenha medo. Você também... Claro que as mulheres entram na mina também. Está aqui a imperatriz”. O chamado para a visita subterrânea à Mina do Morro Velho é de dom Pedro II. O passeio não é bem em Nova Lima (MG), mas ali mesmo na Praça da Liberdade, dentro do Museu das Minas e do Metal- EBX (MMM). O célebre – e fictício – personagem integra um trio de peso que inclui Zinc, simpático homem de lata, e Mendeleev, químico russo criador da tabela periódica. Os três dão um tom mais humano e lúdico à visita ao espaço, inaugurado em 2010, concebido para mostrar a relação histórica e cultural entre os habitantes de Minas Gerais com os minérios e o metal. 

O MMM faz parte do Circuito Cultural Praça da Liberdade e alia a beleza da suntuosa construção de 1895 com ambientes interativos, dotados de alta tecnologia. O projeto museográfico é do designer Marcello Dantas, responsável por outros trabalhos famosos, como o Museu da Língua Portuguesa (leia mais na página 4). O museu inovou ao ser o primeiro a lançar uma rede social própria, a MMM, que permite a troca de informações entre as pessoas, depois da visita. 

A atração da mina, que conta com a projeção de Dom Pedro II, é uma das mais surpreendentes no museu, garantem os olhos arregalados e expressão de espanto de quem acaba de sair de lá ou gritinhos animados de alunas de uma escola municipal. Cerca de cinco pessoas entram no elevador. Ao fechar a porta, imagens são projetadas na cabine. A impressão é que se está realmente descendo mina abaixo. Enquanto o passeio acontece, dom Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina contam, com direito a brincadeiras, a experiência que tiveram em 1881, quando visitaram a Mina do Morro Velho, então maior produtora de ouro do país. 

Ana Katherine de Queiroz Lima, atriz de 23 anos, e o tio Geraldo Maria Brandão, de 70 anos, se detiveram no Jogo do Milhão, um quizz sobre a grafita, que conta com uma reprodução do “Má, oê”, risadas características do apresentador Sílvio Santos. “Aí tio, tem que responder: a grafita é parecida com qual outro mineral?”, alertava a jovem com um olho no game e outro na equipe de reportagem. Ana Katherine Lima explica que a família foi almoçar na região e resolver conhecer o museu. Ela conta que, na linha do MMM, já visitou o Museu das Telecomunicações, outro espaço que alia história e tecnologia na capital mineira. “Esse tipo de abordagem desperta maior interesse do visitante”, explica a atriz. O tio concorda: “É uma forma inteligente de ensinar”. 

Andança livre
O MMM é circular, não existe uma sequência de atrações a ser vista. A Matéria-Prima é a única com horário certo para as apresentações. Na sala escura, fechada por pesadas cortinas, uma projeção no teto e na estrutura fixa no centro da sala reproduz imagens do universo, ao som de uma narração. Estrelas, planetas, big bang... “Essa é a história daquilo do que somos feitos”, avisa o monitor, pedindo palmas dos estudantes ao final da apresentação. Sem precisar insistir, ele foi calorosamente atendido.

No andar de cima, outras 17 salas, com mais de 50 atrações, esperam pelo visitante. Na Estações Interativas, a história da mineração é contada à medida que se empurra o carrinho sobre os trilhos. Em malas de veludo, guardada como diamantes, descobre-se a história de Chica da Silva, em vídeos das primeiras novelas sobre a personagem. Na Gema, você é convidado a “lapidar” uma pedra, moldando um tecido em lycra. A brincadeira requer prática. Foi o que descobriram Thaís Andrade, de 18 anos, e o namorado, Rafael Libânio, também de 18. O casal gastou longos minutos tentando fazer o lápis-lazúli virar um adorno para joalheria. “O museu tem várias opções de interações, deixando-o mais dinâmico”, opinou Libânio. 

No Vale Quanto Pesa, não é preciso se preocupar com os quilinhos a mais na balança: o sistema só calcula a quantidade de metal no seu corpo. Na mesma sala, a Mesa dos Átomos, com sua tabela periódica amarela, chama a atenção logo de cara. Até aqueles que odiavam química se arriscam em combinações de elementos na máquina. O Espelho Mágico lembra o funcionamento do Kinect (sensor de movimentos que permite a jogadores interagir com os jogos eletrônicos sem a necessidade de ter em mãos um controle/joystick): câmeras e sensores captam a sua imagem e você pode escolher se quer usar uma coroa portuguesa ou um colar africano. 

O gestor de tecnologia da informação, Alexandre Livino, conta que a Mesa dos Átomos é a que mais precisa de manutenção. “Ela não é multitoque e às vezes trava quando várias pessoas mexem ao mesmo tempo”, explica. Todos os equipamentos são automatizados e o bordão “o último a sair apaga as luzes” perde o sentido nesse museu tecnológico.
 Minas iconográfica
Ao lado do MMM, ainda na Praça da Liberdade, os inconfidentes Bárbara Heliodora e Tomaz Antônio Gonzaga conversam no Panteão da Política Mineira, instalação teatral do Memorial Minas Gerais-Vale. A atração é a que faz mais sucesso e conta vários aspectos da história do estado por meio de uma dramatização cênica. O espectador entra, senta-se no centro da sala, e se admira enquanto os quadros ganham vida e começam a prosa. Irene Schettino, aposentada de 67 anos, a elegeu como a preferida. “É genial. Cheguei, me encantei com ela e acabei ficando por aqui. A tecnologia e a história formam uma excelente parceria. O museu não fica monótono”, disse.

O Memorial, inaugurado em 2010, conta com 31 salas no total e tem curadoria e museografia do designer Gringo Cardia. O espaço cultural é iconográfico: não mostra a obra, mas faz uma alusão com imagens, vídeos e áudio. O visitante recebe um fone assim que entra e cada trabalho dispõe de recursos sonoros. Na midiateca, há cinco estações disponíveis para a apreciação de música e filmes. 
Indígenas, africanos, europeus e imigrantes de todas as partes do mundo formam o brasileiro. Na sala O Povo Mineiro, três cabeças simbolizam as raças da miscigenação. A técnica de projeção sobre uma superfície 3D dá a nítida impressão de que se está vendo uma cabeça gigante falando com você.

É estranho e bonito ao mesmo tempo. Na Minas Rupestres, inspirada na paisagem de Peruaçu (MG), crianças e adultos descobrem que é possível interagir com os desenhos arqueológicos. Passe a mão por um deles e se divirta vendo a imagem rodopiar diante de seus olhos.

Para falar da fundação de Belo Horizonte, há uma atração especial que conta como a cidade se ergueu sobre os escombros do passado, soterrando as velhas casas e ruas do antigo Curral del Rei. Crianças e até alguns adultos tomam um grande susto com os fantasmas que aparecem na sala Histórias de Belo Horizonte. Já em Modernismo Mineiro, formas arredondadas fazem homenagem à Casa do Baile, na Pampulha. Escolha um dos círculos coloridos projetados sobre a mesa e abra-o com um leve movimento de mão para descobrir o conteúdo. 

Visite
Museu das Minas e do Metal
l Visitação terças, quartas, sextas-feiras, sábados e domingos, das 12h às 17h, com permanência até as 18h. Todo último domingo do mês, a entrada é gratuita. Entrada: R$ 6 (inteira). 
» (31) 3516-7200
» mmm.org.br

Memorial Minas Gerais- Vale
l Aberto de terça-feira a domingo. Entrada gratuita.
» (31) 3343- 7317
» memorialvale.com.br

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