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segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Exemplar original pode ser visto no Museu Alemão de München

Mais de cem anos de frustração

Em 1885, na cidade alemã de Meinnheim, Karl Benz produzia o primeiro carro, com propulsão de motor a gasolina, segundo ciclo termodinâmico Otto. Este exemplar original pode ser visto no Museu Alemão de München. Naquela época, ao ver que seu invento funcionava, Karl Benz, exultante, invadiu a cozinha de sua residência e participou à Frau Benz que havia produzido um veículo que andava sozinho, sem precisar ser puxado por cavalos. Para sua decepção, ao invés de receber os elogios, compatíveis com a sua excitação, ouviu a seguinte frase: “Por que você fez isto, se ainda existem cavalos à venda? Seu invento não tem futuro”. Foi o primeiro motorista frustrado do mundo.

Contrariando Frau Benz, seu invento frutificou e, como assustava os pedestres e os condutores dos veículos de tração animal, na Inglaterra foi editada a lei, conhecida como o “Red Flag Act”, que obrigava a que toda carruagem sem cavalos, com propulsão própria, fosse precedida por um homem a pé, portando uma bandeira vermelha, alertando a todos que atrás dele vinha um carro com propulsão própria, com a velocidade máxima de 10 milhas por hora.

Foram centenas de motoristas frustrados por esta limitação legal, e, mais ainda, o infeliz que portava a bandeira, segundo a foto que ilustra o fato, no livro The history of motor car, pois apresenta uma fisionomia bastante triste. Esta lei durou até 1896, quando a limitação de velocidade, agora em 20 milhas, passou a ser exigida por sinalização e pela consciência dos frustrados motoristas. Pelo número de acidentes e o perigo que representava, o novo invento foi tratado como caso de polícia até que, em 1926, nasceu, nos Estados Unidos, a engenharia dedicada ao tráfego, com o propósito de adaptar as cidades ao seu novo habitante. Em 1935, um oficial da Scotland Yard, diretor de trânsito em Londres, produzia um livro que ensinava a nova ciência, para controlar o trânsito, englobando o uso de todos os recursos de engenharia, filosofia, esclarecimento e policiamento .Nascia aí a ciência do controle do trânsito, inventada por Sir Alker Tripp, tentado minorar, através de medidas construtivas, a frustração dos motoristas, fruto das limitações impostas pelas restrições legais.

Em 1904, Henry Ford produzia o primeiro carro de autopropulsão nos Estados Unidos, que ele viria a popularizar com a produção em linha de montagem, em 1912. O sucesso de vendas alcançado, com o barateamento do seu produto, Henry Ford atribuía-o à vaidade e à preguiça inerentes ao ser humano. Estas reações levaram, rapidamente, nos dias atuais, à maior frustração do dono do carro de passeio: a falta de mobilidade urbana.Esta só pode ser resolvida com o racionamento do exíguo espaço urbano disponível conseguida com a racionalização do uso inteligente deste espaço. Exatamente como fez a indústria da construção civil, substituindo as habitações monofamiliares, pelas multifamiliares, os prédios de apartamentos, como opção inteligente para a utilização inteligente e econômica de espaço.

Sem esta solução, os motoristas de hoje voltaram a circular nas nossas cidades com a velocidade igual à dos idos de 1895. Que lhes sirva de triste consolo saber que esta frustração tem mais de cem anos, nasceu com o motorista do primeiro carro, um triciclo, com motor a gasolina, seu inventor, o alemão Karl Benz.



*Celso Franco, oficial de Marinha reformado (comandante), foi diretor de Trânsito do antigo estado da Guanabara e presidente da CET-Rio. - acfranco@globo.com

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