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sábado, 3 de novembro de 2012

Jovens criam obras inspiradas na cidade e nas comunidades do RJ


Nem Cristo, nem Pão de Açúcar e nem Ipanema. Incentivados pelo programa Ação na Arte Urbana no Rio, oito grupos de jovens se dedicaram a criar instalações artísticas inspiradas em um tipo de espaço que passa longe das tradicionais imagens de cartão postal da cidade: as favelas.
O programa faz parte do Fundo Carioca, um braço da Brazil Foundation, e reúne jovens de 15 a 30 anos que se inscreveram no edital lançado pela fundação na metade do ano. Agrupados por proximidade e tendo a ajuda dos artistas Alexandre Vogler, Gugo Ferraz e do grafiteiro Márcio SWK, as equipes passaram dois meses debatendo formas de expressar graficamente as suas inquietações referentes à realidade atual do Rio.
"A gente trabalhou com arte urbana, focando em grafite, escultura e pintura", explica o coordenador do projeto, Charles Siqueira. Para ele, um dos pontos mais importantes é criar redes de artistas além do eixo zona sul. "Não sei como o projeto vai ficar ano que vem, só sei que quero continuar trabalhando com eles. Eles já são artistas", afirma ao citar alguns dos trabalhos realizados.
"A ideia é tratar do Rio em geral, mas com um olhar para a comunidade. Com o que tem de bom, de importante acontecendo lá", acrescenta a coordenadora do Fundo Carioca, Eliane Birman, que promete novas edições do projeto para 2012.
Enquanto o grupo Central, que reúne moradores do Centro da cidade, morros da Providência e Santo Cristo, optou por fazer um "cavalo de troia", uma das equipes da Rocinha, que venceu o concurso, escolheu pintar um barraco de dourado a fim de discutir, entre outras coisas, a especulação imobiliária no morro.
"Queríamos fazer um questionamento sobre todas as transformações que estão acontecendo. Até que ponto esse 'presente de grego' é bom", explica Vinicius Vaitsmann, da Central. Ele e os colegas de grupo rechearam o seu cavalo andante - o projeto ganhou uma base e oito rodinhas - de bilhetes com anseios dos moradores e fizeram questão de levá-lo até o Aterro do Flamengo, meio termo entre a zona sul e o centro da cidade. "Todo mundo tem o cavalo de troia no inconsciente".
A equipe Norte, que conta com moradores das comunidades do Arará, Morro dos Macacos, Engenho Novo e Grajaú, preferiu eliminar até o registro físico ao tratar do processo das remoções das favelas em curso na cidade. Dezenas de casas verdes e amarelas construídas com madeira de pipa e papel de seda foram levadas aos ares por balões a partir do alto da favela da Mangueira a fim de "fazer desaparecer as memórias de gerações desalojadas de suas próprias histórias pela arbitrariedade de 'novas políticas'".
"Cada grupo lidou com as suas inquietações. No norte eles decidiram que como não iriam ficar no local não fazia sentido fazer algo permanente", ressalta Charles.
Já em Santa Teresa, o olhar voltou-se para a comunidade que ganhou uma escadaria colorida, misturando afeto e protesto. "A gente caminhou a comunidade inteira atrás de um espaço em que pudéssemos fazer um trabalho que durasse o tempo que tivesse que durar, para mostrar que esse espaço precisa de carinho, de cuidado", diz Victor Damado ao mostrar os desenhos, que se unem criando a ilusão de um palhaço movimentando marionetes escada acima.
Tão importante quanto o resultado foi o processo, documentado em vídeo e fotos por jovens que participaram do edital do Fundo Carioca no ano passado. A própria comissão de jurados, que inclui o estilista Oskar Metsavaht, o diretor de animação Carlos Saldanha, o artista plástico JR, além de uma equipe da LCM Commodities, patrocinadora do evento, julgou o material online, transformado a partir desses registros em um minidocumentário e galerias no site Flickr.
Prêmio fica com Barraco do Ouro da Rocinha
Anunciado na sexta-feira (26) à noite, o vencedor do concurso foi o trabalho "Barraco de Ouro", da equipe Rocinha Oeste, que reúne moradores das favelas Rocinha e Rio das Pedras e dos bairros de São Conrado e Recreio dos Bandeirantes.
Um barraco localizado no alto da comunidade foi pintado de dourado a fim de lembrar uma barra de ouro encravada no morro. "Nosso objetivo inicial era criar algo que causasse impacto, que fosse viral, mais do que um simples grafite", explica Gabriel Carvalho.Ferreira, um dos quatro integrantes do Rocinha oeste.
Segundo Ferreira, o projeto surgiu de discussões sobre valores e a relação com a especulação imobiliária no morro. "A Rocinha é uma comunidade estratégica, localizada numa área da cidade que recebe muita atenção. Onde está a riqueza? Na comunidade? Quanto custa o trabalho do morador? Tem gente que gasta R$ 2 mil num pingente de ouro... Quanto seria uma casa de ouro?", questiona.
O grupo também espalhou "pepitas de ouro" feitas de gesso e spray dourado em pontos estratégicos da favela como esgotos e valas cheias de lixo que vão contra a ideia de progresso total trazida pela pacificação.
Com o prêmio, dois integrantes do grupo ganharam uma viagem a Nova York, sede da Brazil Foundation, onde irão acompanhar uma exposição digital das obras em uma galeria de Manhattan. O plano é trazer a exposição para o Rio no fim do ano.
O grupo Central, que reúne moradores do centro do Rio de Janeiro, morros da Providência e Santo Cristo, optou por fazer um cavalo de troia. Foto: Mauro Pimentel/Terra
O grupo Central, que reúne moradores do centro do Rio de Janeiro, morros da Providência e Santo Cristo, optou por fazer um "cavalo de troia"


fonte:http://diversao.terra.com.br/arteecultura/noticias/0,,OI6274215-EI3615,00-Jovens+criam+obras+inspiradas+na+cidade+e+nas+comunidades+do+RJ.html

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