Ouvir o texto...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Museu alemão explica critério de seleção de obras a serem expostas

Em geral, apenas um quarto do acervo dos museus é exposto. Andreas Blühm, diretor do Museu Wallraf-Richartz, explica que a arte é como o futebol: algumas obras ficam na linha de frente, outras no banco de reservas.

 


 
O conceito da mostra Panóptico – Os Tesouros Ocultos do Wallraf é baseado na rotatividade: a obras são expostas e depois retornam ao depósito localizado no porão do Museu Wallraf-Richartz, de Colônia, cidade do oeste alemão. Ali, elas ficam armazenadas por trás de grades maleáveis, amontadas em um espaço reduzido.
Quando a mostra atual, que tem agradado muito ao público, se encerrar, dentro de uns dias, as centenas de obras vão desaparecer novamente, explica Andreas Blühm, diretor do museu: "A razão mais importante de todas é que não dispomos de espaço suficiente para mostrá-las todas sempre".
Boa cota
Obra de Simon Meister: digna de ser exposta?Obra de Simon Meister: digna de ser exposta?Quase todos os museus alemães, ou praticamente os museus de todo o mundo, expõem apenas uma pequena parte de seus respectivos acervos. O Museu Wallraf-Richartz, que comemorou há pouco seu 150° aniversário, integrou por isso a mostra Panóptico em sua programação. O museu conta com um acervo de aproximadamente duas mil obras. Apenas um quarto deste material pertence à exposição permanente da casa; o resto fica armazenado no depósito do museu.
A cota de 25% nem é tão ruim assim, diz Blühm. Há outros museus com mais dificuldades de expor suas obras, pois têm ainda menos espaço. O que vai, então, para as salas de exposição e o que fica no porão? "Como não há espaço suficiente, precisamos sempre fazer uma seleção", explica Blühm. Esta seleção representa, ao mesmo tempo, a arte e a dificuldade de um museu. "O que deve ficar exposto? O que deve ser exposto só às vezes e o que nunca deve ficar à vista?", questiona o diretor.
Há, contudo, outras razões além da falta de lugar. Muitas obras ficam eternamente armazenadas no depósito, pois não correspondem mais ao gosto predominante da época. Ou porque a história da arte as ignorou. Blühm lembra que o estilo predileto em uma determinada época está sempre mudando. Como exemplo ele cita a "pintura acadêmica" do século 19, que foi oprimida pelo Impressionismo.
Na verdade, aponta Blühm, seria preciso expor novamente este tipo de pintura – um estilo de arte que obedecia a regras extremamente formais e estéticas, sobretudo "realistas". A mostra atual Panóptico expõe algumas dessas obras. São pinturas em grande formato, contendo cenas da política oficial ou de conteúdo religioso, denegridas hoje como "de má qualidade".
Predileção pelos impressionistas
Obras do acervo agora expostas ao públicoObras do acervo agora expostas ao públicoNo entanto, quem hoje em dia que ver a representação gigantesca de uma Nossa Senhora ou uma coroação de rei, quando é possível observar as paisagens delicadamente pontuadas ou os panoramas brilhantes de cidades dos grandes impressionistas? Por outro lado, isso não deveria fazer com que um museu passasse a expor somente obras de impressionistas "populares", ignorando completamente uma arte que agrada a menos gente.
O museu Wallraf-Richartz, que dispõe de um número respeitável de obras impressionistas, tenta atingir uma mistura equilibrada entre os estilos, já que é meta da casa apresentar, mesmo que parcialmente, a história da arte. O museu de Colônia possui também mais obras de mestres reconhecidos do que conseguiria expor, como por exemplo de Wilhelm Leibl, nascido na cidade. No caso de artistas como este, as obras vão sendo trocadas e vale o princípio da rotatividade.
Um dos resultados concretos a que levou a mostra Panóptico é a transferência de algumas obras para a exposição permanente do museu. O monge cantante, de Carl Spitzweg, é um exemplo. Blühm conta que ele e sua equipe se perguntaram por que esta obra não fazia ainda parte da exposição permanente.
Vencedor surpreende
Obra de Henri Martin no museu de ColôniaObra de Henri Martin no museu de ColôniaA equipe de especialistas do museu convida todos os visitantes a nomearem sua obra preferida. "Tivemos uma grande surpresa neste sentido", conta Blühm. A pintura de Walter Firle, intitulada Dê a nós a nossa culpa, a maior obra de toda a exposição, que retrata uma cena no campo, no século 19, foi a mais escolhida. A pintura mostra uma mulher jovem, que retorna à casa dos pais. "É provável que se trate de uma 'menina perdida', um romantismo social típico do século 19", supõe Blühm. O Monge de Spitzweg ficou em terceiro lugar, atrás da pouco espetacular, mas atmosférica paisagem de floresta de Christian Rohlf. Outra supresa para os curadores da mostra.
Mas os museus se orientam por tais resultados? Trata-se de uma fórmula para um "museu democrático"? "Sim e não", responde Blühm, acentuando que o exercício da profissão de curador torna os profissionais um pouco cegos com o passar do tempo. De tão especializados, eles ficam convencidos de saber sempre quais obras devem ser expostas e quais não.
"É preciso levar o público a sério, vale a pena", defende Blühm. Mesmo que não se curvem sempre ao julgamento do gosto do público, "os historiadores da arte não podem monopolizar o discurso sobre a arte", completa o diretor. O melhor, segundo ele, é um meio-termo. Esta é também a mensagem da mostra Panóptico – Os Tesouros Ocultos do Wallraf : lidar com a arte de forma que satisfaça os especialistas de um lado e o público do outro.
Autor: Jochen Kürten (sv)
Revisão: Francis França

fonte: