Quem visita a 15ª Festa do Mar, nos pavilhões do Porto Velho de Rio Grande, tem a oportunidade de conhecer o resultado da restauração e interpretação no novo item do acervo do Museu Náutico, da Universidade Federal do Rio Grande (Furg) - o veleiro "Rebôjo". Com 55 anos de idade, o barco tem 9,10m de comprimento, dois mastros, deslocamento de três toneladas e encanta pela beleza das formas.
Trata-se de um veleiro utilizado não
apenas como uma embarcação de recreio dos proprietários. Conforme o
diretor do Complexo de Museus da Furg, Lauro Barcellos, o "Rebôjo" fazia
mesmo as vezes, de fato, de um verdadeiro barco-escola de toda uma
geração de navegadores da região.
A construção do "Rebôjo" teve início em
1958, por iniciativa de dois amigos navegantes - Carlos Hermes Lehn e
Nésio Ferreira Martins. O projeto do argentino Manoel Campos era muito
adequado à navegação na Lagoa dos Patos, dadas as similaridades com o
Rio da Prata, para o qual o projeto fora originariamente desenhado,
notadamente em função do pouco calado.
No início da construção, foi muito
importante a participação de Mendes Neto, proprietário de
estabelecimento comercial de materiais de construção, que possibilitou,
para aquisição da madeira a ser empregada, prioridade na escolha de
madeira selecionada do interior de três vagões de trem da Viação Férrea
do Rio Grande do Sul (VFRGS). Assim, foi possível a obtenção de madeiras
nobres nas medidas adequadas.
Para a quilha e escantilhões foi
utilizada grápia; nas cavernas e sarretas, bem como no fundo,
empregou-se louro. Costado e cabine foram feitos em cedro. Rodas de proa
e popa de angico e, para o convés, compensado naval, este uma novidade à
época.
Apesar de ambos os sócios terem
experiência em carpintaria, não o tinham em construção naval. Por isto,
foi indispensável a participação de outro amigo, Estevão Plana Martins
Jr. - o Estevinho - grande mestre e carpinteiro da ribeira, que dominava
a técnica de queimar as tábuas do costado, cujo emprego era necessário,
dado o pronunciamento da curvatura das tábuas.
De acordo com Lauro Barcellos, dentre
algumas das dificuldades, é digno de nota o fato de não se contar, à
época, com brocas de aço rápido para a furação de aço inox, o que era
feito mesmo com o emprego de brocas de aço carbono, à razão de uma broca
para cada dois furos. Outro fato peculiar foi a adaptação de uma
máquina de fabricar pregos pertencente à Leal Santos S/A, para
possibilitar a confecção de rebites de cobre, tendo sido utilizados
3.600 deles apenas no costado, uma vez que no fundo foram usados
parafusos de latão.
O "Rebôjo" teve de ir para a água em
1964, com o interior inacabado improvisado, por ocasião da mudança da
sede do Rio Grande Yacht Club (RGYC), que da doca da usina elétrica, no
final da rua 24 de Maio, cujo terreno tinha de ser entregue, passou para
as atuais instalações do clube, ao lado de onde, atualmente, se situa o
Museu Oceanográfico.
"Desde então", conta Barcellos, "até
meados dos anos 1980 não foram poucos os velejadores que aprenderam, sob
o comando do mestre Nésio, oriundo de uma família de navegadores das
lagoas da região, acerca da náutica e da vida."
fonte:
http://www.jornalagora.com.br/site/content/noticias/detalhe.php?e=3&n=41569
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