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quinta-feira, 18 de abril de 2013

No Museu do Vaqueiro



Há tempo que Paulo Balá programava uma ida ao Museu do Vaqueiro, me metendo na excursão até à Fazenda Bom Fim, de Marcos Lopes, em cujos tabuleiros, além do Forró da Lua e a mata ao lado para a pega do boi, tem agora o museu. Foi inaugurado em dezembro do ano passado, um projeto que ele trabalhava há mais de dez anos. Segunda-feira agora aconteceu a visita. Pegamos a estrada, coisa das três da tarde: Paulo, Cassiano Bezerra, Peri Lamartine e eu. Os três vaqueiros, derrubadores de boi. Eu, não. Mas tenho um neto, Tibério, que já pratica o esporte da vaquejada pelas ribeiras do Potengi. De Natal até o Bom Fim não dá 40 minutos.

Foi um dia e tanto. Imagine o prosear do doutor Paulo Balá trocando histórias com Peri, aqui e acolá aparteados por Cassiano reavivando a memória dos dois primos. Isso enquanto o carro ia pela BR-101 no rumo de São José de Mipibu, onde fica o feudo de Marcos Lopes, fazenda que se estica até a beira da Lagoa do Bomfim. Logo na entrada, a 1,5 km da rodovia (na altura da Polícia Rodoviária), está o museu, um espaço que não se limita apenas a réplica de um belo casarão do século 19 (Fazenda Poço Verde, da Serra de João do Vale, em Campo Grande) que ele construiu e nele instalou o Museu do Vaqueiro. Os seus arredores integram o projeto. A gente vai chegando e vendo a estátua de Luiz Gonzaga, erguida no pátio, saudando o visitante.

O projeto do museu seguiu todas as normas e exigências da museologia e teve o apoio da Cosern, através da Lei Câmara Cascudo. É um espaço cultural que precisa ser visto por todos que gostam e se interessam pelas coisas do sertão do Nordeste, cuja cultura está ali representado pela figura maior do vaqueiro, o primeiro a desbravar a caatinga, no rasto do boi, fixando o homem ao redor de seus currais. Você anda pelo casarão (tem sótão amplo) e vê as pegadas de Oswaldo Lamartine, Luís da Câmara Cascudo, Fabião das Queimadas, Newton Navarro, entre tantos figurões de nossas letras e artes, ao lado de outros artistas populares, cantadores e contadores de todas essas histórias do sertão. Belas fotografias em painéis bem expostos no interior do casarão e em seus alpendres. Toda a arte do couro: selas, arreios, chapéus, gibões, guarda-peitos, luvas, perneiras, sapatos, todo o encouramento do vaqueiro. Mais as esporas, os ferros de marcar o gado, os estribos, os loros, as esporas. Pela casa vê-se seus móveis, bancos toscos, os apetrechos da cozinha e de queijeira, os tachos, pilões, jarras de barro, panelas.

Ficamos encantados com o que vimos. O museu mantém uma escola de jovens sanfoneiros e entre suas relíquias tem uma sanfona doada por Dominguinhos, um projeto que reúne jovens daqueles sítios no aprendizado da música. Já era noite quando Marcos Lopes mandou botar a mesa num dos alpendres, um lanche bem sertanejo: sucos de cajá e mangaba, bolacha, tapioca com bastante coco, bolo de macaxeira e um carneirinho guisado, café. Delícia, gente! Aí, achando pouco, Marcos pegou a sua sanfona, Zé de Goreti, o pandeiro, e Coroné, o triângulo. Do trio, afinado, fomos brindados com a melhor – a verdadeira – música nordestina. De Luiz Gonzaga a Sivuca, passando por Jackson do Pandeiro e Elino Julião, dos que vou me lembrando agora. Lá fora se via a luz de Natal, não muito longe, tomando conta do céu. 


fonte:
http://tribunadonorte.com.br/noticia/no-museu-do-vaqueiro/247956

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