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terça-feira, 4 de junho de 2013

Camboja pressiona museus norte-americanos para devolverem antiguidades


O país procura por objetos que tenham sido adquiridos após 1970, quando um período de 20 anos de guerra civil e genocídio deram aos ladrões passe livre para saquear os templos antigos



Estimulado pela decisão do Metropolitan Museum of Art (Met), em maio, de devolver duas estátuas roubadas, o Camboja está pedindo a outros museus que examinem quaisquer antiguidades khmer que tenham adquirido depois de 1970, quando um período de 20 anos de guerra civil e genocídio deram aos ladrões passe livre para saquear os templos antigos do país.
— Nós estamos pedindo a ajuda de todos os museus e colecionadores americanos, para que, caso mantenham essas estátuas ilegalmente, devolvam-nas ao Camboja — disse recentemente Ek Tha, porta-voz do Conselho de Ministros, órgão de governo da nação. Eles — deveriam seguir o exemplo do Metropolitan Museum of Art — completou.
Centenas de antiguidades cambojanas estão em museus americanos, bem como nas mãos de instituições estrangeiras e colecionadores particulares. Muitas foram adquiridas depois de 1970 e não têm registros de como deixaram o Camboja.
Autoridades cambojanas disseram ter um interesse particular em estátuas que elas acreditam terem pertencido ao templo onde ficava a dupla de estátuas do Met e que supostamente teriam sido levadas ilegalmente depois de 1970.
O templo, com mais de mil anos, chamado Prasat Chen, exibia dois grupos de narrativas de esculturas ilustrando contos de épicos hindus. Os grupos tinham cerca de uma dúzia de estátuas ao todo, e seis delas foram rastreadas nos Estados Unidos.
O Camboja alega que o Denver Art Museum, o Cleveland Museum of Art e o Norton Simon Museum em Pasadena, Califórnia, têm, cada um, uma estátua ligada ao Prasat Chen. Duas outras estátuas, um par de "atendentes ajoelhados" que guardavam a entrada das galerias asiáticas do Met, serão devolvidas no próximo mês.
Uma sexta estátua, que é assunto de um caso no tribunal federal em Nova York, está em poder da Sotheby's, que a retirou da lista de objetos para leilão em 2011, depois de uma reclamação do Camboja. O Ministério da Justiça dos Estados Unidos pretende apreender a estátua em nome do Camboja, mas representantes da Sotheby's dizem que ela foi adquirida legalmente por seu dono.
A casa de leilões disse não acreditar que a decisão do Met afetará o caso. Especialistas dizem, entretanto, que a devolução provavelmente gerará pressão sobre os outros três museus para rever a procedência de suas estátuas.
— Se outros museus forem confrontados com o tipo de evidência que o Met recebeu, eu acredito que as ações do Met irão servir como um exemplo apropriado a ser seguido por eles — disse Stephen K. Urice, professor adjunto e especialista em patrimônio cultural e legislação de museus na Escola de Direito da Universidade de Miami.
O Norton Simon Museum diz estar cooperando com as autoridades federais que o interrogaram sobre sua estátua como parte de sua investigação sobre a procedência da estátua em poder da Sotheby's.
Não houve sugestão de desonestidade por parte de nenhum dos museus, nem os mesmos reconheceram, como fez o Met, que os itens vieram de Prasat Chen e que sua procedência possa ser questionável. Muitos colecionadores da arte khmer dizem que seus esforços e os dos museus de fato serviram para resguardar as estátuas que poderiam ter sido destruídas durante os anos de guerra no Camboja.
A decisão do Met veio depois que dois funcionários visitaram o Camboja e voltaram convencidos de que seus itens foram saqueados de Prasat Chen, parte de um vasto complexo na selva chamado Koh Ker. Foi o trono do império khmer de 928 a 944, mas agora é uma remota coleção de ruínas cercando uma pirâmide de 110 metros a cerca de 330 metros a nordeste de Phnom Penh.
Kristy Bassauner, porta-voz do Denver Art Museum, disse que a estátua Rama foi adquirida em 1986 com dinheiro de vários clientes. Ela disse que o museu não tem mais nenhuma informação sobre sua procedência.
— O museu está comprometido com novas pesquisas sobre a história e a procedência de objetos em sua coleção — disse ela — Se o museu descobrir novos fatos relacionados a essa peça, terei prazer em compartilhar essa informação.
Questionado sobre a procedência de Hanuman, David Franklin, diretor do Cleveland Museum of Art, apontou as informações no site do museu, que dizem que a figura foi adquirida em 1982 com dinheiro da Fundação Leonard C. Hanna Jr.
— É a política do museu não discutir publicamente o conteúdo desses tipos de interrogatórios — completou ele — a menos que haja uma resolução definitiva.
A fundação não retornou a ligação em busca de comentários.
Especialistas dizem que a estátua no Norton Simon, conhecida como Bhima, ou lutador, vem de um segundo grupo, a cerca de 60 metros de distância, que retrata sua luta com Duryodhana, conforme contada no épico hindu Mahabharata. A estátua Duryodhana agora pertence à Sotheby's.
As duas estátuas do Met representam os irmãos de Bhima que se ajoelharam durante a luta. As estátuas do Met foram obtidas de doadores em quatro partes, entre 1987 e 1992. Sabe-se que essas estátuas, mais a que está com a Sotheby's, passaram por um comerciante de artes de Londres, Spink & Son, no começo dos anos 1970.
Autoridades cambojanas dizem que os pedestais quebrados de todas essas esculturas foram deixados no chão pelos saqueadores.
O secretário de estado do Camboja, Chan Tani, disse que a pilhagem do Koh Ker é especialmente arrasadora porque seu estilo de fabricação não existe em mais nenhum lugar.
— Elas são parte da nossa alma e da nossa nação — disse ele — e foram brutalmente roubadas.
THE NEW YORK TIMES NEWS SERVICE

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