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terça-feira, 23 de julho de 2013

Museu itinerante leva cultura e arte a comunidades da periferia de Maceió


Museu Cultura Periférica surgiu em 2009 e hoje possui cinco núcleos.
Projeto valoriza a história de comunidades a partir da visão da população.


Os dicionários costumam definir os museus como sendo coleções de objetos de arte, cultura, história ou lugares destinados à reunião desses materiais. E esse conceito estático já foi absorvido por nós. Mas em Maceió um grupo que atua em diversas comunidades da capital trabalha com uma proposta bem diferente: um museu móvel, itinerante. A coleção é composta pelas histórias da população a partir do olhar da própria comunidade.
Exposição "Memória que o vento não levou..." foi feita na  feirinha do Jacintinho, em dezembro de 2012. (Foto: Divulgação)Exposição Memória que o vento não levou... foi feita na feirinha do Jacintinho, em dezembro de 2012.
(Foto: Divulgação)
Estamos falando do 'Museu Cultura Periférica', um ponto de memória que realiza atividades de cidadania com o objetivo de valorizar as lembranças sociais. Ele não tem sede e o diferencial é exatamente a possibilidade de estar em múltiplos lugares.

Assim, o que interessa mesmo são as ações, realizadas pelos cinco núcleos em que se divide, em diversos locais da cidade. São exposições, exibição de filmes brasileiros e documentários construídos a partir de elementos da comunidade, apresentações culturais, palestras sobre memória cultural em escolas públicas, tudo construído sob a ótica das histórias da comunidade.

A ideia surgiu em 2009 a partir do programa Pontos de Memória, desenvolvido pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), em parceria com o governo Federal, como explica Viviane Rodrigues, consultora do núcleo presente no bairro do Jacintinho.

A iniciativa foi tão bem recepcionada que o museu sofreu uma ampliação. “Inicialmente os trabalhos se concentrariam apenas no Jacintinho, mas hoje Maceió conta com núcleos também na Zona Sul, que engloba os bairros da região lagunar, na Vila Emater II, na Vila de Pescadores de Jaraguá e existe também o recorte no hip hop, formado por grupos que praticam esse movimento artístico por toda a cidade”, explica Viviane.

A gerência do museu é feita por um grupo formado por pessoas dos locais onde os núcleos estão. “Foi criado um conselho gestor, composto por lideranças das comunidades onde os núcleos estão concentrados, e hoje esse grupo, após capacitações, coordena o museu e desenvolve as atividades, voltadas sempre à valorização e fortalecimento das tradições locais”, explica a consultora.
Algumas das integrantes do grupo de senhoras que participou de uma das edições do Chá de Memória. (Foto: Rivângela Gomes/G1)Algumas das integrantes do grupo de senhoras que
participou de uma das edições do Chá de Memória.
(Foto: Rivângela Gomes/G1)
Bebendo na fonte
Seria necessário produzir uma série de reportagens para que as ações realizadas pelo museu pudessem ser detalhadas uma a uma. Elas são muitas e todas merecem destaque. Mas uma chama atenção pela própria razão de ser, uma vez que ilustra bem a proposta do projeto.

O 'Chá de Memória', uma espécie de sarau de contos, reúne a convite do núcleo pessoas, muitas delas idosas, numa roda de conversa para partilhar relatos antigos sobre a comunidade e ajudar a reconstruir a história do lugar onde vivem ou viveram por muito tempo.

Ao todo, já foram promovidos quatro chás. Em uma das edições no núcleo do Jacintinho, o evento teve a participação de um clube de senhoras que existe há 13 anos e hoje conta com cerca de 30 frequentadoras. Nos encontros, feitos diariamente, as integrantes do grupo Boa Esperança conversam, fazem artesanato, trocam experiências e partilham aprendizados.

Durante a edição do chá, elas puderam compartilhar um pouco do que sabem sobre a comunidade e revelaram fatos existentes num conjunto de informações sobre o lugar que nunca foi escrito, apenas vivido: as lembranças.
Para a aposentada Margarida Oliveira, a oportunidade de contribuir para o museu foi muito significativa. “Participar do chá foi muito importante porque nós somos um pouco de história viva e pudemos compartilhar um pouco do que conhecemos para as pessoas que estavam participando”, comenta.

Registro virtual
À medida que as atividades foram sendo desenvolvidas, foi surgindo a necessidade de um espaço fixo para registro dos eventos promovidos. O grupo, então, criou o blog Museu Cultura Periférica. Lá abrigam fotos e descrições das ações promovidas. “O blog surgiu por causa da necessidade de mostrar as ações para além de quem vê. É uma maneira de manter vivas as ações e compartilhá-las também entre os que não compareceram em um determinado evento cultural”, explica Viviane Rodrigues.

Mas a proposta do museu não se confunde com a do blog, destaca ela. “Lá é um espaço para documentar o que promovemos. O museu em si é alimentado quando levamos as atividades para diversos pontos da cidade. A marca do projeto é a mobilidade”, frisa.
A consultora do núcleo do Jacintinho explica como foi montada a exposição Livres Olhares. (Foto: Rivângela Gomes/G1)A consultora Viviane Rodrigues do núcleo do Jacintinho explica como foi montada a exposição Livres Olhares.
(Foto: Rivângela Gomes/G1)
Resistência cultural
Mesmo diante de algumas dificuldades, o conselho gestor trabalha para manter o museu de pé. “Como não há recursos, as atividades não são tão frequentes como o grupo gostaria. Mas, como os núcleos já estão bem mais estruturados e a comunidade mais agregada, uma quantidade maior de atividades vêm acontecendo”, pontua a consultora.

Atualmente o Museu Cultura Periférica está apoiando a exposição “Livres Olhares: Memória em Permanência”, que exibe fotografias capturadas por crianças de 07 a 14 anos na Vila dos Pescadores do bairro do Jaraguá. O trabalho é fruto de uma oficina realizada em 2011 e apresenta a vida na vila sob uma perspectiva inocente e ao mesmo tempo crítica.

O trabalho fica em exposição no Memorial à República, localizado na Avenida da Paz, no Bairro de Jaraguá, em Maceió, até o dia 30 de Agosto. As visitações podem ser feitas de terça a sexta-feira, das 9h às 17h, e sábados, domingos e feriados, das 14h às 17h.

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