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domingo, 4 de agosto de 2013

A principal coleção de arte de Detroit está sob ameaça desde que a prefeitura da cidade entrou em concordata (acordo para evitar a falência).

Em junho passado, o interventor estadual pediu um inventário da coleção do Instituto de Artes de Detroit (DIA, da sigla em inglês). O museu pertence à prefeitura local.


Visitantes passam em frente ao mural de Diego Rivera, no Instituto de Artes de Detroit, nos Estados Unidos




“Os credores querem conhecer todos os ativos que a cidade possui, mas não estamos pensando no momento em vender as obras”, afirmou o interventor Kevyn Orr.

Mas a casa de leilões Christie’s já entrou em contato com o museu para avaliar as obras, supostamente a pedido de credores.

Isso foi o suficiente para detonar uma discussão se valeria a pena se desfazer de obras-primas de Van Gogh, Matisse ou Rembrandt para pagar as dívidas da cidade (equivalentes a R$ 46 bilhões) ou para “proteger as aposentadorias dos funcionários públicos”, como sugeriram sindicalistas.

Críticos de arte da cidade já chamaram as casas de leilões de “abutres” e o presidente do museu Metropolitan de Nova York, Thomas Campbell, disse que qualquer venda seria uma “liquidação destrutiva”.

O presidente da Associação Americana de Diretores de Museus, Tim Rub, que dirige o Museu de Filadélfia, até mandou carta ao governador de Michigan pedindo explicações. Espera-se uma batalha legal se o governo confirmar o leilão.

Hoje, mais de um terço das luzes nas ruas de Detroit está apagado, metade de seus parques está fechada e a cidade apresenta o maior índice de homicídios nos EUA (54,6 por 100 mil habitantes -São Paulo, teve 11,5 no ano passado).




RIVERA E FORD

Fundado em 1868 e com uma sede de 61 mil m² (cinco vezes a Pinacoteca de São Paulo), o DIA exibe a opulência dos tempos em que Detroit era a quarta maior cidade americana e rica com a indústria automotiva.

Dois gigantes murais de Diego Rivera estão no salão principal, que foram encomendados e pagos pela família Ford nos anos 1930.

A coleção enciclopédica de 67 mil obras vai de antiguidades romanas e gregas e uma coleção de armaduras medievais à arte contemporânea, com obras de Gilbert & George, Anselm Kiefer, Frank Stella e Marina Abramovic.

As obras mais valiosas, segundo especialistas, são “A Janela”, de Henri Matisse, “Dança de Casamento”, de Bruegel, o velho, “Os Sonhos dos Homens”, de Tintoretto, e duas de Van Gogh, um auto-retrato e o “Retrato do carteiro Roulin”, todas avaliadas acima de US$ 100 milhões (cerca de R$ 230 milhões).

Mas a coleção ainda tem sete obras de Picasso, uma de Velázquez e outra de Rembrandt –que, se leiloadas ao mesmo tempo, poderiam perder valor. No acervo, há ainda um quadro de Cândido Portinari, “Gado”, de 1939.

A crise da cidade já afetou diversas vezes o museu. O orçamento foi reduzido em quase um terço, de US$ 34 milhões em 2008 para US$ 25 mi no ano passado –com demissões de vários funcionários.

Três condados da região metropolitana de Detroit aprovaram no ano passado, em plebiscito, um aumento no imposto de propriedade urbana (o IPTU local) durante os próximos dez anos para transferir fundos ao museu -garantindo US$ 22 milhões ao ano. Até então, quase todo o orçamento vinha de doações, por conta dos cortes municipais.

O primeiro efeito, até agora, do risco de leilão da valiosa coleção, é que o museu vive mais cheio que nunca.

Anualmente, recebe 600 mil visitantes, bastante para uma região metropolitana de 4 milhões de habitantes (o Masp recebe 800 mil por ano, em uma região metropolitana de 20 milhões).
Funcionários do museu dizem que a frequência dobrou nas últimas duas semanas.

O DIA possui pilhas de banquinhos dobráveis nas principais esquinas das salas, que os frequentadores podem pegar e posicionar na frente de sua obra favorita para minutos de contemplação ou descanso.

Na quarta-feira passada, por exemplo, havia poucos banquinhos disponíveis.

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