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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A dinâmica dos percursos da arte


SÃO PAULO - A intensa movimentação de mostras que se revezam nas galerias, nos espaços oficiais como museus e locais alternativos possibilita ao espectador um espectro das tendências da arte com suas linguagens multifacetadas que compõem a complexidade da criatividade estimulando reflexões.

A mostra “Work” de Klaus Mitteldorf no Museu de Arte Brasileira da Faap (Rua Alagoas, 903, Higienópolis) cobre 30 anos do percurso de um dos fotógrafos mais atuantes com suas fases representativas que formalizam um olhar estreitamente vinculado ao valor do estético, propulsor de linguagens requintadas onde o elemento água marca presença com transparências que se lançam na luz natural. Reunindo 300 fotos numa montagem grandiosa que empolga o visitante deve-se observar que a carreira de Klaus começou bem cedo, sua paixão pela fotografia começou aos 12 anos com uma câmera Yashica, mas o surfe também teve presença marcante ao realizar um documentário sobre o tema. Como surfista foi um dos pioneiros do litoral brasileiro. Badalado por suas fotos publicitárias teve uma de suas séries “O Último Grito” como ganhadora do Festival de Higashikawa do Japão.

O uso das cores na obra de Mitteldorf é predominante, um visual extremamente pop que chega a dialogar com mestres da fotografia do começo do século XX como Lartigue e com a pintura de Francis Bacon.

Uma das imagens, talvez mais marcantes, possui raízes surrealistas incontestáveis ao visualizar uma menina com os dois olhos encobertos por uma borboleta azul. A modelo foi a atriz Ana Paula Arósio, aos 12 anos, com uma máscara de teatro Nô. Destacam-se no belíssimo rosto os lábios vermelhos sensuais que seduziram quatro anos depois o ator Ben Gazzara no filme “Forever” (1991) do diretor Walter Hugo Khouri.

Utilizando vários artifícios para conseguir os efeitos da deformação fotográfica, como lentes, lupas, óculos entre tantos recursos, acaba penetrando na intimidade das pessoas retratadas, descobrindo a sua própria identidade, uma projeção do seu próprio ego.

A distorção formal e a saturação cromática se aliam em certo sentido com o modernismo brasileiro captando a alma tropical do Brasil na exuberância de um colorido constante, existente na natureza e no cotidiano das pessoas.

A série Introvisão exibida anteriormente na Pinacoteca em 2006 reúne um grupo de imagens de corpos transformados em composições abstratas totalmente envoltas por um ritmo cromático atraente. O realismo das imagens é estruturado na deformação numa tendência que lida com as distorções causadas pela refração e reflexão da luz na água. Utilizando todos os artifícios possíveis para conseguir criar efeitos de um mundo essencialmente surrealista.

Sendo um esteta na sua pura expressão acaba criando imagens pictóricas como a releitura de uma famosa tela do pré-rafaelista inglês John Everett Millais (1829-1896) que enfoca Ofélia, personagem de Hamlet se afogando no rio. A série foi realizada quatro anos depois de Klaus usar duas modelos para criar uma simulação de uma escultura de Rodin. O fotógrafo tem dois lados bem significativos, um entrosado na Bauhaus, bem organizado e outro vinculado a uma anarquia cromática bem tropical.

Observando a excelente montagem da exposição percebe-se que o perfeito entrosamento do espaço com as obras evidencia uma harmonia impecável.

Seis décadas de arte

A Bienal de São Paulo (Parque Ibirapuera) apresenta uma mostra que pretende dar um novo olhar de sua contribuição em 30 edições desde 1951. Nota-se de forma incisiva que as bienais proporcionaram um intercambio artístico promissor em todos os sentidos com o que acontecia no mundo.


 A “30X Bienal –Transformações na Arte Brasileira” reúne 111 artistas selecionados pelo curador Paulo Venâncio Filho, fazendo um recorte representativo, partindo do construtivismo, passando pela abstração informal, pela pop arte e por tantos movimentos que contribuíram para modificar a cena artística nacional nesses últimos anos, uma panorâmica expressiva, que pretende ser um sopro vital na memória. Observando mais atentamente percebe-se que algumas lacunas poderiam ser evitadas.

 A falta da arte postal (mail art), que na 16º Bienal ocupava uma grande área, tendo como curador Júlio Plaza, deveria ter um destaque na mostra, por ser um movimento que contribuiu para o desenvolvimento de novas linguagens. Oportunamente, farei uma apreciação desta propalada retrospectiva das Bienais. Paralelamente, aos efusivos questionamentos das Bienais, uma exposição individual que merece ser apreciada é a de Marta Minujin na Galeria Pilar (Rua Barão de Tatuí, 389, Santa Cecília) especialmente uma série fotográfica na qual a artista argentina aparece ao lado de Andy Warhol, ela entrega ao ícone da pop arte espigas de milho. 

O título da obra é bem sugestivo: “O Pagamento da Dívida Argentina”, outras peças também se destacam demonstrando a sua grande importância no contexto artístico da América Latina.

Artes Plásticas
Artes Plásticas



fonte:
http://www.dci.com.br/shopping-news/a-dinamica-dos-percursos-da-arte-id364809.html

 

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