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domingo, 15 de setembro de 2013

Clarim que anunciava combates está em museu de São Gabriel




A corneta em bronze e cobre guardada no Museu Nossa Senhora do Rosário Bonfim teve papel estratégico na batalha farroupilha



A corneta anunciava todos os processos que o Exército farroupilha ia realizando em Santa Catarina, diz Maria de Lourdes da Silva, do museu Nossa Senhora do Rosário Bonfim Foto: Félix Zucco / Agencia RBS
Letícia Duarte

leticia.duarte@zerohora.com.br


Passados 178 anos do início da Revolução Farroupilha, a história se confunde com o mito que envolve as relíquias da época, como o clarim em bronze e cobre guardado no Museu Nossa Senhora do Rosário Bonfim, em São Gabriel.

Uma das versões correntes no município assegura que essa corneta teve um papel estratégico desde a primeira vitória dos farrapos, na tomada de Porto Alegre, em 20 de setembro de 1835.

A história contada de boca em boca narra um desfecho improvável: ao analisar a capacidade de reação dos imperiais, o comandante farrapo teria dado a ordem ao corneteiro para que anunciasse à tropa a necessidade de recuar. Mas o instrumentista teria se atrapalhado e dado um toque de "avançar", alterando os rumos do confronto. Apesar da confusão, os soldados farrapos teriam derrotado os inimigos, transformando o instrumentista em protagonista da conquista.

Os livros de história atestam que a atrapalhação estratégica no toque de clarim realmente aconteceu. Mas não na Guerra dos Farrapos, nem sequer no Rio Grande do Sul. O episódio teria sido decisivo para um outro combate, ocorrido na Bahia. Treze anos antes. Foi na batalha de Pirajá, em 1822, quando o Brasil lutava contra Portugal para consolidar a independência nacional. O episódio, contado no livro Memórias Históricas e Políticas da Bahia pelo historiador Inácio Acioli de Cerqueira e Silva, apresenta a explicação da vitória brasileira em Pirajá como decorrente de um toque errado feito pelo corneteiro Luiz Lopes.



Mesmo não sendo tão ilustre como na versão mais popular, a corneta guardada em São Gabriel é considerada autêntica relíquia da Revolução Farroupilha. Os registros do museu atestam que foi doada pelo ex-governador de Santa Catarina Ptolomeu de Assis Brasil, em 1932. Mas o que um ex-governador catarinense tem a ver com a corneta dos farrapos? Simples. Ptolomeu era natural de São Gabriel e quis devolver ao Rio Grande do Sul o instrumento que teria sido levado para o Estado vizinho durante as ações militares que desencadearam a proclamação da República Juliana, em 1839. Assim, quase um século depois de ter anunciado combates, avanços e recuos de tropas dos farrapos que lutaram pela proclamação da república catarinense, a peça acabou retornando ao solo rio-grandense.

— Esta corneta sempre anunciava todos os processos que o Exército farroupilha ia realizando em Santa Catarina — afirma Maria de Lourdes da Silva, coordenadora da recepção do museu Nossa Senhora do Rosário Bonfim, que funciona numa antiga igreja da cidade, o primeiro prédio de alvenaria construído em São Gabriel, em 1817.

O historiador Osório Santana Figueiredo lembra que, naquela época, cada exército tinha a sua corneta — e o corneteiro andava sempre ao lado do comandante, cumprindo uma função importante.

— O clarim era um instrumento de guerra — define o pesquisador de 87 anos, morador de São Gabriel.

O corneteiro oficial dos farrapos foi Antônio Ribeiro, que era peão da estância de Bento Gonçalves e permaneceu morando na estância Cristal, em Camaquã, após o fim da guerra, em 1845. Quando morreu, com mais de 80 anos, teria sido enterrado com sua inseparável corneta, que tantos combates anunciou nos 10 anos da Guerra dos Farrapos. Tataraneto de Bento Gonçalves, o publicitário Raul Moreira diz que até o fim da vida Ribeiro manteve o hábito de tocar a corneta diariamente, como forma de homenagear o antigo líder, morto em 1847. Mas esta já é uma outra história.


fonte:
http://zerohora.clicrbs.com.br/rs/geral/semana-farroupilha/noticia/2013/09/clarim-que-anunciava-combates-esta-em-museu-de-sao-gabriel-4268962.html

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