Um laudo elaborado pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) diz que as obras de arte em poder da massa falida do Banco Santos correm risco de deterioração e recomenda a entrega do acervo a instituições museológicas. Os objetos estão abrigados em uma mansão na rua Gália, no bairro do Morumbi, em São Paulo, e compõem cerca de 600 peças.
Desde que foi despejado do imóvel, em 2011, o ex-controlador do Banco Santos, Edemar Cid Ferreira, acusa o administrador da massa falida, Vânio Aguiar, de descuidar da casa e dos objetos. A troca de farpas teve um novo capítulo no último dia 8 de agosto, quando o Ibram divulgou uma nota técnica a pedido do próprio administrador.
Diz o documento que a iluminação da casa é precária, que os sistemas de abertura de janela e de circulação de ar estão com problemas e que não há monitoramento técnico dos sistemas. “Esses fatores favorecem o aumento de umidade relativa do ar, provocando, indiscutivelmente, a proliferação de microrganismos que podem causar danos aos itens”, afirma a nota técnica.
“Esses fatores somados às demais possibilidades de ocorrência de agravantes para a gestão do acervo ali preservado, tais como sinistro, controle físico de itens (inventário) entre outros, sugerem que as instituições museológicas sejam os espaços mais adequados para a preservação desse conjunto”, continua o documento.
Apesar das críticas ao atual estado da casa, o documento reconhece que a existência de microorganismos nos objetos já havia sido constatada oito anos atrás. “Cabe ressaltar que microorganismos já haviam sido identificados em alguns itens de artes plásticas e fotografia, desde 2005, conforme demonstra o laudo pericial elaborado pelo Sr. João Carlos Lourenço e Sra. Maria Cristina Paranhos do Rio Branco”.
Briga de laudos
No ano passado, a empresa responsável por cuidar da casa, a Diálogo Administração, contratada pela massa falida, emitiu um laudo em que critica a construção e a arquitetura do imóvel, dizendo que os problemas de vazamento, insolação e mofo decorrem da falta de cuidado do antigo morador, Edemar Cid Ferreira.
“Os antigos inquilinos descuidaram-se da conservação e manutenção do imóvel, o que provocou rápida deterioração em vários aspectos da residência, em especial no que tange à automação, controles eletroeletrônicos e vazamentos hidráulicos”, diz a Diálogo.
Mesmo com todos esses problemas, a empresa diz que as obras não estão ameaçadas. “As manchas de mofo nos vidros e nas molduras apenas atestam as condições da casa, narradas nos itens anteriores, porém, não afetam a qualidade ou coloca em risco a obra em si.”
Além dos documentos da Diálogo, do Ibram e dos peritos designados pelo juízo em 2005, há ainda um laudo do MAC-USP, de 2011. Este último documento foi elaborado a partir de petição da massa falida para que o museu ficasse com 300 obras da mansão da rua Gália. Na seleção das peças, o MAC descartou 133 obras, contaminadas por fungos.
A Diálogo contesta o laudo do MAC e diz que muitas das peças apontadas como contaminadas já constavam da lista de obras com mofo e fungos elaborada pela perícia em 2005. “É nosso parecer que o MAC-USP utilizou-se de um expediente técnico, que ensejaria um debate pericial, para estabelecer um critério de escolha que fosse de encontro a seus interesses", disse a Diálogo.
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