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domingo, 19 de outubro de 2014

Um toque brasileiro no Museu d"Orsay

Com um dos mais importantes acervos da arte do século 19, museu localizado em Paris tem, entre seus coordenadores, a arquiteta carioca Virginia Fienga 

 
"As cenografias do Museu d"Orsay são consagradas pela crítica francesa. 
Eu tive a oportunidade de realizar dezenas delas", pontua Virginia Fienga - 
MARCOS ALVES / DIVULGAÇÃO


Considerado um dos mais relevantes museus do mundo, o Museu d"Orsay conta com uma brasileira entre seu quadro de chefia. A arquiteta carioca Virginia Fienga, que recentemente visitou Sorocaba, onde residem diversos de seus parentes, é chefe do departamento de museografia e arquitetura da instituição parisiense desde 2006. 

Em uma lista recém-divulgada pela Travelers" Choice Museus, que elencou os mais importantes museus do mundo, o D"Orsay aparece em 6º lugar. Com organização do TripAdvisor, considerado um dos maiores sites especializados em viagem do mundo, foram destacados 509 museus em 38 países. Essa seleção teve considerável repercussão no Brasil, já que trouxe dois museus brasileiros entre os 25 mais bem avaliados do mundo: Instituto Ricardo Brennand, em Recife (PE), na 17ª colocação, e o Instituto Inhotim, em Brumadinho, na Grande BH, no 23º lugar.

"O Museu d"Orsay é reconhecido pela riqueza e importância de sua coleção. Seu acervo o coloca como um dois mais importantes na arte do século 19 e seu renome é indiscutível. Mais importante que a classificação turística obtida pelo Museu d"Orsay é a qualidade da visita ofertada ao público e sua missão educativa: a democratização da arte entre os anos 1848 a 1914", explica Virginia, citando que o D"Orsay está entre os museus mais visitados do mundo. Estão em seu acervo nomes como Cézanne, Courbet, Degas, Delacroix, Gauguin, Manet, Matisse, Millet, Monet, Renoir, Sisley, Toulouse-Lautrec, Van Gogh, entre outros.

"Quanto às classificações dos museu brasileiros, elas são muito boas e a tendência é que haja aumento da visitação. Este fato ocorrerá graças à melhoria do nível de educação dos brasileiros e do aumento do turismo", explica, e acrescenta: "tive a oportunidade de visitar Inhotim e este integra hoje a lista dos melhores locais de referência de arte contemporânea no mundo. A potencialidade do espaço, entre riqueza artística e natural, é acrescida pela política de desenvolvimento social gerada pelo projeto em Brumadinho, numa conquista de identidade brasileira inclusive".

Em breve visita a Sorocaba, Virginia diz que infelizmente não teve a oportunidade de conhecer as propostas do Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (Macs), mas ao ficar sabendo que Pedro Mendes da Rocha está à frente do projeto arquitetônico de reforma e atualização do prédio anexo à antiga estação ferroviária da cidade (onde será a sede oficial do Macs), mostrou-se bastante positiva. "Paulo Mendes da Rocha é uma referência brasileira e internacional na reconversão e reabilitação de monumentos. A Pinacoteca de São Paulo é de enorme renome. Espero que o projeto de seu filho, Pedro Mendes da Rocha, possa ser gerador de grandes manifestações."

Virginia Fienga está intimamente ligada ao processo de repaginação pelo qual passou o Museu d"Orsay nos últimos anos e que resultou com o crescimento significativo de público. A transformação foi tão grande que o museu passou a ser conhecido como o Nouvel D"Orsay (novo D"Orsay). Em entrevista ao Mais Cruzeiro, ela explicou pontos importantes desse processo e falou das possibilidades de parcerias entre o museu parisiense e as instituições brasileiras. Confira:

O novo D"Orsay

Segundo Virginia Fienga, a chegada do novo presidente do Museu d"Orsay, Guy Cogeval, em 2007, foi determinante para a modernização da instituição. O prédio do museu data de 1900 e foi construído para ser uma estação ferroviária, que funcionou até os anos 1970. "Após a ameaça de demolição, o governo francês decidiu então em 1982, transformá-lo em museu do século 19", explica Virginia.

Em 1986, o museu foi aberto ao público. Porém, desde a criação, a instituição não tinha passado por mudanças ou reformas de seus espaços.

"Guy Cogeval, em 2009, resolveu modernizar seus espaços para atrair entre outros, mais franceses, que achavam já ter visitado o museu no passado, sem desejo de retornar a esta instituição cultural", explica. A ideia surtiu resultado e, desde 2012, os franceses são majoritários em relação aos estrangeiros. Hoje, o museu recebe anualmente mais de 3,6 milhões de visitantes.

A renovação dos espaços visou garantir uma melhor qualidade de visita do público e consequentemente melhor fruição das obras dos impressionista e pós-impressionistas. "Quatro grandes operações coordenadas por mim e pelo meu departamento foram efetuadas neste período: a galeria dos Impressionistas foi revista pelo arquiteto Wilmotte, o Pavillon Amont pelo Atelier de l"Ile, o restaurante pelos Irmãos Campana e eu assinei o projeto de renovação da galeria e terraço dos pós-impressionistas Van Gogh e Gauguin", explica.

Outro aspecto importante desta reforma se refere a trazer toques contemporâneos a um museu com obras que vão de meados do século 19 ao início do século 20. E daí o papel do design foi fundamental, trazendo ares modernos ao espaço que abriga a instituição. "Meu projeto de interior para o Café de l"Ours no térreo do museu mistura linhas puras do mobiliário com a última criação do lustre de Andrée Putman [renomada designer de interiores francesa falecida em 2013]. A geração do século 21 é ainda evocada no design do mobiliário museográfico nas salas do museu."

Van Gogh / Artaud: recorde de visitação

A cenografia do ambiente de uma instituição museológica deve estar a favor da valorização das obras de arte. E esse objetivo tem sido muito bem desempenhado pela brasileira, que coleciona críticas positivas de seu trabalho frente ao D"Orsay. "As cenografias do Museu d"Orsay são consagradas pela crítica francesa. Eu tive a oportunidade de realizar dezenas delas."

Recentemente, Virginia Fienga atuou como cenógrafa da exposição Van Gogh/Artaud, realizada neste ano. A exposição bateu recorde de frequentação, com quase 700 mil pessoas. Para o final de 2014, ela prepara a cenografia da mostra 7 anos de reflexão, com a apresentação das mais significativas aquisições desses últimos sete anos do Museu d"orsay. "Obras primas como Degas, Maurice Denis, Bonnard, Vallotton, entre outras, estarão na mostra", adianta.

Propostas para o Brasil

Considerada uma das maiores exposições dos últimos anos no país, Impressionismo: Paris e a modernidade, realizada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo e Rio de Janeiro entre 2012 e 2013, foi uma parceria entre a instituição brasileira e o Museu d"Orsay. Para quem foi à exposição e lembra da disposição das peças no espaço, é válido frisar: o trabalho esteve a cargo de Virginia Fienga. "A avaliação de todos daqui, assim como a dos brasileiros, foi a mais positiva possível. Ficou evidenciada mais do que nunca a imposição do Brasil no circuito internacional das exposições. O Museu d"Orsay transportou para o Brasil mais de setenta obras-primas que saíram das paredes das salas do museu direto para o coração do público brasileiro. Os impressionistas foram apreciados por centenas e centenas de estudantes que no momento não teriam condição de ver a coleção em Paris. Fiquei honrada em ter podido conceber o projeto cenográfico cujo cunho era extremamente didático", completa.

Segundo ela, o D"Orsay, através da presidência de Guy Cogeval, espera poder trazer novas propostas para o Brasil em termos de exposição. "As leis de iniciativa fiscal, como a Lei Rouanet são fundamentais para a realização deste tipo de projeto. As trocas continuam a serem feitas entre as capitais brasileiras e as instituições francesas com o objetivo de manter e reforçar os laços culturais franco-brasileiros", comenta.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia/576114/um-toque-brasileiro-no-museu-dorsay

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