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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A cidade de Braga, a oferta Museológica e o Turismo

Portugal tem registado, sobretudo em Lisboa e Porto, um movimento de turistas de tipologia incoming digno de registo e que, uma vez trabalhado do ponto de vista do turismo museológico, pode contribuir para um acréscimo significativo de visitantes aos Museus, com impacto nos resultados económicos e na maior notoriedade internacional.

A cidade de Braga não tem conseguido apresentar uma oferta turística estruturada em torno dos seus museus e não tem compreendido o quanto é urgente e importante refletir sobre o desenvolvimento estratégico do turismo na cidade.

Antes mesmo de olhar os museus será necessário compreender que a cidade é uma realidade em mutação de natureza heterogénea, imaterial, complexa e viva, sendo difícil fazer uma abordagem analítica. Segundo Bonello (1996) “A definição de cidade está para além de toda a perspetiva geográfica, económica, sociológica ou histórica porque ela nasce da interação entre os indivíduos, o que interdita qualquer definição estática ou descritiva. Tratando-se de uma comunidade viva, ela é de grande mobilidade, porque escapa a qualquer permanência.”
Numa definição para a cidade de Braga, não pode deixar de se considerar o seu hinterland já que o seu riquíssimo casco histórico, não garante por si só, a cidade turística sustentável e inclusiva. Num exercício de pensar a cidade turística seria uma enormidade abordar a cidade limitando-a ao seu casco histórico.

A cidade de Braga, ainda não possui uma intensidade turística que favoreça a retenção dos turistas no prolongamento da sua estada. Não beneficia por isso de marcas e dinâmicas culturais relevantes. Não possui casas de fado, a vida nocturna é pontual e limitada a determinados períodos. Não possui feiras empresariais ou festivais de música que favoreçam a sua afirmação no mercado do turismo. A cidade de Braga não é um destino turístico comercializado no mercado nacional, europeu e mundial.

Existindo já um sentimento generalizado de que o setor do turismo poderá mudar o paradigma de desenvolvimento da cidade de Braga, muitas questões se podem colocar aos diferentes atores que dia a dia têm trabalhado e vivido do turismo.
Os especialistas, investigadores e estudiosos do turismo convergem na ideia de que - a partir do momento que a cidade ganha a potencialidade de não deixar “fugir “ os seus habitantes e consegue atrair visitantes, estão criadas as condições de se transformarem em cidades de interesse turístico. Nesse contexto a cidade conquista a capacidade de ser feita pelos homens e para os homens.
Duas realidades devem ser atendidas quando se pretende que a cidade seja o epicentro de uma dinâmica turística. Primeiro é saber o que tem a cidade para oferecer como produto turístico, a outra é saber a que destinatários se pretende chegar.
No século XIX as grandes cidades europeias viviam ao ritmo dos seus espectáculos; ópera, ballet, concertos, teatros. Nos tempos q ue correm aqueles acontecimentos já não possuem a mística de outrora para captar turistas. Os acontecimentos culturais têm de ser reinventados e o turismo exige uma modernização inteligente dos acontecimentos culturais.

Atualmente, na Europa, cerca de 20% da população está reformada. Significam mais de 100 milhões de reformados, que procuram ocupar parte do seu tempo com viagens turísticas. Esta clientela, pode viajar em qualquer época do ano, preferindo mesmo viajar na época baixa, durante a qual as visitas são mais fáceis e até mais baratas. Esta clientela tem interesse numa tipologia de produto turístico mais “slow mouvement” , menos estereotipado, mais refinado e sobretudo mais autêntico e genuíno. Procuram muitas vezes produtos culturais (monumentos, museus ou espectáculos), que favoreçam o reencontro com os fundamentos da sua própria cultura.

Os turistas não se deslocam a uma cidade para comprar Benetton, ou Zara, por muito fashion que aquelas marcas estejam. O mesmo acontece com a cultura. Os turistas não se deslocam apenas pelos museus, ou pelas catedrais. Os turistas que visitam os centros das cidades e as localidades, querem mais, querem o autêntico e o genuíno. Não gostam de ser enganados com coisas postiças que não são originais de uma cultura. Essa a verdadeira razão porque é necessário olhar o turismo com profissionalismo. São necessários quadros técnicos altamente qualificados a desenvolver produtos turísticos que afirmem uma cidade, um território e que corresponda às expectativas criadas junto dos turistas.

As cidades têm de saber organizar as suas festividades, sem estarem a copiar modelos ou ideias de outros. É necessário identificar o que é próprio da cidade, da região e qualificar essa oferta. As festas genuínas têm a capacidade de mobilizar os residentes e de fazer com que a sua vivência, a sua cultura, seja diferente de outras cidades e regiões. É isso que torna as cidades diferentes e mais interessantes.

Os acontecimentos culturais agarrados á promoção da cidade devem ser mais ambiciosos e mais de acordo com a cultura minhota. Importa concentrar energias para qualificar o que de bom já existe na cidade e aprofundar os seus valores e características diferenciadoras. Para tal é necessário distinguir e qualificar os agentes da cultura.

A repetição de iniciativas que acontecem um pouco por todos os museus da cidade, não são suficientemente atractivas do ponto de vista turístico, importaria sobretudo ligar as suas actividades às tradições do Minho e dessa forma diferenciarem-se pela positiva.

Os turistas, que se incluem na clientela do turismo cultural, procuram vivências, experiências e apreciar a cultura típica de uma cidade ou região. É neste contexto que as iniciáticas louváveis que se vão realizando devem integrar uma preocupação, a ambição de pensar a sua oferta numa perspectiva de produtos turísticos organizados e vendáveis no exterior.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.correiodominho.com/cronicas.php?id=6394

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