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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Pedido de museu foi ponto de partida do novo CD de Yamandu -- Curiosamente, a abordagem mais brasileira do álbum veio a propósito da solicitação de ilustre instituição estrangeira: o Museu do Louvre.

Que o violonista gaúcho Yamandu Costa é um prodígio, meio mundo já sabe. O incrível é que, a cada disco, o músico parece se superar. E seu novo álbum, Tocata à Amizade (Biscoito Fino), não é diferente. Se em seu último CD, o gauchesco Continente (2013), ele explorava a musicalidade sulista fronteiriça que formou seu repertório inicial, em Tocata... Yamandu se abre para o Brasil de forma mais geral, com especial atenção para o choro.



Yamandu preparou um CD com um som mais do sudeste, com chorinho

"Eu gosto de equilibrar minha discografia", conta Yamandu, por telefone. "Depois de fazer algo mais regional, como Continente, gosto de partir para um som mais próximo do Sudeste, com mais influência do choro. Pra mim, dá supercerto", acrescenta.

Curiosamente, a abordagem mais brasileira do álbum veio a propósito da solicitação de ilustre instituição estrangeira: o Museu do Louvre. A cada ano, o Auditório do Museu parisiense comissiona a um músico estrangeiro renomado a composição de uma peça que, de alguma forma, represente a música do seu país. Em 2010, foi a vez de Yamandu receber esta importante missão.

Impressões Brasileiras

O resultado, a Suíte Impressões Brasileiras, abre o CD. "Este é um projeto lindíssmo, que gravamos há dois anos", conta. "É muita responsabilidade fazer essa encomenda do Louvre. Quando a Suíte ficou pronta eu fui lá, tocar no Auditório do Museu. Inclusive esses concertos são transmitidos ao vivo pela Radio France. Foi muito legal", lembra Yamandu.


Na peça feita por encomenda, Yamandu pôde mostrar algumas de suas principais influências como músico. "Minha formação é muito eclética. Eu venho do mundo regional gaúcho, da música fronteiriça. A música do choro eu só conheci mais tarde, já na adolescência, mas as referências que eu tive foram essas que estão na Suíte", conta.


Os títulos já entregam por onde andou a inspiração do violonista na composição da peça, dividida em quatro partes: Choro Tango, Valsa, Frevo-Canção e Baionga. "A primeira parte é minha origem, que traz justamente essas duas grandes referências para mim. Depois, a Valsa, que é a música mais universal do mundo, está em todas as culturas", aposta.


"A terceira parte é o Frevo- Canção, um namoro do Nordeste com o Sudeste. A última é Baionga, que é um baião com milonga, que eu acabei encontrando muito dentro das minhas influências", diz. "O que é curioso é que sempre que eu tocava uma milonga para nordestinos, eles logo identificavam com frevo ou baião", conta Yamandu. "Claro que eu não tinha a pretensão de mostrar toda a música brasileira em uma suite. São algumas impressões. De repente vem outras", diz.


Com a Suíte composta, pronta para ser gravada, só faltava ao músico amealhar mais algumas composições para formar o álbum que veio a se tornar Tocata à Amizade.


Roda de eruditos


Convocados os músicos Alessandro Bebê Kramer (acordeom), Rogério Caetano (violão) e Luis Barcelos (bandolim), Yamandu pensou em um conceito que unisse "um respeito camerístico e também uma coisa mais solta, típica das rodas de choro", define.


Conhecidas como tocatas, essas reuniões de músicos populares em torno dos instrumentos têm muito de concerto - só que numa moda bem mais informal, claro. "Foi muito difícil chegar nesse resultado, mas fiquei muito feliz", afirma.


"Fizemos questão de ensaiar muito pra tirar as músicas e achar um equilibrio entre essas duas escolas, a popular e a de concerto, unir a primazia técnica com a soltura da música popular", conta Yamandu.


No álbum, o quarteto interpreta, além da suite encomendada pelo Louvre, mais duas peças de Yamandu (Negra Bailarina e Boa Viagem), além de Pedra do Leme (de Raphael Rabello e Toquinho), Graúna (João Pernambuco) e a monumental Suíte Retratos, do maestro Radamés Gnattali.


Esta última também é dividida em quatro partes, cada uma homenageando um mestre fundador da música brasileira: Pixinhguinha, Ernesto Nazareth, Anacleto de Medeiros e Chiquinha Gonzaga.


Show no Farol da Barra


Viajante inveterado, Yamandu roda mundo afora todos os anos e de vez quando também dá uma passadinha pela Bahia. A última foi em janeiro, quando se apresentou de graça, na rua, durante o festival Salvador Jazz, na Barra.
"Foi maravilhoso", lembra. "Tive a oportunidade de tocar com meu amigo Armandinho ali perto do Farol da Barra, para vinte mil pessoas. É uma experiência incrível tocar pra tanta gente. E a programação toda foi muito bacana, com estrutura de som, palco e luz certa", elogia o músico.


"Também toquei ano passado em um lugar menor. Tenho ido mais à Bahia, o que me deixa muito feliz, pois tenho grandes amigos aí, como Mário Ulloa e Armandinho, que é meu padrinho", comemora. Ele ainda não sabe quando volta. "Não devo viajar muito com esse CD, pois é um bando de gente e também já tenho outros trabalhos este ano". Quem segura Yamandu?


fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://atarde.uol.com.br/cultura/noticias/1662076-pedido-de-museu-foi-ponto-de-partida-do-novo-cd-de-yamandu

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