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segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil, um cenário traz 126 tábuas de madeira a girar no próprio eixo, nas quais são apresentadas imagens e trechos do "cardápio indígena", da "ementa portuguesa" e da "dieta africana".

Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) foi um sujeito erudito que encheu cadernos de notas, observou os costumes do brasileiro sem trégua, ouviu escravos de "inesgotáveis recordações", leu vagarosamente receitas escritas à mão.

Maior estudioso da comida brasileira será tema de exposição e série de TV.


Viagem de Cascudo à África, em 1963,
em pesquisa sobre a alimentação dos escravos vindos ao Brasil




Considerado um dos mais importantes pesquisadores da cultura popular brasileira –e por que diabos tão restrito ao universo acadêmico?–, Cascudo vira personagem central de duas grandes ações culturais, uma exposição e uma série documental de TV.

A mostra "O Tempo e Eu (e Vc)" homenageia sua vida e obra a partir de terça (20), no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. "O grande legado de Cascudo foi registrar a vida das pessoas e valorizar brasis invisíveis", diz o curador Gustavo Wanderley.

Em 600 m2, arma-se um passeio sinestésico pela infância do autor, pelas oralidade ligada às lendas (eis o saci, o lobisomem), pelos gestos (o aperto de mãos, o abraçar), pelas festas (e o corpo do brasileiro que "não precisou aprender a dançar"), pelas fés.

E, bem, sempre seduzido pela alimentação, ainda caminha-se pelas práticas culinárias. Já dizia ele, "o alimento contém substâncias imponderáveis e decisivas para o espírito, a alegria, a disposição criadora, o bom humor".

O módulo "todo trabalho do homem é por sua boca" parte da obra "A História da Alimentação no Brasil", um calhamaço de quase mil páginas reconhecido como referência. Foi nesse tratado que Cascudo esmiuçou a contribuição que os índios, os portugueses e os africanos deram à formação da nossa cozinha nacional.

"Na época, foi bastante inovador. Cascudo tentou entender como essas três grandes etnias ajudaram a definir o paladar brasileiro", diz João Luiz Maximo, historiador e também curador do módulo.

É essa mesma obra, calcada na miscigenação alimentar, que o cineasta paulistano Eugênio Puppo toma emprestada para dar caldo a uma série documental para TV, cuja produção começa em fevereiro e tem lançamento previsto para 2017.

"Cascudo foge à regra dos grandes intelectuais. Ele era um bom prosador, ia à feira, conversava com as pessoas. É esse clima do dia a dia do brasileiro que queremos trazer na série", diz Puppo.

SUBSTITUIR, INCORPORAR

Na mostra no Museu da Língua Portuguesa, São Paulo, Brasil, um cenário traz 126 tábuas de madeira a girar no próprio eixo, nas quais são apresentadas imagens e trechos do "cardápio indígena", da "ementa portuguesa" e da "dieta africana".

Entra-se em contato, por exemplo, com rituais indígenas que celebram bebidas derivadas da mandioca, raiz que recebeu "registro laudatório de todos os cronistas" desde o início da posse da terra.

"Também vamos tratar de dois conceitos caros, a substituição e a incorporação", diz Gustavo Wanderley.

Para ilustrá-los, toma-se como modelo a doçaria portuguesa, já centenária quando o açúcar apareceu, antes calcada no mel de abelhas à semelhança do que se fazia na Antiguidade clássica.

No contato com as frutas tropicais, troca-se o marmelo pela goiaba, por exemplo, mas o modo de cocção, nos tachos de cobre, permanece.
Houve rápida incorporação de costumes portugueses –ainda tão contemporâneos–, como "oferecer alimentos na alegria do convívio, comer juntos", registrou Cascudo.

"O português sempre fez caldos e cozidos. Aqui, ele encontra a farinha de mandioca, feita com tecnologia indígena e a incorpora nos preparos. Nasce, assim, o pirão", explica o curador.

Para Mara Salles, uma das mais icônicas cozinheiras da culinária nacional em São Paulo, a obra de Cascudo propiciou "um olhar mais aprofundado sobre o homem e sobre o ambiente". "Eu entrei na gastronomia um pouco pela antropologia, um pouco pela farra. E sempre fui meio cerebral com a comida."

Roberta Sudbrack, da casa homônima no Rio, celebra ingredientes vulgarizados do nosso dia a dia, e, assim, busca estar em contato com as cozinheiras anônimas do Brasil, com as quais mantém identidade, tal qual Cascudo fez. "Sua obra é fundamental para qualquer um de nós porque até hoje nos identifica."

Oxalá sua obra possa, enfim, estar mais próxima dos brasileiros, e que os brasileiros, portanto, possam se conhecer melhor.

O TEMPO E EU (E VC)
QUANDO estreia ter. (20); de ter. a dom., das 10h às 18h (bilheteria fecha as 17h); até 14/02/2016
ONDE Museu da Língua Portuguesa, praça da Luz, s/nº, tel. (11) 3322-0080
QUANTO R$ 6 (grátis aos sábados)




colaboração: Isabel Givigi 
e
Ed Keffel/Acervo do Ludovicus 

http://www1.folha.uol.com.br/comida/2015/10/1693465-camara-cascudo-e-tema-de-exposicao-em-sp-e-serie-documental-para-tv.shtml?cmpid=facefolha

Cultura e conhecimento são ingredientes essenciais para a sociedade.


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--in

Museum of the Portuguese Language, São Paulo, Brazil, a scenario brings 126 wooden boards to turn on its own axis, in which images are displayed and excerpts from "Indian menu", the "Portuguese menu" and "African diet."

Luís da Câmara Cascudo (1898-1986) was a learned man who filled notebooks, noted the Brazilian customs relentless heard slave "inexhaustible memories," he read slowly handwritten recipes.

Greatest scholar of Brazilian food will display theme and the TV series.



Shelly travel to Africa in 1963,
research on the feeding of slaves coming to Brazil




Considered one of the most important researchers of Brazilian popular culture-and why the hell so restricted to the academic world -, Shelly had seen central character of two great cultural activities, an exhibition and a documentary TV series.

The exhibition "Time and I (and Vc)" pays tribute to his life and work from Tuesday (20) at the Museum of the Portuguese Language in Sao Paulo. "The great legacy of Krusty was to record people's lives and enhance invisible Brazils," says the curator Gustavo Wanderley.

600 m2, gun-a kinesthetic tour of the author's childhood, by oral linked to legends (here's saci, the werewolf), the gestures (the handshake, hug him), the parties (and the body of the Brazilian who "I did not need to learn to dance"), the faiths.

And, well, always seduced by power, still walks by the culinary practices. Already he said, "the food contains imponderables and decisive substances to the spirit, joy, creative mood, good mood."

The module "every man's labor is for his mouth" part of "The Power of History in Brazil," a tome of nearly a thousand pages recognized by reference. It was in this treaty Krab brake in pieces the contribution that Indians, Portuguese and Africans gave to the formation of our national cuisine.

"At the time, it was quite innovative. Cascudo tried to understand how these three major ethnic groups helped define the Brazilian palate," says João Luiz Maximo, historian and curator also module.

It is this same work, based on food miscegenation, the São Paulo filmmaker Eugenio Puppo borrows to give the broth a documentary series for TV, whose production begins in February and is scheduled for release in 2017.

"Krab exception to the rule of the great intellectual. He was a good prose writer, was going to the fair, talking to people. It is this atmosphere of everyday life in Brazil that we want to bring in the series," says Puppo.

REPLACE, INCORPORATE

On show at the Museum of the Portuguese Language, São Paulo, Brazil, a scenario brings 126 wooden boards to turn on its own axis, in which images are displayed and excerpts from "Indian menu", the "Portuguese menu" and "African diet" .

Comes in contact, for example, indigenous rituals that celebrate beverage derived from cassava root that received "laudatory record of all writers" from the beginning of tenure.

"We will also address two concepts expensive, replacement and incorporation," says Gustavo Wanderley.

To illustrate them, is taken as a model to Portuguese sweets, since when the century-old sugar appeared before grounded in honey bees similar to what was done in classical antiquity.

In contact with tropical fruits, quince is exchanged by guava, for example, but the cooking mode, the copper pans, remains.
There was rapid incorporation of Portuguese customs -even as contemporâneos- like "offer food in the joy of living together, eating together," recorded Krab.

"The Portuguese always made soups and casseroles. Here, he finds the manioc flour, made with indigenous technology and incorporates the preparations. Born thus the mush," explains the curator.

For Mara Salles, one of the most iconic cooks of the national cuisine in São Paulo, the work of Shelly led 'a closer look at the man and the environment. " "I walked into the cuisine a little anthropology, rather the party. And I was always half brain with the food."

Roberta Sudbrack, the eponymous house in Rio celebrates vulgarized ingredients of our daily lives, and thus tries to be in contact with the anonymous cooks in Brazil, with which it has identity, like Shelly did. "His work is critical to any one of us because today identifies us."

Would that their work may at last be closer to Brazil, and the Brazilians, so they can know better.

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