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sábado, 28 de maio de 2016

Wynwood Walls, Art Basel e acervos como o do Pérez Art Museum enchem a cidade de cores




A rua é a cara da arte contemporânea de Miami. Grafites elaborados desde 2003 por artistas do mundo inteiro nas paredes dos galpões industriais do então defasado bairro de Wynwood ajudaram a transformar Miami em um polo de criatividade. Hoje, a região soma 70 galerias, cinco museus, 12 estúdios de arte e os famosos grafites de Wynwood Walls.

Mural do artista brasileiro Kobra
Foto: Felipe Mortara|Estadão



Misto de parque e galeria ao ar livre, Wynwood Walls é fruto do sonho de Tony Goldman, mecenas do mercado imobiliário que investiu pesado na região na década passada e acreditou no potencial criativo do lugar. Também idealizador da revitalização do SoHo, em Nova York, ganhou um retrato seu estampado numa das paredes – Goldman morreu em 2012, aos 68 anos, mas deixou seu legado.

Contudo, o estopim embrionário para Miami efervescer culturalmente foi a Art Basel, grande exibição anual de arte contemporânea original da Basileia, na Suíça, que desembarcou na cidade em 2002. Movimentando o mercado das artes, com artistas, curadores e público em geral, este ano o evento ocorre de 1.º a 4 de dezembro. 

Crianças brincam no Pérez Art Musuem,
em Miami Foto: Felipe Mortara|Estadão

No quesito museus, Miami não faz feio. O Pérez Art Museum (US$ 16), queridinho da cidade, ocupa desde 2013 um moderníssimo edifício com vista para Biscayne Bay. Assim como sua arquitetura de vanguarda, a coleção engloba principalmente arte moderna e contemporânea de artistas latino-americanos, como o peruano Fernando Bryce e o haitiano Edouard Duval-Carrié, radicado em Miami há 22 anos.

Também vale visitar o Wolfsonian (US$ 10), museu que abriga uma coleção de 180 mil objetos que datam de 1850 a 1950, auge da Revolução Industrial. No acervo, trabalhos em cerâmica e vidro, mobília, jornais, serigrafias e medalhas. No embalo das aproximações diplomáticas com a ilha vizinha, estão em cartaz exibições temporárias de arte cubana.

À beira-mar, em Coconut Grove, o Vizcaya (US$ 18) é um misto de museu e jardins. Construído entre 1914 e 1922 pelo milionário James Deering (1859-1925), preserva até hoje a luxuosa mansão e sua mobília original. Do lado de fora, no jardim extremamente bem cuidado, destaca-se a fonte desenhada por Filippo Barigioni (1680-1753), o mesmo arquiteto que concebeu a fonte que enfeita o Panteão, em Roma.

Pegue e faça. Se contemplar não for o suficiente, o Bottle & Bottega ajuda, digamos, a aflorar sua aura artística. Sobre um tablado, o instrutor de artes apresenta um objeto a ser reproduzido. Diante de cada participante, um cavalete com uma tela em branco e tintas coloridas. Ah, e uma taça de um bom vinho. A ideia é mesclar (e turbinar) a aula com uma degustação. O resultado pode ser surpreendente; a partir de US$ 24.

E vem mais coisa por aí. Até o fim do ano, o milionário argentino Alan Faena deve inaugurar seu Faena Forum, em Miami Beach, com uma parte de seu precioso acervo. Promete.




Museu de Boston apresenta filmes de Claire Andrade-Watkins em restrospectiva

O Museum of Fine Arts, em Boston (EUA), irá exibir nos dias 18 e 19 de Junho uma série de filmes sobre Cabo Verde e de realizadores cabo-verdianos, com destaque para a obra de Claire Andrade-Watkins, numa retrospetiva de 30 anos de cinema sobre a comunidade cabo-verdiana.


“Our Rhode: 30 Years of Cinema by and about capeverdean rhode islanders” trará para o público uma série de filmes produzidos pela realizadora de origem cabo-verdiana entre 1986 e 2016, mas também dois filmes do realizador português Francisco Manso: O Testamento do Senhor Napomucemo (de 1997, baseado na obra de Germano Almeida) e O Cônsul de Bordéus (2011, co-realizado por João Correia e que conta a história verídica de Aristides Sousa Mendes, o cônsul português que salvou milhares de pessoas dos nazis).

Cape Verde Independence, July 5 and 6 1975 (2014), Serenata de Amor (2013), Some Kind Of Funny Porto-rican? (2006), Hi, Neighbor (2006), Spirit of Cape Verde (1986), são os filmes produzidos por Claire Andrade-Watkins, e que já passaram por vários festivais cabo-verdianos e internacionais, a serem exibidos no segundo dia do evento.

Na ocasião será também feita a estreia mundial do web documentário Working the Boats: masters of the craft, produzido e dirigido pela realizadora cabo-americana. Trata-se do segundo volume de uma trilogia que Watkins vem dedicando à comunidade cabo-verdiana de Fox Point e que está a ser disponibilizado na internet dividido em seis episódios.

Estes filmes, com chancela da produtora Spia Media, focam três gerações de cabo-verdianos e descendentes que se fixaram na zona de Fox Point , em Providence, Rhode Island, e que durante esse período passaram por um processo de deslocamento territorial devido à especulação imobiliária, gentrificação, construção de uma auto-estrada e expansão da universidade local.

Os dois realizadores e produtores convidados estarão presentes nas sessões para conversarem com a audiência.

Saiba mais sobre o Museum of Fine Arts de Boston neste link: http://www.mfa.org/



Museu Etnológico no Vaticano reabre após dois anos de reformas

Uma viagem entre séculos de cultura e costumes religiosos, que fala também da amizade de povos longínquos com a Sé de Pedro. Esta é a proposta do Museu Etnológico dos Museus Vaticanos, reaberto ao público após dois anos de trabalhos de restauração. Na última terça-feira foi apresentado o catálogo “As Américas”, que teve por curador o Padre Nicola Mapelli, responsável pelo Museu, e por Katherine Aigner.




“O Museu Etnológico é substancialmente “a alma do mundo” ou ao menos gostamos de considerá-lo assim: é o lugar no qual estão preservados os objetos que há séculos, ao menos desde 1691, foram enviados aos Pontífices. E todos estes objetos que foram doados narram uma história de amizade, de diálogo. E nós queremos levar em frente esta história, porque é uma história que fala das culturas e das religiões. Temos visitantes de todo o mundo e quando veem que dentro dos próprios Museus em que são custodiadas obras de Rafael ou de Michelangelo, se encontra também a pintura de um aborígene australiano ou a estátua esculpida da Ilha de Páscoa, os visitantes se emocionam, porque sentem realmente que os Museus do Papa apreciam não somente a arte renascentista de Michelangelo e Rafael, mas a de todo o mundo”.

RV: Falemos um pouco deste Catálogo que foi apresentado no dia 24 de maio e que é dedicado às obras americanas que são conservadas no Museu...

“As obras custodiadas no Museu são mais de dez mil. Nós as estudamos por mais de cinquenta anos e entre elas selecionamos 200. Portanto, neste catálogo de 400 páginas, foram apresentadas 200 obras dos Museus Vaticanos que têm relação com o continente americano, do Alasca à Terra do Fogo, incluída também a nossa coleção pré-colombiana”.

RV: Para a realização do catálogo, sabemos que vocês tiveram que viajar pelo continente americano, uma ocasião portanto, também para encontrar muitas pessoas....

“Exato. O importante para nós é aquilo que queremos resumir na palavra “reconexão”: os objetos para nós não são simplesmente obras de arte, mas são sobretudo “embaixadores culturais”, por meio dos quais nós nos colocamos em contato com os povos e descendentes daqueles que os doaram aos Pontífices. E – pessoalmente – quis histórias muito tocantes: por exemplo, temos aqui no Museu uma máscara proveniente da Terra do Fogo e que foi enviada ao Papa há quase 100 anos. Temos também a foto e o nome de quem a enviou por meio de um missionário. Conseguimos descobrir o povoado e encontrar a filha do homem que doou o objeto. Eu fui encontrá-la e ela fez uma pequena cesta de vime entrelaçado e nós, no Museu, expusemos tanto a máscara doada pelo pai como o cesto de vime feito pela filha. Com isto, procuramos mostrar que para nós, o Museu é um museu vivo, que conta a história das pessoas até os sentimentos mais profundos”.

RV: O título do catálogo é “As Américas”. Me parece que este plural do título queira também, de alguma forma, sublinhar a pluralidade das várias etnias presentes no continente americano...

“Este catálogo busca mostrar a beleza e a variedade de centenas e centenas de povos e culturas que se sucederam no tempo e no espaço neste vastíssimo continente. E cada um expressou a própria cultura, espiritualidade, e em muitos casos o próprio encontro com o cristianismo e a própria interpretação do cristianismo. Por exemplo, os Inuit do Canadá doaram a São João Paulo II um crucifixo, que temos aqui exposto, onde está simbolizado um urso, porque para eles o urso é o animal onipotente. Portanto, por meio desta representação, querem assinalar a onipotência e a força salvífica. Temos o porta-missal de Cristóvão Colombo e tantas outras coisas”.

RV: Existe sempre, e é um tema que retorna de maneira quase constante, a relação do homem com a natureza....

“Exato. As obras do continente americano são feitas, em grande parte de material orgânico, portanto, realidades derivadas de vegetais e animais. Mas sobretudo estes povos, por meio de suas expressões artísticas, procuram expressar também o equilíbrio que tentam manter entre eles próprios e o mundo natural. Infelizmente, o que testemunhamos tantas vezes em nossas viagens, é o fato que este equilíbrio está sendo destruído. Encontramos grupos de indígenas que haviam sido expulsos de suas terras porque, no lugar de suas casas, queriam fazer grandes plantações. Nós procuramos também representar toda esta história, em tal modo de darmos voz também aos últimos”. (JE/RT)