Ouvir o texto...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Artista dos EUA junta grafiteiros de SP para pintar mural em museu do Ibirapuera

Chanel Compton disse se surpreender com "tolerância" paulista ao grafite




Um grupo de artistas plásticos se reuniu no parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, nesta quarta-feira (25), ao som de Demônios da Garoa. Uma mulata com camiseta laranja e uma folgada calça camuflada com respingos de tinta andava perto de uma parede do Museu Afro Brasil. Embora ela não sambasse, com a mesma agilidade de uma passista, fazia gestos rápidos, de uma lado para o outro, com uma lata de tinta spray na mão.

Encantado com o "suingue" da jovem de 27 anos, o desavisado morador de rua Reginaldo Pereira dos Santos se derretia em elogios. Chegou a dar conselhos sobre como o spray deveria ser utilizado, mas logo percebeu que a moça não entendia nada. Arriscou, então, outro idioma.



Santos se esforçou, mas não conseguiu se comunicar usando "seu inglês" com a artista plástica Chanel Compton, norte-americana escalada pela Embaixada dos Estados Unidos para coordenar a pintura de um mural de 20 m de largura por 6,8 m de altura em uma parede externa do Museu Afro Brasil. A ação faz parte do 1º Encontro Afro-Atlântico de Museus, que acontece no Afro Brasil nesta semana (veja a programação).

O assanhado Santos não teve vez com Chanel, que logo foi se ocupar da imagem central da pintura, uma mulher com traços africanos usando um longo véu colorido. A proposta de trabalho é coletiva. Em volta do desenho de Chanel, outros 14 artistas de rua (que trabalham com grafite) de São Paulo - todos na faixa dos 20 anos - foram convidados para participar da obra. Esses, por sua vez, chamaram outros, segundo o artista de Guarulhos André Firmiano, de 26 anos.

– Teve gente que aproveitou para trazer mais pessoas. Hoje estamos trabalhando em uns 20 aqui. Todo mundo tem em comum o fato de ter militância negra.



Ocupação

Para orientar e entender a equipe diante do português cheio de gírias, Chanel recebe a ajuda da intérprete Mônika Camara Batista, 38 anos, braço-direito da norte-americana em sua primeira visita ao Brasil.

Não importa em qual idioma, a arte de rua (street art) é a melhor forma de uma comunidade reivindicar e ocupar os seus espaços, na opinião de Chanel, que desenvolve uma série de trabalhos sociais em seu país de origem. São Paulo é particularmente fácil de fazer essa ocupação.

– Aqui o grafite é visto como algo normal. Há uma tolerância interessante ao grafite, que é aceito como arte mesmo.

A decisão de pintar uma mulher africana foi coletiva. Ao redor dela são pintadas figuras desenhadas com estêncil, inspiradas nas obras que estão dentro do museu. Antes da pintura, todos fizeram visitas guiadas. O caso de um navio negreiro chamou particularmente a atenção do coletivo, que usou uma figura em duas dimensões de negros empilhados como moldura para a obra.

Até as 12h desta sexta-feira (27), tudo deve ficar pronto. A estimativa é que sejam usados cerca de 60 litros de tinta latex e 40 latas de spray.

O assanhado Santos, que acompanha a obra desde seu início, na segunda-feira (23), deixou o local da pintura no final da tarde da quarta-feira com um copo de café nas mãos. Mas, pelos comentários e histórias que contou, deve fazer visitas diárias aos artistas até a entrega do mural.


Nenhum comentário:

Postar um comentário