Em fevereiro de 2007, iniciamos voluntariamente um projeto de registro da memória oral de idosos de Luminárias, cidade de 5 mil habitantes no sul de Minas Gerais. A proposta foi encampada pela prefeitura local, que cedeu hospedagem e alimentação por dois meses para a execução do trabalho. Percorremos toda a comunidade, inclusive a zona rural, gravando com um pen-drive as narrativas de vida de 27 idosos nascidos até 1939. Após as gravações, transcrevemos todo o material coletado e chegamos a mais de 200 páginas de memórias, que formam um rico e inestimável acervo sobre a história local.
Com esse material, decidimos buscar apoio para a publicação de um livro. Foi quando conhecemos o edital do Fundo Estadual de Cultura, do governo de Minas. Enviamos os textos e pedimos recursos para a edição das histórias. O projeto Memórias Iluminadas foi aprovado e trouxe mais ânimo para seguirmos com a empreitada.
O trabalho de coleta de histórias foi crescendo ainda mais. No começo, os idosos ficavam tímidos e desconfiados em relação ao trabalho que estava sendo feito, mas aos poucos iam se soltando. Alguns deles chegavam a nos parar nas ruas, pedindo que fôssemos conhecer e entrevistar irmãos, tios ou compadres. Por várias vezes as gravações contavam com a presença de filhos, netos e bisnetos dos entrevistados, que mostravam curiosidade e até ajudavam na formulação das perguntas. Isso nos fez perceber a singularidade e a importância do projeto.
Quando nos debruçávamos sobre as transcrições, percebíamos a riqueza daqueles relatos. Eles revelavam inúmeras outras minibiografias de pessoas que passaram pelas vidas dos entrevistados. Também descreviam com precisão modos de fazer e saberes típicos da comunidade. Assim que percebemos o valor único do registro da tradição oral, resolvemos nos unir a pessoas que tivessem interesse em desenvolver mais projetos do gênero. Nasceu a Viraminas Associação Cultural, em Três Corações, com o objetivo de unir artistas e produtores culturais em torno de iniciativas de valorização da memória e das tradições.
Logo outros projetos vieram, como o Memória da Educação Tricordiana, que registrou as narrativas de 11 professores aposentados da rede pública de ensino da cidade, e o Mutirão de Histórias de Vida, que reuniu voluntários para gravar as memórias de moradores da antiga colônia de hanseníase de Santa Fé, em Três Corações.
À medida em que novas histórias vinham sendo gravadas, percebemos que estava sendo formado um grande acervo, que não poderia ser simplesmente arquivado após a realização dos projetos. Fomos observando que várias histórias, mesmo que de projetos distintos, se entrecruzavam em determinado ponto. Diante disso, pensamos em como disponibilizar esse material para o público. A ideia inicial era de um grande baú de histórias. Discutindo como seria esse baú, chegamos à conclusão que tínhamos um acervo museológico e chegamos, então ao nome de Museu da Oralidade.
Para nos inscrevermos no programa Cultura Viva, do Ministério da Cultura, formatamos o que viria a ser este museu. A ideia central é a de que as novas tecnologias de informação (computadores, internet, aparelhos digitais) não são uma negação das tradições. Pelo contrário, as novidades tecnológicas podem servir para registrar e preservar nossas tradições e raízes culturais. Assim, imaginamos uma rede social na internet, onde qualquer usuário pode se cadastrar e montar projetos de memória em sua comunidade, contribuindo para o acervo dinâmico e participativo.
fonte:
http://museudaoralidade.org.br/
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