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segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Cientistas lutam para preservar memória em museus da Alemanha


No centro de Berlim, um batalhão de cientistas trabalha para que as peças enfrentem o tempo com o menor desgaste possível.



Você já viu um tesouro, daqueles vindos de terras e tempos distantes e que ninguém pode tocar? Só ver, bem de pertinho. Pode ser o azul que pintava histórias da Babilônia, há 1,5 mil anos, esfinges de pedra reconstruídas com mil pedaços ou as palavras de povos que nem existem mais. Os repórteres Paulo Zero e Sônia Bridi, que viajaram a convite do Instituto Goethe, contam a saga dos cientistas para reconstruir e preservar esses tesouros: a memória da humanidade.
Uma ilha no centro de Berlim é ocupada por museus, um ao lado do outro. O mais impressionante deles, o Pergamom, tem logo na entrada o templo grego inteiro, encontrado no século 19 na cidade de Pergamon, hoje Turquia.
De história à arte moderna, do design à antropologia, as coleções têm guardiões de peso. Um batalhão de cientistas trabalha para que as peças enfrentem o tempo com o menor desgaste possível.
No Museu Etnológico, não só a arte e os utensílios dos povos ao redor do mundo foram guardados, mas também suas vozes. Seus cantos e rituais foram gravados por antropólogos em expedições no início do século passado.
Eles usavam o que havia de mais moderno da época: discos de cera. O problema é que, ao ser reproduzido, a própria agulha vai danificando o disco. Por isso, são feitos moldes em metal e, a partir deles, várias cópias em cera, preservando o som original.
Tudo está sendo digitalizado. As fitas magnéticas, mais recentes, se autodestróem. A pesquisadora explica que é como uma doença nas fitas, chamada de síndrome do ácido acético, que tem cheiro de vinagre. Um equipamento analisa amostras das fitas e diz se o processo químico já começou.
No mesmo laboratório, a cientista portuguesa testa os materiais usados para proteger as obras. Caixas, adesivos, madeira e vidro – tudo pode provocar reações químicas, liberar gases e destruir o que se pretende proteger.
“É um exame que nos permite ajudar nossos colegas a fazerem um bom trabalho e tem um efeito imediato”, conta Marisa Pamplona, pesquisadora do Instituto Rathgen.
Stefan Simon, diretor do Instituto Rathgen, diz que os materiais modernos são um grande desafio, porque nunca se sabe como eles vão reagir dentro de algumas décadas. Desde a Revolução Industrial, os artistas têm usado materiais que se degradam rapidamente.
No Museu do Design, é fácil ver como isso acontece. A “Poltrona-pé” é mutilada em uma luta química entre a espuma e a tinta do acabamento. De volta ao Pergamon, o desafio de uma cientista é manter o azul usado na Babilônia há 2,5 mil anos para não empalidecer o Portão de Ishtar, transferido para Berlim em toda a sua grandiosidade.
No museu, um tesouro da humanidade ressurgiu dos escombros da Segunda Guerra: a lendária Tell Halaf, sede de uma cultura que floresceu ainda antes da babilônica. Descoberta por um alemão, o Barão Von Oppenheimer no começo do século 20, estava em um galpão em Berlim atingido pelas bombas.
O cientista diz que levou 14 anos para remontar Tell Halaf. Ao final de quatro anos, 25 mil dos 27 mil fragmentos já haviam sido identificados. A partir daí seguiram-se mais dez anos de um trabalho meticuloso. A reconstrução do Palácio de Tell Halaf foi o quebra-cabeça mais difícil já montado na história.
Exames geológicos identificaram que pedaço pertencia a que escultura. Computadores ajudaram no encaixe. “Foi um trabalho bonito, deu prazer. Às vezes eu ficava cansado, mas pequenas vitórias davam ânimo para continuar”, disse Stefan Geismeier, restaurador do Tell Halaf.
As vitórias não apagaram as cicatrizes de um dos maiores perigos que ronda os museus do mundo e que os cientistas não podem prevenir: a guerra.

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