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terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Menos famosos, museus revelam a diversidade cultural do Recife

 a Oficina Brennand, o Museu do Estado e a Casa Gilberto Freyre.

Espaços têm acervo variado, historicamente rico e bem cuidado.



Oficina Brennand (Foto: Roberta Rêgo / G1) 
Em meio às peças Oficina Brennand, é possível encontrar com o criador de tudo isso, Francisco Brennand
 
A praia, os bairros antigos, o carnaval, a variedade musical, a gastronomia, o Recife é conhecido por muitas opções para o turista, mas algumas das atrações menos conhecidas e divulgadas reservam ricas surpresas para os visitantes. É que mesmo sem tanta fama, os museus da cidade têm tradição, com interessantes espaços culturais dedicados a acervos históricos e às artes plásticas.

( uma série de reportagens sobre turismo em todos os estados onde está presente. A primeira semana da série foi no estado de São Paulo, a segunda foi no estado do Rio de Janeiro e a terceira em Pernambuco. Se você tiver dicas de destinos no estado, )

Na Oficina de Cerâmica de Francisco Brennand, situada no bairro da Várzea, no Recife, há mais de 2 mil esculturas e 300 quadros em exposição – o espaço foi criado há quarenta anos. “Não dá para percorrer tudo em uma hora, o turista cultural gosta de conhecer a obra e olhar os detalhes. O ideal é passar uma tarde inteira, no mínimo, para assimilar e não ficar confuso”, orienta a bibliotecária da Oficina Brennand, Marinez Teixeira.

Não é incomum encontrar o dono da casa, que tem 84 anos, com sua barba e cabeleira brancas por ali passeando – nessas horas ele recebe com carinho o contato do público – ou produzindo suas peças (então ele prefere concentração total e não gosta de ser interrompido). “Ele tem uma memória de elefante e é muito ativo. Vem todos os dias à oficina”, diz Marinez. Segundo ela, está previsto para 2012 o lançamento do diário dele, inaugurando uma faceta até agora desconhecida, a de escritor.

A sugestão da bibliotecária é começar o roteiro pela Praça Mítica, um dos primeiros espaços a ser avistados, já na entrada. O local reúne vários elementos mitológicos e esculturas emblemáticas de Brennand, como o ovo suspenso (símbolo da reprodução e geração da vida) guardado por pássaros roca e Adão e Eva. Vale a pena fazer a visita guiada – a beleza ganha significado quando se conhece a história das peças. No salão, grupos de esculturas que falam por si – sobre mitologia, história e outros grupos temáticos, como as mulheres degoladas. Também estão lá  antigos fornos de cerâmica desativados.

Há ainda treze salões de esculturas, diversos jardins e instalações ao ar livre. No espaço Accademia, uma pinacoteca que recebe prioritariamente grupos agendados, inaugurada em 2003, a mostra que está em cartaz atualmente é ‘A tradição do outono’ e tem curadoria do próprio autor.

O local é distante do centro urbano, mas como há um bom restaurante/café, é possível ficar até por mais tempo. As refeições custam entre R$ 20 e R$ 30, entradas ficam em torno de R$ 12. No mesmo espaço funciona uma loja de suvenires e há dois tipos de produtos à venda: as peças de arte assinadas por ‘FB’ (mais caras) e os objetos feitos pela oficina, reproduzindo padrões desenhados por ele (essas trazem o símbolo do orixá Oxossi como assinatura) - esses são mais acessíveis.

Acesso
A oficina não fica perto nem é fácil de achar, mas o esforço compensa. O local funciona em uma reserva florestal pertencente à família Brennand. Para chegar de ônibus, é preciso ir à Avenida Caxangá ou à Conde da Boa Vista e tomar uma das linhas que levem a Camaragibe, cidade da Região Metropolitana. A referência para descer do ônibus é a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) – ou ainda o local conhecido como ‘Padre Cícero’. De lá, é preciso pegar um mototáxi (R$ 3) ou táxi (aproximamente R$ 10) até a entrada da Oficina. O ingresso custa R$ 10 (inteira), com meia para estudante, professor e maiores de 60 anos.

Casa-museu
O sociólogo e escritor pernambucano Gilberto Freyre publicou mais de 30 livros – alguns deles foram traduzidos em mais de 15 países. Esse é o lado conhecido do estudioso, mas quem vai à casa dele, no bairro de Apipucos, no Recife, pode descobrir também que Freyre gostava de escrever à mão, sentado com uma das pernas sobre o braço de uma poltrona de couro. Que não deixava que retirasse ninhos de passarinhos de lugar nenhum da casa. E inventou um conhaque de pitanga de receita desconhecida por todos – chegou a ensinar a um dos filhos, mas este morreu antes de transmitir a "herança".
Casa Museu Gilberto Freyre (Foto: Roberta Rêgo / G1) 
A velha poltrona preferida de Gilberto Freyre está num dos principais ambientes da casa-museu (Foto: Roberta Rêgo / G1)




O espaço recebe apenas cerca de uma centena de visitantes por mês – turistas em sua grande maioria. "O recifense que visita o espaço normalmente vem porque está trazendo outra pessoa de fora  da cidade. Mas quem vem, gosta e costuma retornar outras vezes", afirma Manuela Falcão, gerente de relacionamento da Fundação Gilberto Freyre.
A Casa-museu Magdalena e Gilberto Freyre está instalada na Vivenda Santo Antônio, que o autor comprou ainda solteiro e escolheu para morar quando casou. Passou 40 anos lá. Os objetos reunidos – cuidadosamente ordenados e mantidos – contam a história do povo brasileiro. Há desde peças sacras católicas até objetos africanos, porcelanas orientais com prataria inglesa e objetos portugueses, além de peças de arte popular, uma pinacoteca e, como esperado, uma infinidade de livros (40 mil volumes).
É possível entrar no quarto de Gilberto e Magdalena, onde há vários pedaços da lã que ela usava para tecer os tapetes da casa. O solário era o cômodo onde ele desenhava à luz ideal e ficava de olho nas tartarugas Frederica e Chiquinha. "Ele gostava de desenhar, mas não se dizia artista ou desenhista, apenas apreciador da arte", explica a guia Andreza Afonso Ferreira. A sala de jantar é decorada com painéis de azulejo que o autor comprou em Portugal – mediante autorização oficial do governo para retirar as peças do país – e pagou passagem para trazer as peças dentro da cabine, como um passageiro regular, e não no compartimento de carga.

Na área externa do imóvel, foi construído um memorial onde estão os restos mortais de Gilberto (ele morreu em 1987) e Magdalena (1990). Ao lado da propriedade, há um sítio com cerca de 10.000 metros quadrados contendo mais de cem espécies vegetais, mais de trinta tipos de aves, mamíferos, como gambás, saguis e ratos silvestres, e répteis, como tejus e camaleões. O passeio dura aproximadamente 40 minutos e grupos grandes devem fazer agendamento. O preço sugerido é de R$ 10 – e é opcional. O visitante paga se achar que valeu a pena.
Museu do Estado
Há muitos anos que o Museu do Estado de Pernambuco (MEPE) só recebia visitas em seu anexo, nunca no casarão principal. Este agora está restaurado e abriga uma bela mostra intitulada ‘O Recife de Joaquim Nabuco’. São peças montadas em suportes diferenciados – como as luminárias gigantes reproduzindo quadros e litogravuras da época em que o jurista viveu ou o ambiente interno de uma casa, entrevisto por uma faixa de tecido transparente onde está impressa uma imagem da fachada do imóvel. No mesmo casarão está uma coleção de objetos de porcelana doada pelo professor de Direito Roque de Brito Alves. "Inicialmente eram 50 peças, mas vez por outra ele chega aqui com mais duas ou três peças. Agora já são 80", conta Gertudres Gomes, responsável pelo setor de museologia do MEPE.
O museu recebe de 1.200 a 1.500 visitas por mês e já conta, em sua agenda fixa, com uma feirinha de antiguidades no último domingo do mês, cursos de porcelana, pintura e desenho e, recentemente, shows nos jardins. De acordo com a diretora do Museu, Margot Monteiro, o espaço agora se prepara para receber inovações: um café e uma livraria especializada em obras sobre design.

Em 2003, o anexo foi reformado e entrou em exibição uma mostra que é um recorte de todas as coleções do Museu do Estado. Achados arqueológicos de 1962 no Bairro do Recife contam a história do período holandês, assim como armas, utensílios, gravuras e ex-votos cênicos que retratam o modo de vida nas casas pernambucanas.

A pinacoteca reúne obras que fizeram parte dos salões de arte ocorridos no museu desde 1942. Os prêmios eram, então, aquisitivos, aumentando o acervo do local. Entre os artistas, o paisagista Telles Júnior, que retratou com realismo as três enchentes que assistiu de seu quintal na década de 30. "Costumo dizer que se você fica parada alguns minutos na frente de um desses quadros de Telles Júnior, começa a sentir o vento que sopra sobre os coqueiros balançar seus cabelos também", brinca Gertrudes. Há ainda uma coleção de porcelana chinesa e litogravuras de pontos marcantes da cidade.

No andar de cima do anexo, está em cartaz, até 22 de janeiro, uma das mostras do 47º Salão de Artes Plásticas de Pernambuco, que tem curadoria de Luiz Camillo Osórrio e Luisa Duarte.

O acervo indígena, doado por Carlos Estêvão, é formado por mais de três mil peças de 54 tribos do Brasil e dos Andes. A mostra de arte sacra inclui Nossa Senhora do Leite, uma peça do ano de 1700, aproximadamente, que é uma das poucas onde ela aparece amamentando Jesus. As peças de origem africana chagaram de uma forma curiosa ao Museu: a Secretaria de Segurança Pública doou o material de várias apreensões feitas em terreiros, na década de 30. "Ainda bem que eles tiveram a ideia de nos doar esse material, ele é riquíssimo", analisa a museóloga.
Museu do Estado de Pernambuco (Foto: Roberta Rêgo / G1) 
No Museu do Estado, fachada impressa em tecido deixa entrever mobiliário e obras de arte, do tempo de Joaquim Nabuco 
 
 
 
fonte:
http://g1.globo.com/pernambuco/noticia/2011/12/menos-famosos-museus-revelam-diversidade-cultural-do-recife.html

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