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quinta-feira, 15 de março de 2012

"Nós estamos no meio de uma grande mudança na forma como museus se relacionam com a audiência"

"Nós estamos no meio de uma grande mudança
na forma como museus se relacionam com a audiência" 

Tablets mudam a forma de comprar e admirar arte

Em Londres, visitantes percorrem o museu Tate Modern, parando para olhar obras de arte — ou os seus smartphones. Durante a última feira de arte Art Basel, na Suíça, uma colecionadora fechou a compra de um quadro de US$ 250.000 — sentada num salão de cabelereiro de Los Angeles, vendo a obra no seu tablet. Nos dias de hoje, qualquer um que tenha um iPad pode criar a sua própria versão de uma pintura de Damien Hirst, graças a um aplicativo da galeria Gagosian, que há pouco tempo exibiu obras do artista nas suas 11 filiais ao redor do mundo.
Gagosian Gallery
O aplicativo da galeria Gagosian permite ao usuário explorar virtualmente os trabalhos de Richard Serra.
As ferramentas digitais estão mudando a forma como a arte é comprada, vendida ou simplesmente admirada. Colecionadores que antigamente viajavam mundo afora atrás de feiras e leilões de arte estão agora comprando mais obras sem nunca tê-las visto pessoalmente, baseados em imagens digitais. As galerias agora têm a capacidade de mostrar para os colecionadores interessados muitos mais trabalhos do que caberiam nos seus showrooms, simplesmente navegando catálogos digitais. Museus estão encorajando visitantes a usar aplicativos digitais para que tenham mais informações sobre as obras em exibição. Alguns aplicativos de museus e galerias permitem aos visitantes dar um zoom numa obra e ver detalhes mais nitidamente que a olho nu — um recurso que deve se tornar ainda mais poderoso depois que a Apple lançou esta semana seu novo iPad, que tem uma resolução de tela mais alta.
"Nós estamos no meio de uma grande mudança na forma como museus se relacionam com a audiência", diz Peter Samis, curador associado de mídia interpretativa do Museu de Arte Moderna de San Francisco. "Há uma crescente demanda no nível mais alto, com os curadores todos perguntando: 'Onde está o nosso aplicativo para iPad?' em qualquer museu, grande ou pequeno, de toda a América."
Funcionários das sociedades de leilão Christie's e da Sotheby's dizem que estão vendo cada vez mais iPads e outros aparelhos encher as salas durante as vendas. A Christie's, que já permite lances remotos através do seu website, pretende estender o recurso para o seu aplicativo de iPad no mês que vem, juntamente com novas funções de acesso a relatórios sobre as condições das obras. A Sotheby's acabou de atualizar o seu aplicativo de catálogo no iPad, para que os colecionadores possam tomar notas em seus catálogos digitais durante as vendas.
Os tablets também estão se tornando corriqueiros em feiras de arte. Em junho passado, na Art Basel da Suíça, o vendedor Adam Sheffer, sócio da galeria Cheim & Read, de Nova York, encontrou-se com um cliente interessado em uma obra de Ghada Amer, uma pintora egípcia cujos trabalhos exigem intensa mão-de-obra e contêm complexos bordados. As obras da galeria estavam catalogadas no iPad por meio do ArtBinder, um aplicativo que está rapidamente substituindo os uso de catálogos físicos nas feiras de arte. O colecionador de Los Angeles estava prestes a comprar a obra, mas ele queria o aval da esposa, que estava a quase 10.000 quilômetros de distância, num cabeleireiro em Los Angeles. Sheffer enviou por email uma imagem ampliada da obra para a esposa, que concordou com o negócio de US$ 250.000. "A coisa toda levou uma hora", diz Sheffer.
O colecionador Dennis Scholl, de Miami Beach, diz que vídeo e fotografia são uma combinação natural quando ele pensa em comprar uma obra de arte baseado em uma imagem digital; já no caso das esculturas, com suas questões de escala, e dos desenhos, com suas gradações sutis de tonalidades, ele prefere ver as obras pessoalmente. Scholl há pouco tempo adquiriu um trabalho de Tamy Ben-Tor, uma artista israelense que cria vídeos e fotografias de personagens que ela mesmo representa. Ele usou seu iPad para ver o vídeo de Ben-Tor como uma anciã numa floresta. "O iPad, por causa da beleza das imagens e da clareza da reprodução, torna você um colecionador mais corajoso", diz ele.
Ferramentas digitais também podem ajudar colecionadores a organizar grandes inventários de obras localizadas em diversos lugares do mundo. A curadora Laura J. Mueller cataloga mais de 700 trabalhos japoneses, espalhados por duas casas e um depósito, para um colecionador privado de Nova York, organizando as imagens digitais das peças com um iPhone e um aplicativo de iPad, o Collectrium.
Várias galerias de arte lançaram aplicativos digitais, em parte para atender colecionadores que dependem dos seus aparelhos quando estão comprando arte. Com a função Damien Hirst no aplicativo da galeria Gagosian, desenvolvido pela @radical.media, uma firma de Nova York, usuários não apenas podem ver as "pinturas em tempo real" do artista, mas também manipular os trabalhos para criar novas versões digitais, mudando temporariamente as cores e o tamanho dos pontos ao inclinar e apertar a tela. É ao mesmo tempo uma elegante ferramenta de marketing e um meio original de engajar potenciais compradores.
Cerca de 34.000 pessoas baixaram de graça o aplicativo da Gagosian desde que a primeira versão foi lançada, em junho, diz Kara Vander Weg, gerencia o aplicativo na Gagosian. Vander Weg diz que o dono da galeria, Larry Gagosian, e seus amigos têm iPads, e que eles notaram que os aparelhos vem sendo ubíquos nas feiras de arte. Então, criar um aplicativo tornou-se uma prioridade para os executivos da galeria. "Eles todos chegaram à mesma conclusão", diz ela. "Esse deve ser o nosso próximo passo."
Os museus também estão chegando à mesma conclusão. O Guggenheim de Nova York desistiu das tradicionais placas na parede, na sua recente exposição das esculturas do artista italiano Maurizio Cattellan; em vez disso, colocou todas as informações sobre os trabalhos expostos num aplicativo que os visitantes podiam baixar para os seus iPads e smartphones. O museu também pôs iPads nas mãos dos seus guias durante a atual exposição das obras do falecido escultor americano John Chamberlain, mais conhecido pelos seus trabalhos feitos com pedaços amassados da lataria de carros. O aplicativo oferece informações adicionais sobre o artista, bem como um vídeo em que ele aparece trabalhando. Kim Kanatani, diretor de educação do museu, diz que essas táticas são fundamentais para aumentar "a média de três segundos" que os visitantes geralmente passam em frente a uma obra.
O Tate Modern de Londres apresentou há pouco tempo seu aplicativo gratuito para iPhone, o "Correndo Contra o Tempo", no qual um camaleão viaja pelos grandes movimentos artísticos, enfrentando inimigos como garrafas verde de absinto e um Pablo Picasso que cospe fogo. Usuários só conseguem ativar o "turbo" quando estão dentro do museu Tate — um modo de atrair mais visitantes.
No Museu de Arte Antiga e Nova, uma coleção guardada entre as paredes escuras de um espaço subterrâneo em Tasmânia, Austrália, nenhuma peça tem placa de identificação. Em vez disso, o museu equipa os visitantes com iPhones Touches, os quais eles podem usar para aprender mais sobre as obras e votar se eles amam ou odeiam um determinado trabalho, recebendo uma resposta imediata com a opinião dos outros visitantes. As obras de arte podem mudar de posição no museu dependendo das avaliações, e o museu pode até decidir exibir um trabalho que todo mundo diz que odeia num lugar proeminente, em parte para perturbar o status quo, diz Nic Whyte, diretor de criatividade e cofundador da Art Processors, que ajudou a conceber a estratégia digital do museu.
À medida que os museus continuam a integrar mais aparelhos móveis às suas exposições — o Museu de Belas Artes, de Boston, agora oferece tours multimídia em 750 iPod Touches alugáveis — funcionários estão debatendo como incorporar a tecnologia sem tornar o visitante no que no setor chamam de "zumbis de galeria", aqueles que param a alguns centímetros de uma obra de arte e mantém os olhos grudados nas suas telas.
A colecionadora e consultora de arte Lauren Prakke, de Londres, diz que gadgets já são parte dos eventos da arte. "Às vezes você pensa, uau, você tem algumas das mais incríveis obras do mundo na sala e alguém está olhando para o telefone", diz ela. "Eu falo: 'Por acaso eu sou a única que está admirando a arte?'".


fonte: EDISON MARIOTTI - @edisonmariotti
http://online.wsj.com/article/SB10001424052970204781804577272132630133116.html

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