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segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Museu do Louvre constrói 'onda' para arte islâmica


Uma duna dourada é a mais nova ala do Louvre, em Paris. Mais de 20 anos depois de erguer a pirâmide de vidro que hoje é símbolo do maior museu do mundo, uma das cortes da antiga residência real está ocupada por uma nova galeria de arte islâmica.

Em forma de onda, a construção, que custou R$ 250 milhões e levou cinco anos para sair do papel, vai abrigar a partir do mês que vem um conjunto de mais de 20 mil peças de arte ligadas à cultura muçulmana, um acervo colecionado desde o século 19.

Enquanto a faraônica filial do Louvre em Abu Dhabi, projetada por Jean Nouvel, tem a construção quase paralisada pela crise econômica, franceses dão agora no coração de Paris um passo para estreitar os laços com o islã.

Existe uma razão geopolítica para isso, diz Gwenaëlle Fellinger, uma das diretoras do departamento de arte islâmica do Louvre, em entrevista à Folha. É uma maneira de promover um diálogo entre as civilizações, já que o Louvre é um museu universal, não só europeu ou francês, então essa coleção precisa estar num lugar especial.

Isso num país que no ano passado aprovou uma lei restringindo o uso do véu islâmico. Ironia ou não, o projeto da nova ala lembra um véu, mas teve esse apelido vetado por arquitetos durante as obras, que preferiram encarar o desenho como tenda beduína, asa de libélula ou mesmo duna de ouro.

Debaixo dessa duna, uma galeria de 3.000 metros quadrados vai abrigar peças como uma pia batismal de mais de 600 anos, feita de ouro e prata e usada para batismos da realeza, um globo terrestre encontrado no Irã em 1145 e esculturas de marfim vindas da Espanha há mil anos obras que datam do longínquo século 7 até o século 19.

PELE DOURADA

Mario Bellini e Rudy Ricciotti, os arquitetos da ala islâmica, tentaram evitar que as formas fluidas do desenho prejudicassem a visão do pátio interno construído no século 19, criando uma construção orgânica que se funde ao entorno com paredes de vidro, sem alterar as fachadas mais antigas do Louvre.

Queríamos dar a impressão de levitação do teto, acentuada por uma fachada contínua de vidro, escreveu Bellini em seu projeto. Sem nenhum tipo de marcenaria exposta, conseguimos uma invisibilidade quase mágica, o teto parece mesmo flutuar.

Essa invisibilidade também se deve à transparência da cobertura, que filtra a luz do sol num delicado jogo de iluminação natural e artificial das peças na galeria.

É uma pele dourada com grandes escamas triangulares, que controlam a luz solar, essencial para ver esse tipo de obra, escreve Bellini. Essa é a presença física e visível dessa espécie de véu.

Num complexo projeto de engenharia, a cobertura tem espessura variável, que responde à carga que precisa suportar em cada ponto da construção. Tudo isso se sustenta sobre oito pilares, também desenhados para quase sumir no interior da galeria.

Tanto apreço pelo invisível também parece antecipar a possível resistência dos mais conservadores, que não querem ver nada de arquitetura contemporânea enfiada no monumento que é o Louvre.

Na época da pirâmide de I. M. Pei, inaugurada em 1989, o museu foi alvo de protestos em Paris. Isso foi o primeiro exemplo de arquitetura contemporânea no Louvre, diz Fellinger. Mas hoje a pirâmide é um símbolo do museu, e talvez a ala islâmica acabe virando um também.

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