Um regresso a casa 100 anos depois
Na Rússia ninguém conhece o decorador, arquiteto e
pintor Nikolai Ferdinandov, os seus quadros não existem nos museus
russos, no entanto ele é um dos artistas russos que, no início do século
XX, criaram a arte nova. Os
seus companheiros de exposição foram Goncharova, Malevich e muitos
outros pintores que depois constituíram a fina flor da vanguarda russa.
Mas Ferdinandov não é recordado entre eles.
A obra do
artista viria a influenciar a arte de um país completamente diferente.
Ao abandonar a Rússia em 1915, Nikolai Ferdinandov radicou-se na
Venezuela e tornou-se num dos maiores mestres desse país
latino-americano.
Cada emigrante tem as suas razões
para abandonar o seu país natal. Nikolai Ferdinandov não queria combater
nas frentes da Primeira Guerra Mundial. Primeiro ele foi para Nova
Iorque e aí se dedicou à arte da joalharia. Isso não é de estranhar,
pois ele era um mestre dos sete ofícios!
Nessa
altura, a Venezuela, que ele visitou para comprar pérolas, entrou na sua
esfera de interesses. Nikolai Ferdinandov viveu bastante tempo na costa
do Mar das Caraíbas, construiu um estúdio sobre estacas parecido com
uma casa com patas de galinha
dos contos russos, onde pintava os seus quadros. O tema das suas obras
era o mar, o mundo subaquático e a riqueza da floresta tropical. Os
jogos de luz e sombra atraiam Ferdinandov tanto quanto os jogos de
cores.
Em 1920, Ferdinandov mudou-se definitivamente
para a Venezuela, onde rapidamente mergulhou no centro da vida cultural
da capital venezuelana. O seu apartamento de Caracas transformou-se numa
espécie de salão de jovens pintores e escritores. Ele organizava
exposições coletivas, concertos, eventos. Com cada vez maior frequência
ele era chamado de El Ruso.
Foi
quando apareceu na sua vida o seu fiel amigo e seguidor Armando
Reverón, que décadas depois se tornará no orgulho da Venezuela. Os
venezuelanos comemoram o Dia do Pintor precisamente no dia do seu
aniversário.
Na Venezuela, o nome de Nikolai Ferdinandov está em todas as enciclopédias de arte, sobre a sua vida foi escrito o romance O Estrangeiro.
Por que foi o pintor esquecido na Rússia? Por que razão a sua herança
artística não foi estudada até ao fim? A comissária da exposição Anna
Mapolia partilhou alguns pormenores com A Voz da Rússia:
"Todas as obras conhecidas de Ferdinandov estão conservadas na Galeria de Arte Nacional
da Venezuela. Ele produziu um grande volume de pinturas, mais de cem,
que ele queria, ainda em vida, expor na Europa e na sua pátria, na
Rússia. Ele morreu tragicamente em 1925 e a sua jovem esposa, com as
duas filhas, mudou-se para a Europa. Foi assim que muitos dos seus
quadros apareceram em França onde, segundo consta, terão desaparecido
num dos bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial. Contudo, conseguiu-se
descobrir uma dessas obras. Trata-se de um mosaico que se encontra
agora no Líbano, no Museu Amin Rihani.”
A
probabilidade de os quadros de Nikolai Ferdinandov se encontrarem em
coleções privadas é bastante mais elevada. Talvez depois da exposição de
Moscou, que é acompanhada de um belo catálogo, se encontrem mais obras
deste notável pintor russo.
fonte:
http://portuguese.ruvr.ru/2012_09_14/Um-regresso-a-casa-100-anos-depois/
Nenhum comentário:
Postar um comentário