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sábado, 16 de março de 2013

Afinal, para que servem os museus?






Para refletir - As instituições museológicas de Florianópolis atendem à suas finalidades sociais?



Museus servem à formação, à convivência e à construção de sentidos
Museus são como pontes, portas e janelas que ligam e desligam mundos, tempos, culturas e pessoas diferentes. A definição está na página do Ibram, o Instituto Brasileiro de Museus, e carrega uma carga conceitual subjetiva que convida à reflexão: afinal, para que servem esses cubos brancos, alguns muito velhos, outros tão modernos, que guardam resquícios do passado ou exemplares das nossas artes – as do ontem, do hoje e as possibilidades para o amanhã? A reflexão vai além: qual a função social dos museus? As instituições de Florianópolis estão cumprindo esse papel?
À parte as visitas das escolas e as aberturas de exposições, que reúnem em geral os mesmos rostos em brindes com vinho quente e barquetes, os principais museus da cidade contemplam o vazio. Muitas tardes o Masc (Museu de Arte de Santa Catarina), um dos mais importantes do país, fica às moscas, como o próprio presidente da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), Joceli de Souza, chegou a admitir.  O que há presença é apenas obras de artes incompletas por não serem apreciadas por ninguém. “Uma boa exposição não é o suficiente”, provoca o diretor do departamento de processos museais do Ibram, Cícero Antônio Fonseca de Almeida, 50.
“É preciso questionar: os museus estão satisfeitos com suas salas vazias? Qual a solução? Trazer mostras internacionais, ou grandes grifes, como os impressionistas? O que está falhando é a comunicação?”, questiona o diretor. São perguntas que os administradores dos espaços museológicos deveriam fazer todos os dias. Alguns da cidade o fazem, procurando estabelecer diálogos interculturais. É o caso do museu Victor Meirelles e da Fundação Cultural Badesc (que não se caracteriza como museu por não ter acervo, mas se consolidou como um espaço de atividades culturais e mostras de arte contemporânea). Mas a situação ainda deixa a desejar, tanto por parte da população, que precisa urgentemente rever seus hábitos culturais, quanto por parte dos administradores públicos, que têm o dever de democratizar e principalmente estimular o deleite cultural.
Exposições são como as mídias dos museus
Até o começo deste ano, as exposições e atividades realizadas nos três principais museus administrados pela FCC (Fundação Catarinense de Cultura) em Florianópolis eram decididas sem o respaldo de uma comissão técnica e exclusiva para as especificidades de cada espaço. Em 24 de janeiro três portarias constituíram comissões de acervo e de pauta do Masc (Museu de Arte de Santa Catarina), do MIS (Museu da Imagem e do Som) – os dois localizados dentro do CIC (Centro Integrado de Cultura) - e do MHSC (Museu Histórico de Santa Catarina) / Palácio Cruz e Sousa, no Centro.
A FCC estabeleceu prazo de 30 dias para compor uma comissão de pauta com oito pessoas. Até a última sexta-feira, 43 dias depois das portarias, a comissão ainda não estava formada, porque “algumas entidades convidadas a participar ainda não fizeram a indicação dos representantes”, segundo a assessoria de imprensa da Fundação. O prazo agora é até 15 de março.
A ausência de uma comissão de pautas regulamentada e a seleção por editais pode repercutir na visitação de espaço como o Masc, MIS e MHSC. As comissões, em geral, analisam os pedidos de exposição, relevância e duração de uma mostra em um museu, assim como podem opinar em atividades complementaresO fato de o CIC ter ficado fechado por quase três anos para reformas, que ainda não terminaram – ainda falta uma ala – também interrompeu uma rotina de visitação conquistada em décadas. A agenda da instituição está retomando aos poucos a agilidade de outros tempos.
 Diálogos interculturais
Para a diretora da divisão de museologia do museu de arqueologia e etnologia da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), Cristina Castellano, os espaços museológicos, de maneira geral, devem não só contar a história de um povo ou a sua arte, como também problematizar questões contemporâneas. “Por exemplo, trazer questões da comunidade para dentro do museu por meio de outra linguagem, por exemplo, como debater a sexualidade feminina ao longo da história por meio de videoarte, uma performance teatral, de dança, de audioperformance”, diz. Nesse sentido, não bastam apenas exposições. É preciso sair do lugar comum e superar as livrescas mostras de texto e imagem, que já não provocam o público.
Em Florianópolis duas instituições se destacam por promoverem eventos de formação e estimularem o público a ficar mais próximo. O museu Victor Meirelles e a Fundação Cultural Badesc, ambos no Centro, provam que é possível manter um diálogo aberto entre passado e contemporaneidade.
“No que diz respeito às exposições com curadoria da equipe, um dos critérios é  buscar novos sentidos para o acervo”, afirma o historiador e curador Fernando Boppré, ex-chefe de serviço do museu Victor Meirelles. Nessa instituição as exposições ocorrem via seleção por edital público, além das mostras feitas com curadoria da equipe. O museu funciona num sobrado antigo onde nasceu Victor Meirelles (1832 – 1903), e possui um acervo com obras do artista e de outros de sua época, mas dá lugar também para a linguagem contemporânea nas artes e aos artistas de fora do Estado.
Já o presidente da FCC, Joceli de Souza, que responde pelos administradores dos museus do Estado na Capital, acredita que os espaços devem valorizar os artistas locais. “A gente procura valorizar e dar atenção aos artistas da terra”, afirma, reforçando a ideia de priorizar espaço no Masc, MIS e MHSC aos artistas que produzam em Santa Catarina. “Acho que não pode ser nem uma coisa, nem outra. Há um papel histórico do que se espera dos museus, de que serão guardadores de sua essência. Isso não significa que a agenda não possa dialogar. Não vamos fazer xenofobia. A abertura é inclusive uma atitude menos provinciana”, contrapõe o diretor de processos museais do Ibram, Cícero Antônio Fonseca de Almeida.
“O trânsito intercultural é muito contemporâneo hoje”, continua Almeida. “O conhecimento das outras formas alimenta o pensamento crítico.” Ele também discorre sobre a prática de seleção de mostras por editais. “Isso tem sido um caminho, é uma prática democrática e republicana, uma forma de as agendas serem transparentes. As mostras não podem ser decididas por alguém sentado na cadeira.”
Formação de público
Os museus têm papel educativo na sociedade. Objetos e textos devem apenar ser pretextos para que se faça a construção da informação e do pensamento crítico. A Fundação Cultural Badesc, criada em 2006, desde o começo contou com editais para seleção de mostras em seu espaço e uma comissão julgadora composta por três membros, renovada a cada ano. Em 2012 sediou 11 exposições – o Masc sediou oito.
Mas a quantidade de mostras é um detalhe diante da rotina semanal de atividades nas áreas de artes, cinema, música e literatura. “Todos eventos são gratuitos, o que garante a presença e a formação de público e o acesso irrestrito. As pessoas tem carência por atividades de qualidade. É sempre complexo saber se estamos ou não cumprindo o papel, mas cabe ressaltar a satisfação manifestada por quem frequenta a casa em relação às atividades oferecidas”, afirma Lena Peixer, diretora de artes da Fundação.
Atividades culturais como essas poderiam ser uma alternativa para que exposições de longa duração se reciclem. É o caso da exposição “Guerra do Contestado: 100 anos de Memórias e Narrativas”, que começou no dia 22 de outubro de 2012 no MHSC e foi prorrogada até 2 de junho de 2013. Além de longa, o espaço não propôs uma agenda de discussões e reflexões acerca da exposição com o público em geral, em somente um encontro para estudantes de museologia e o curador da mostra. “Por isso é preciso criar mecanismos de discussão e debate da agenda contemporânea”, diz Cícero Antônio Fonseca de Almeida. O passado precisa ser debatido para repensar o que se quer no futuro.
Saiba Mais
- Segundo o Ibram, existem cerca de 3.000 museus em todo o mundo. Infelizmente, a maioria nas regiões de maior concentração de renda.
- Masc tem agenda de exposições fechada até dezembro com os artistas Clara Fernandes (até 31/3), Lair Leoni Bernardoni (12/4 a 12/5), AsBEA (22/5 – 16/6),0 Flávia Fernandes (26/6 a 28/7), Tércio da Gama (7/8 a 8/9), Luciano Martins (25/9 a 27/10) e 11º Salão Victor Meirelles (até janeiro de 2014)
- As atividades no MHSC para as próximas semanas são relacionadas ao Dia Internacional da Mulher (celebrado na sexta, 8/3) e às atividades da Maratona Cultural de Florianópolis, entre 22 e 24/3
- O Mis foi reativado no ano passado, e atualmente sedia a exposição “Os Tesouros do Cinema” – Making Off do Filme “O Tesouro do Morro da Igreja”.
- A Fundação Cultural Badesc tem atividades diárias, de segunda a sexta, que englobam atividades de cinema, literatura, artes visuais e música.
- No âmbito municipal, a galeria Pedro Paulo Vecchietti, vinculada à Fundação Franklin Cascaes, conta com uma agenda morna de atividades e mostras.
- O museu Victor Meirelles, além de visitas mediadas, realiza o Projeto Agenda Cultural, que opera como um espaço aberto à discussão sobre arte, cultura e patrimônio na contemporaneidade, com oficinas, palestras, exibições de filmes, concertos musicais, entre outras atividades
Publicado em 10/03-10:18 por: Carol Macário. 
Atualizado em 16/03-11:11
fonte:
http://www.ndonline.com.br/florianopolis/plural/55421-afinal-para-que-servem-os-museus.html

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