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terça-feira, 11 de junho de 2013

Com o quarto maior acervo do país, museu curitibano ganhou mil novas espécies de plantas com frutas e flores, algumas ainda não catalogadas pela ciência


Expedição rende bons frutos ao Museu Botânico




O herbário do Museu Botâ­­nico Municipal conquistou um saldo positivo da última expedição, iniciada no dia 12 de abril e finalizada na semana do Dia Mundial do Meio Ambiente. Após 23 dias de viagem pelos estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais, a equipe de técnicos coletou mais de 10 mil exemplares de plantas que passaram a integrar o acervo, considerado o quarto maior do país. Desse número, foram identificadas mil espécies novas, algumas ainda nem catalogadas pela Botânica – um prato cheio para pesquisadores da área de ciências biológicas.

Realizadas de quatro a seis vezes por ano, as expe­­dições percorrem todo o Brasil e compõem o esforço pela ampliação do conhecimento científico no campo da Botânica.

O curador do herbário do Museu Municipal, Osmar Ribas, é o responsável pela coleção. “Faço algumas expedições. Em outras tenho que mandar a equipe. O curador é como se fosse um gerente da coleção toda, na parte científica”, explica.

Primeiramente, o pesquisador vai a campo, localiza e coleta o material, procurando conservar as estruturas reprodutivas, como os cabinhos com flores – eles servirão de base para que um especialista possa identificar a espécie. Na sequência, a coleta é posta em estufa, desidratada e costurada em folhas de cartolina. Por fim, as plantas são enviadas ao especialista e é separado um exemplar de cada espécie nova para o herbário.

Fundador

Falecido no dia 16 de abril deste ano, Gerdt Guenther Hatschbach foi considerado o maior botânico de campo do Brasil e um dos maiores do mundo. Referência nacional e internacional no assunto, Gerdt nasceu em 22 de agosto de 1923, em Curitiba. Formou-se em Química Industrial, em 1945, pela Universidade Federal do Paraná. Doutor Honoris Causa em Botânica, coletou mais de 82 mil plantas, entre elas cerca de 500 espécies novas para a ciência.

Em 1965, a convite do então prefeito de Curitiba Ivo Arzua Pereira, organizou o Museu Botânico Municipal exercendo a função de chefia – cargo que sustentou até a morte.

O biólogo Osmar Ribas, atual curador do herbário do Museu Municipal, conviveu por mais de 20 anos com Gerdt. “Ele sempre vai fazer muita falta. Mas o seu legado foi uma equipe muito bem treinada. Deixou, inclusive, pré-programados os roteiros que a gente deveria fazer. O maior medo dele era de que não houvesse continuidade e o herbário perdesse a funcionalidade”, comenta Osmar. “A equipe que está aqui pegou todo esse jeito dele. É uma equipe que tem brilho nos olhos e faz as coisas com amor”, completa o curador.





Tecnologia

Armazenamento eletrônico de dados facilita o trabalho de curadores

A modernização no gerenciamento dos museus herbários tem sido cada vez mais difundida, principalmente com a difusão das novas tecnologias. É o caso do Brahms – Botanical Research and Herbarium Management Systems –, um software de banco de dados para a pesquisa botânica. Curador do Parque da Ciência Newton Freire-Maia, em Pinhais, Rony Ristow explica que o sistema é uma ferramenta fundamental para o gerenciamento de coleções, e que existe uma equipe de pessoas fora do país atualizando a plataforma e criando novas versões.

“É um software específico para pesquisadores da área. Se você tem a planta seca, com a informação na etiqueta, sem o formato digital, o especialista é quem vai levar a informação ao público geral. E a partir do momento que esse processo é digital, isso é agilizado”, aponta Rony. O Parque da Ciência recebeu, nos últimos dias 3 e 4, uma oficina chamada destinada a curadores e técnicos de herbários sobre a ferramenta.

Para Silvia Venturi, bióloga funcionária do Herbário Flor, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o processo de transposição digital das informações é recente e está ocorrendo no mundo inteiro. “Nós tínhamos bibliotecas que funcionavam pelo sistema de fichinhas. Atualmente, todas têm sistemas digitais. O número de coletas pode ser uma informação extremamente rara, de uma espécie que foi extinta ou muito difícil de ver e coletar.”

A professora de Botânica da Universidade Estadual de Londrina (UEL) Ana Odete Santos Vieira ressalta a relevância da disponibilização pública dos dados. “As pessoas passam a saber que determinadas áreas são de preservação. E o banco de dados pode ajudar na tomada de decisões em diferentes níveis de governo”, observa. Para ela, os políticos podem, por exemplo, ser influenciados a não iniciarem obras em locais onde há plantas raras. “Divulgar esses dados, o nome correto, é bastante importante”, completa Ana.

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