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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Trajetória intelectual e vanguarda


O livro reúne um conjunto de textos de autoria de Walter Zanini, professor da Universidade de São Paulo (USP), falecido em janeiro de 2013. Zanini era historiador e crítico de arte, foi o primeiro diretor doMuseu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, responsável por sua instalação junto à universidade. Alguns textos constantes da publicação são inéditos; uma grande parte resulta de sua reflexão motivada pelo desafio de construir um projeto para o novo museu que nascia em São Paulo; outros foram elaborados em função das suas curadorias na bienal ou de participação em eventos.
Resenha_Zanini

Os temas são: museus e museologia, novas tecnologias em arte – em especial videoarte, que surgia na época, bienais, universidade, arquitetura de museus. E há também comentários sobre artistas modernos e contemporâneos, apresentações de exposições que organizou e textos sobre os desafios de um museu atento à atualidade da arte e da cultura.

O projeto de publicação é de Cristina Freire, primeira professora titular do MAC. O livro resulta de seu trabalho de pesquisa sobre arte conceitual que a levou a investigar a gestão do professor Zanini, incentivador e introdutor dessa vertente da arte na instituição, ao promover eventos que resultaram na formação do mais importante acervo internacional da América do Sul nesse campo.

Com a seleção de textos realizada, Cristina Freire desenha a personalidade intelectual de Zanini, ao mesmo tempo que revela seu perfil vanguardista no desafio de construir um novo museu da USP. O livro traz ainda cronologia de todas as exposições realizadas pela instituição na gestão de Walter Zanini, que se estendeu de 1963 a 1978.

Em sua apresentação – um denso estudo sobre a prática intelectual de Zanini — a organizadora põe em evidência que, naquele período, o MAC-USP se tornaria um laboratório para os artistas, assim como seria um espaço de inovações pertinentes a um museu em coerência com as novas tendências da arte. Freire observa que “a serem levadas a outros contextos, essas ideias transformariam radicalmente as maneiras de conceber exposições e instituições nas décadas seguintes no Brasil”.

Na leitura do ensaio da autora e dos textos que reuniu em Walter Zanini, escrituras críticas tem-se a oportunidade de conhecer a trajetória de Zanini e seu legado à cultura brasileira. O livro é fartamente ilustrado com imagens de eventos e documentos de época, o que contribui para a reconstrução histórica dos primeiros 15 anos de trajetória do MAC.

Alguns aspectos da prática intelectual de Zanini analisados pela autora devem ser salientados: a ideia de um museu que põe em convivência o acervo histórico e a contemporaneidade, transformando-se em lugar para a ação dos artistas – um museu como espaço operacional onde produção e recepção podem confluir; a procura de uma ação em rede, capaz de causar forte efeito sobre a realidade cultural, criando-se um trânsito de exposições e obras, de ideias e inovações no campo da arte e da museologia, com as mostras de arte postal e exposições itinerantes de acervo ou com exposições internacionais relevantes trazidas ao museu. Desenha-se o perfil de um diretor de museu que pensou a criação da Associação dos Museus de Arte do Brasil (Amab), a qual proporcionaria intercâmbios entre os museus brasileiros; um diretor que, mais tarde, em reunião dos Museus de Arte Moderna (Cimam), lançará a ideia de uma associação de museus latino-americanos e depois, quando foi curador da 16ª e 17ª bienais, projetaria uma associação de bienais. Portanto, um diretor que pensava práticas na esfera das políticas públicas.

A autora informa que, para ampliar a comunicação com o público, além do boletim informativo mensal do MAC, Zanini concebeu um programa, que não se concretizou, de mostras para serem realizadas em um vagão de trem especialmente adaptado (o projeto chegou a ser feito por Lina Bo Bardi). Deslocando-se, o trem levaria às cidades do interior do estado de São Paulo exposições de arte e outras atividades culturais como conferências.

A construção por Zanini de um acervo multimídia para o museu e suas inovações na organização da Bienal de São Paulo são outros pontos densamente analisados pela autora.

O livro é leitura obrigatória para os interessados em arte e cultura, exposições e museologia.

Lisbeth Rebollo Gonçalves é professora titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) e presidente da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).

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