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domingo, 18 de maio de 2014

Museus são pouco explorados pelos sorocabanos


Hoje é o Dia Internacional dos Museus. Sorocaba tem 8 unidades, 5 sob cuidados da Prefeitura



Uma cidade com oito museus, pouco explorados pela população. Em Sorocaba, durante a semana, as visitas são feitas apenas por escolas, que agendam horário. Nos outros períodos do dia, os museus não recebem ninguém. São espaços vazios, carentes de público e também de atenção por parte de seus administradores, que precisam dinamizar os espaços, para que sejam considerados atrativos. Hoje, Dia Internacional dos Museus, a data serve como estímulo à reflexão sobre o que tem sido feito desses acervos e a sua importância para a sociedade.

A Prefeitura é responsável por cinco deles: Casarão de Brigadeiro Tobias, Museu Histórico Sorocabano, Museu da Estrada de Ferro Sorocabana e Casa Aluísio de Almeida (que abriga o Museu da Imagem e do Som e o Museu Sorocabano de História Militar). A cidade ainda tem o Museu de Arte Contemporânea de Sorocaba (Macs), administrado pela Associação de Educação, Cultura e Arte (Aeca), uma entidade sem fins lucrativos; o Museu da Computação e Informática, fundado em 2000 por Carlos Rogério Piaya de Camargo; e o Museu Arquidiocesano de Arte Sacra Comendador Luiz Almeida Marins (Madas-Lam), que tem como presidente o arcebispo Dom Eduardo Benes Sales Rodrigues e diretor administrativo e financeiro Pedro Benedito Paiva Júnior.

Fechado há 11 anos, o Museu de Arte Sacra ganhou sede própria este ano e abrirá novamente suas portas ao público. Todo o acervo, que está no andar superior da Catedral Metropolitana, será transferido para a Capela Sagrada Família, situada na rua Visconde do Rio Branco, Vila Jardini.


Situação crítica



Dentre os espaços administrados pela Prefeitura, o mais crítico continua sendo o Casarão de Brigadeiro Tobias, primeiro pelo acesso ao local - uma rua de terra estreita e com mato com quase dois metros de altura -, depois pelo pequeno acervo, que é todo emprestado. Em 2012, foram furtadas as peças da reserva técnica dos museus de Sorocaba, que compunham praticamente todo o acervo do casarão de Brigadeiro Tobias, que incluía arreios e utensílios do tropeirismo dos séculos 19 e 20. Material que não foi localizado.

O espaço sobrevive pelo esforço da diretora Sonia Nanci Paes, que é apaixonada pelo local e toda a história de tropeirismo que o envolve, e também pelo empenho do tropeiro Álvaro Augusto Antunes de Assis, que além de ceder o seu acervo particular, ainda faz o trabalho de monitoria, de forma voluntária.

Sonia reconhece que há problemas com o acesso e afirma que precisaria, em primeiro lugar, ter uma passarela para pedestres. "Para ser usada para quem vem de ônibus e estudantes do bairro, que são os mais prejudicados. Vejo mãe com criança tendo de atravessar a pista, é perigoso. Tem crianças de escolas do bairro que vem aqui a pé, caminhando", afirma.

Sobre o acesso para veículos, que antigamente era feito pela rodovia, Sonia acredita que será resolvido futuramente. "Conforme a ViaOeste isso aqui é provisório pois essa estrada vai virar avenida. A concessionária informou que se abrir agora, o risco de acidente é grave", disse.

A atual entrada pela rua de terra, que é sem saída, também oferece risco. "Vem caminhão por essa rua em alta velocidade, porque no GPS aparece que tem acesso à rodovia", diz.

Com relação ao parque ecológico que tinha no fundo do casarão, Sonia afirma que ali é uma Área da Preservação Permanente (APP) e que depois que a população deixou de ter acesso, foi notado o retorno de animais como o veado campeiro e pássaros noturnos. "Aqui tem de ser um lugar para pesquisa, direcionado a aulas de educação ambiental, aliadas à questão do patrimônio", defende. "Aqui é um oásis dentro de Sorocaba", acrescenta.

No caso de ser novamente transformado em um parque, com trilhas, ela afirma que tem de ser feito algo com monitoria. "Tem de ser algo bem estudado, para que a natureza seja preservada", defende.

O rio que passa por ali tem de ser recuperado, observa. "Tem uma empresa que faz picles e que está poluindo aqui, joga tudo no rio, tem muita coisa que precisa ser vista", disse Sonia, acrescentando que trata-se do rio Inhayba, que nasce na Serra de São Francisco e cujas águas são captadas pela ETA do Éden. "A questão ambiental é muito séria, nós perdemos muita coisa", lembra.

Sonia comenta também sobre o comportamento dos moradores ao redor. Conforme ela, os adultos jogam lixo na estrada. "A Prefeitura limpa, no dia seguinte está cheio de lixo de novo. As pessoas precisam criar essa consciência", diz.

A diretora do museu afirma que é preciso investimento na estrutura do museu e também para atender funcionários.



Motivo de elogios



Apesar de ainda não estarem disponíveis ao público, os dois museus localizados no interior da Casa de Aluísio de Almeida - Museu da Imagem e do Som e Museu Sorocabano de História Militar - têm um acervo considerável. O da Imagem e do Som, por exemplo, tem fotografias de Sorocaba feitas por Rogich Vieira, já o de História Militar tem material sobre a revolução constitucionalista. A Casa de Aluísio de Almeida passou por reforma e o espaço está à altura do que um museu merece: bem cuidado. Há acessibilidade para deficientes e um auditório para palestras com capacidade para 100 pessoas, novo e equipado.

Conforme o professor Adilson Cezar, presidente do Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba (IHGGS), cuja sede é a Casa de Aluísio de Almeida, no momento está sendo feita a catalogação do acervo da biblioteca, para depois serem organizados os materiais dos museus.

A biblioteca tem acervo pertencente ao historiador Aluísio de Almeida. São em torno de 5 mil livros, para pesquisas no local. "Conseguimos a primeira etapa [referindo-se à reforma]. Temos um abrigo seguro, mas agora o que precisamos é organizar o material. Estamos com dois voluntários e contando com a ajuda de uma bibliotecária da Biblioteca Municipal para fazer a devida catalogação do acervo", explica.

Com relação ao Museu da Imagem e do Som, Adilson Cezar afirma que está precisando de técnicos, pessoas gabaritadas para ajudar. "Temos os negativos que eram de Rogich Vieira. O material está se deteriorando com o tempo, precisamos de software apropriado, algo barato, acessível, só que passamos 2013 sem receber verba e nenhum convênio com a Prefeitura", afirma. Conforme ele, a esperança era receber verba dos vereadores, mas as emendas no orçamento foram suspensas e não houve substituição. "Enquanto isso não acontece, tomamos iniciativas de menor extensão, como a reprodução dos antigos filmes de Landa Lopes para DVD, que está contando com colaboração de voluntários", conta.

Também o acervo do Museu de História Militar está encaixotado. "Estamos esperando alguém disposto a ajudar de forma voluntária, ou conseguirmos alguém através de convênio. Estamos tomando as atitudes possíveis, mas precisamos tomar atitudes mais concretas porém dependemos de verba e de mão de obra profissional".

Também o Museu da Estrada de Ferro Sorocabana, conhecido como Museu do Ferroviário, é de dar orgulho. Bem organizado, com acervo considerável e material de pesquisa.

Já quanto ao Museu Histórico Sorocabano, apesar de cumprir o papel de contar a história da cidade por meio das salas de exposição, é possível notar que os espaços estão mais vazios. Antigamente o público tinha acesso a mais objetos e informações. Hoje, por exemplo, entre outros materiais que não estão mais expostos, faltam os que contavam sobre os negros, que não constam atualmente como parte da história de Sorocaba.

Assim como os outros museus da cidade, o local atende estudantes durante a semana e só recebe mais visitas do público em geral aos sábados e domingos, por ser no interior do parque Zoológico Municipal Quinzinho de Barros.



Ideia é dinamizar os espaços



José Rubens Incao, que assumiu no ano passado como chefe de Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria da Cultura, responsável pela administração dos museus, a intenção da secretaria é dinamizar esses espaços, para que todos saiam pelo menos instigados, querendo saber mais.

Para José Rubens, museu é vida. "Os objetos do museu fazem parte de uma vida. Todos nós somos personagens, então o trabalho do museu é selecionar e oferecer esses objetos ao público para que as pessoas tenham um diálogo", afirma.

O que acontece hoje, admite, é que falta aproximação, diálogo, interação. "E é isso o que queremos proporcionar. A ideia é que as obras sejam constantemente trocadas, contextualizadas, queremos explorar o máximo que as peças oferecem e também disponibilizar objetos que o público possa tocar", planeja.
Notícia publicada na edição de 18/05/14 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 010 do caderno A - o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h. @edisonmariotti #edisonmariotti
 

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