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quinta-feira, 12 de junho de 2014

Barry Bergdoll: "Porquê criar um museu de arquitetura quando podemos ir ao Google?"

O curador de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna da Nova Iorque, Barry Bergdoll, esteve esta quarta-feira na Biblioteca de Serralves, onde falou numa sessão dedicada ao lugar da Arquitetura no museu de arte.

Berry Bergdoll apresentou, quarta-feira à tarde, 11 de junho, a palestra "At Home in the Museum? Reflections on the Role of Architecture in the Art Museum in the Global Experience Economy", na Biblioteca do Museu de Serralves.

O também professor da Universidade de Columbia (CU) é o atual curador do departamento de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna da Nova Iorque (MoMA), estabelecido em 1932, e o "mais antigo departamento dedicado à arquitetura do mundo", disse Berry Bergdoll, "algo um pouco assustador, ser a única instituição que, nos últimos 80 anos, tem tentado exibir continuamente arquitetura".



Ao abordar a difícil relação da arquitetura com a sua exposição em museus, o curador americano explicou que a "arquitetura, num museu, é sempre removida do seu contexto original e recontextualizada".

"Se conhecerem o atual edifício do Museu de Arte Moderna, criado por Taniguchi [arquiteto japonês], reconhecem a presença pouco habitual de um templo japonês, ao lado de uma igreja neogótica e um arranha-céus, que se ergue na ponta do Jardim de Esculturas do MoMA", contou Berry Bergdoll. "Foi bastante irritante para mim quando descobri que a exposição mais popular de arquitetura alguma vez exibida pelo MoMA foi essa reprodução do templo japonês do século XVII [que não é uma exposição mas parte integrante do museu]".

"Uso este exemplo porque mostra uma arquitetura do museu, que não está no museu", continuou o professor. "Este é o absoluto e clássico paradoxo de que não se pode exibir arquitetura no museu por si, nunca ou quase nunca tem o mesmo status que um trabalho de arte ou escultura".


A difícil entrada da arquitetura no mundo dos museus

Berry Bergdoll também discutiu o acesso, por parte dos arquitetos e do seu trabalho, às grandes galerias mundiais. Para o curador do MoMA, essa entrada fez-se muito lentamente e, primeiro, através do mundo das representações, "pintura, gravuras e, mais tarde, fotografia".

O professor da Universidade de Columbia abordou ainda a forma como os "arquitetos que eram também membros de academias de pintura e que, assim, conseguiam passar trabalhos de arquitetura para os museus de arte".
O curador enquanto instigador da mudança

No final do debate, Berry Bergdoll falou ainda das suas noções de como um curador ou uma exibição de arquitetura poderiam mudar a forma de se fazer, construir e organizar edifícios.

Por exemplo, uma exposição de casas muito degradadas de Nova Iorque poderia levar a uma maior tomada de consciência das más condições de vida dos habitantes urbanos americanos, enquanto uma exibição de projetos arquitetónicos futuristas caso Manhattan seja inundada poderiam levantar questões pertinentes em relação à arquitetura de cidades que sofram com o aumento do nível médio das águas do mar, devido às alterações climáticas.

Para o curador americano, tudo depende de uma "agenda estética versus agenda ativista/social". A sessão foi a última do ciclo de conferências internacional "Container and Content", organizado e produzido pela arquiteta e investigadora em museologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Susana Rosmaninho.


O MoMA e o Google: Questões em aberto

"Porque é que o Museu de Arte Moderna continua a ser um local de enormes multidões? Multidões sem precedentes, mesmo sabendo que grande parte da coleção foi captada em imagens e está disponível através do Google, e que podemos aproximarmo-nos de alguns painéis mais do que qualquer guarda de museu alguma vez nos deixaria? Porque é que o Tate Modern, o Pompidou, o MoMA, são as primeiras paragens de muitos turistas nessas cidades, quando há alguns anos, os museus de arte contemporânea eram os sítios que nós íamos para ter silêncio?", questionou Berry Bergdoll.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://jpn.c2com.up.pt/2014/06/12/barry_bergdoll_porque_criar_um_museu_de_arquitetura_quando_podemos_ir_ao_google.html


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