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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ilha na Tunísia se transforma em museu do street-art



Erriadh é uma pequena aldeia situada na ilha de Djerba, na Tunísia, de quase 145 mil habitantes. Desde junho, a rotina desse vilarejo pacato vem sendo transformada pela presença de 150 artistas-grafiteiros do mundo todo, entre eles dois brasileiros, que transformam seus muros em obras de street-art. Esse museu a céu aberto ganhou um nome, Djerbahood, e pode ser visitado gratuitamente enquanto as pinturas resistirem ao tempo.


Djerbahood é um sonho que virou realidade nas mãos de Mehdi Ben Cheikh, diretor da galeria Itinerrance, em Paris. Motivado pelo sucesso da Tour 13, templo de Street Art erigido em 2013 no 13° distrito da capital, ele idealizou um projeto grandioso, que começou a tomar forma no final de junho.

Tudo começou com uma conversa entre Mehdi e o embaixador tunisiano na França, Adel Fekih.“Como ele visitou a Tour 13, aproveitei a ocasião para perguntar como eu poderia imaginar algo do gênero na Tunísia. Ele me ajudou a obter as autorizações junto ao governo’’, diz Mehdi. Depois de todas as formalidades cumpridas, um outro desafio surgiu: negociar com os habitantes, já que eles cedem os muros para as intervenções dos artistas. “Quando chegamos lá foi preciso diplomacia. No início foi complicado, mas agora todo mundo aceitou a ideia. Muita gente vem visitar a cidade, que ganhou importância, e isso é muito bom. Criamos um micro-clima econômico e a cidade consegue se financiar. ’’

Foi então que as ruelas do vilarejo de Erriadh começaram a ganhar cores e formas inéditas, que se misturaram ao azul e branco característico da arquitetura local. No início os habitantes ficaram desconfiados, mas acabaram se habituando aos visitantes inesperados. “É realmente um museu a céu aberto, um verdadeiro museu. Ele representa a própria essência do street art: tem que ser na rua, tem que ser gratuito.”

Para Medhi, Djerbahood é também uma possibilidade para os artistas de trabalharem em um cenário totalmente inédito. “É um vilarejo pequeno, cheio de ruelas, muito autêntico em termos arquitetônicos. Isso é um verdadeiro exercício para os artistas. Não estamos em Miami, Nova York ou Paris, não é uma arquitetura que conhecemos. São cúpulas, tetos arqueados, muros não muito altos…ao mesmo tempo tudo tem um charme e uma autencidade. São novos parâmetros com os quais podemos 'brincar' e que os artistas abraçam com alegria, porque é um verdadeiro exercício para eles.

Brasileiro foi chamado de bruxo

Ao lado de Walter ‘Tinho’ Nomura, Herbert Baglione é um dos dois brasileiros que participa do projeto. Ele ficou cerca de uma semana em Djerba e conta que foi uma das experiências mais marcantes que já teve. "Trabalhamos com um público virgem, que não tinha nenhuma informação sobre esse tipo de arte. Com as crianças, foi um impacto muito forte. Elas ficaram hipnotizadas com o que estava acontecendo, não paravam de nos rodear, pediam para pintar a bicicleta deles…É algo que eu sinto muita falta em qualquer cidade, essa inocência", diz.

Antes de iniciar as pinturas, o grafiteiro brasileiro e os outros artistas foram orientados a evitar obras de teor político ou polêmicas envolvendo as crenças locais. "Na ilha, por exemplo, não tem cachorro, porque eles acreditam que os cachorros são pessoas ruins reincarnadas. Só tem gatos, os cachorros foram banidos da ilha. Uma série de coisas que nós, ocidentais, não temos conhecimento", conta Herbert. "A ideia é presentear a população da ilha, não ofendê-la", explica.

O artista brasileiro também conta que chegou a Djerba em pleno Ramadã, o que gerou uma certa apreensão entre os habitantes. Autor de uma série de obras que se inserem no projeto “1000 Shadows’’, sombras que se insinuam e invadem janelas, paredes, muros e portas, pintadas com spray e até carvão, Herbert foi chamado de bruxo pela população. Ele conta que pintou os muros à noite, e no dia seguinte, os habitantes disseram que ele enxergava ‘fantasmas’ e pediram para apagar a obra. Experiências que dão a Herbert vontade de voltar, caso haja a ocasião. "Se me chamarem, pego o avião agora."

Os artistas estarão na ilha até o final de agosto. A partir do dia 5 de setembro, o canal ARTE também exibirá um web-documentário sobre o projeto. Quanto a Herbert, ele está em La Rochelle, na França, trabalhando em uma instalação, ao lado do seu irmão, William, que é fotógrafo e participa de uma exposição na cidade. "Os museus hoje não suportam toda a arte que é produzida e a street-art é a mais democrática que existe", conclui o artista brasileiro.

©Aline Deschamps/Galerie Itinerrance

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.portugues.rfi.fr/geral/20140813-ilha-na-tunisia-se-transforma-em-museu-do-street-art 

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