Ouvir o texto...

domingo, 25 de janeiro de 2015

Colecionar conhecimento inspirou fundador de museu em Juiz de Fora

Há 150 anos nasceu Alfredo Ferreira Lage, criador do Mariano Procópio. Suas coleções são a base do acervo da instituição.

 
Alfredo Ferreira Lage criou o museu em 1915
(Foto: Nina Mello/Reprodução)

Dois minerais. Esse foi o ponto de partida de uma coleção de um menino de 9 anos, que na época, morava na Suíça e que resultaria no Museu Mariano Procópio, em Juiz de Fora. Entre as pedras e o acervo variado que inclui mais de 53 mil itens,
dois prédios e um jardim histórico, desenrolou-se a vida de Alfredo Ferreira Lage, o filho caçula de uma família abastada que tinha laços profundos e íntimos com o Império no Brasil, transitava entre artistas e políticos, viveu um relacionamento não oficializado com Maria Pardos e foi pioneiro em diversas atividades.

“O olhar dele como colecionador tinha um foco para diversas áreas. Foi estabelecido segundo o modelo enciclopédico. Ele tinha pretensão de reunir exemplares de todo o conhecimento humano, da história natural, passando pela história, arte, artes decorativas, armamentos, numismática, ao arquivo histórico e biblioteca de obras raras. É um dos poucos grandes museus brasileiros com esta grande abrangência de temas”, destacou o diretor-superintendente do Museu, Douglas Fasolato.

E neste mês, em que são lembrados seus 150 anos de nascimento e 71 anos da morte, o G1 destaca a trajetória da Alfredo Ferreira Lage e de como ele reuniu objetos de campos tão abrangentes no museu que batizou com o nome do pai.

Coleções e inspirações variadas

Alfredo comprou o quadro em Paris
(Foto: Nina Mello/Reprodução)

Alfredo nasceu em 10 de janeiro de 1865. Era o filho mais novo de Mariano Procópio e Maria Amália Ferreira Lage. Perdeu o pai aos 7 anos. Dois anos depois, a família se mudou para a Suíça, onde ele encontrou os dois minerais que deram origem à sua própria coleção. Reunir objetos por temáticas era um hábito familiar, como lembrou a documentalista do Museu, Rita de Cássia Andrade Procópio
em entrevista ao G1 em setembro de 2014.

Ele retorna ao Brasil em 1884, para estudar Direito em São Paulo, onde se formou pela Faculdade do Largo de São Francisco. Cinco anos mais tarde, na inauguração do Teatro
Juiz de Fora, fruto de uma sociedade com o irmão Frederico, fez sua primeira apresentação pública ao piano na cidade. Ainda em 1889, ele viajou para a Exposição Universal de Paris, de onde trouxe a obra Après-midi en Hollande, de William Roelofs. “Ele tinha orgulho de ter adquirido este quadro premiado, do pintor que tinha ligação com as escolas de pintura francesa, de Barbizon, e a holandesa, de Haia”, explicou o diretor-superintendente do Museu. Ele foi acionista da Companhia Organização Agrícola Mineira, participou da fundação e do Conselho de Administração da Sociedade Anônima Academia de Comércio de Juiz de Fora.
Integrou o conselho fiscal para a criação da Companhia Mecânica Mineira. Durante oito anos, entre 1891 e 1899 foi jornalista e diretor-secretário do jornal O Pharol. Em 1892, É eleito vereador no município de Juiz de Fora, pelo distrito de Água Limpa.





Os
itens relativos ao Império no acervo se referem a uma história que vêm desde a amizade entre o pai dele, comendador Mariano Procópio, e o imperador Dom Pedro II, que veio à Juiz de Fora na inauguração da Estrada União Indústria e se hospedou na Villa. “Havia um vínculo entre as famílias, o pai era um político importante do partido conservador. Por isso, ele adquiriu vários itens relacionados ao Império”, contou Douglas Fasolato. Entre estes itens, parte do acervo da prima, a Viscondessa de Cavalcanti, e a veste e os sapatos usados por Dom Pedro II na coroação em 18 de julho de 1841, que foram adquiridos em 1926.

Entre 1903 e 1911, fundou e organizou atividades do Photo Club do Rio de Janeiro, participou de exposições como organizador, juiz e também inscreveu seus trabalhos. Em 1908, foi premiado com Medalha de Ouro na Exposição Nacional no Rio de Janeiro. Três anos depois, nova Medalha de Ouro, pelas fotografias apresentadas na Exposição Internacional de Turim.
A fotografia na vida de Alfredo e o trabalho dele no desenvolvimento do fotoclube são temas da exposição “Simetria e Permanência: A Arte na Fotografia de Alfredo Ferreira Lage” em cartaz até este domingo (25).
 
Registro da galeria em 1922
(Foto: Museu Mariano Procópio/ Arquivo)

Após a morte da mãe, Maria Amália, em 1914, ele começou a transferência de parte de sua coleção no Rio de Janeiro para a Chácara Mariano Procópio, que ele herdou dos pais, em Juiz de Fora. Um ano mais tarde, a chácara foi aberta como o Museu Particular Ferreira Lage. Em 23 de junho de 1921, o local foi inaugurado como Museu Mariano Procópio. A escolha da data não foi aleatória, marcava o centenário de nascimento do homenageado. Em 1922, com a construção do prédio anexo à Villa, inaugurou a Galeria de Belas Artes, que foi batizada com o nome da mãe. “Ela influenciou a formação de Alfredo, foi sua principal incentivadora. Além de pianista, era pintora. Após ficar viúva, mudou-se para a Europa com os filhos, proporcionando a eles educação com destaque para as artes e a história”, explicou Douglas Fasolato.

Aos 25 anos, conheceu a dançarina de comédia espanhola e depois pintora Maria Pardos, com quem manteve um relacionamento não oficializado durante 38 anos, até a morte dela em 1928. Em homenagem a ela, instituiu em 1929, o prêmio Maria Pardos no Salão da Exposição Geral de Belas Artes. Sete das telas dela, que pertencem ao acervo do Museu, estão sendo restauradas em São Paulo. Já o quadro
“A Conciliadora” está em exposição na Pinacoteca também em São Paulo. Pela influência que teve na vida de Alfredo e a contribuição na formação do acervo, Maria Pardos é considerada co-fundadora do Museu.

Em 1936, quando já era integrante do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro, oficializou a doação do Museu Mariano Procópio, através de escritura pública, para o município de Juiz de Fora e criou o Conselho de Amigos do Museu. “A coleção era privada, mas se tornou pública por gesto dos fundadores. A meta era esta desde o início. Com a doação, Alfredo Ferreira Lage apenas antecipou o que pretendia fazer em testamento”. Atualmente, Museu passa pelo segundo inventário da história da instituição, para ter o número exato e as áreas compreendidas em acervo. “O museu é importante de várias maneiras. Ele está entre os primeiros do país e é o primeiro de Minas Gerais em funcionamento. Além disso, une um dos mais bonitos jardins históricos do país, os prédios e acervo enciclopédico, com destaque para o período imperial. Várias categorias no mesmo espaço”, resumiu Douglas Fasolato.

Alfredo Ferreira Lage morreu em 27 de janeiro de 1944, aos 79 anos, no Rio de Janeiro. Está sepultado ao lado dos pais, do irmão Frederico e da nora, Alice, no mausoléu que fica em frente à entrada principal do Museu, em Juiz de Fora. Uma placa explica que os restos mortais dele foram exumados do cemitério da Glória para o mausoléu dos pais em junho de 1961, durante a celebração do jubileu de prata da doação do museu à municipalidade e do centenário da estrada de rodagem União e Indústria.

Atualmente,
o local está ao lado de parte do canteiro das obras em andamento nos dois prédios. Por enquanto, o acesso está restrito aos trabalhadores do restauro e aos funcionários da instituição. A população aguarda que, depois de sete anos fechados, a Villa e o Prédio Anexo sejam reabertos, mesmo parcialmente, para conhecer ou reencontrar estas e outras estórias e coleções que reuniu e, em vida, ofertou como herança à Juiz de Fora.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti Roberta Oliveira Do G1 Zona da Mata

Nenhum comentário:

Postar um comentário