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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

O primeiro museu de múmias da Península Arábica

O Iêmen pretende ter a primeira instituição do gênero na região, para abrigar antigas múmias descobertas no país nas últimas décadas. A iniciativa, porém, sofre com a falta de verbas e de especialistas em conservação. Os corpos mumificados são da era pré-islâmica.






Mahweet (Iêmen) – O Departamento Geral de Antiguidades e Museus do Iêmen (Gaam, na sigla em inglês) anunciou recentemente que o país terá o primeiro museu de múmias embalsamadas da Península Arábica. O Museu de Múmias de Taweelah será localizado no distrito de Al-Taweelah, em Mahweet, de acordo com o site do jornal Yemen Observer.

Os estudos sobre reforma e manutenção do antigo prédio que vai abrigar o museu já foram concluídos. "Ao estudar os sítios arqueológicos e históricos, descobrimos muitos cemitérios de múmias. Assim, tivemos a idéia de criar o museu, para conservar as múmias e mostrá-las às pessoas", disse Mohammed Qassim, diretor do escritório do Gaam em Mahweet. O museu deverá exibir múmias descobertas em antigos cemitérios de pedras na própria cidade de Mahweet, segundo Qassim.

"Ainda estamos preparando o museu. Nossa maior dificuldade no momento é a falta de apoio financeiro, devido à qual tivemos de interromper o trabalho", disse Qassim. No entanto, de acordo com ele, as obras de preparação serão iniciadas ainda este ano.

"Outro problema é o fato de que o Gaam não tem uma equipe de cientistas, portanto teremos de convocar cientistas estrangeiros", disse Qassim. Ele afirmou também que especialistas estrangeiros estão treinando funcionários do departamento para trabalhar no museu.


A questão das múmias no Iêmen é controversa: enquanto alguns defendem as descobertas arqueológicas como forma de conservar o patrimônio nacional, outros afirmam que as múmias devem permanecer no subsolo, de acordo com informações publicadas pelo jornal Yemen Times.


Em um canto escuro do Museu Nacional do Iêmen, duas múmias recém-descobertas aguardam liberação do governo federal. Outra múmia, desenterrada algum tempo antes, está exposta perto dali. "Elas vieram da província de Al-Jawf", diz Muhammad Al-Sayani, funcionário do museu. "Mas não sabemos de que parte de Al-Jawf. Um funcionário do Departamento de Cultura da província encontrou as múmias com membros de uma tribo e conseguiu comprá-las", afirmou. "Eles não disseram exatamente de onde haviam trazido as múmias", explicou Al-Sayani.

Uma equipe de especialistas já examinou as múmias e enviou relatórios ao Departamento de Cultura, requisitando equipamentos especiais para conservação.

O ex-presidente do Gaam, Yusuf Mohammed Abdullah, acredita que as múmias devem permanecer enterradas. "Não podemos nos dar ao luxo de perder nosso patrimônio", afirmou. "A tarefa de desenterrar múmias requer especialistas nessa área específica da arqueologia. Múmias desenterradas usando métodos tradicionais de escavação não servem. São escavadas por pessoas que não sabem o que estão fazendo, que danificam as múmias e os sítios arqueológicos onde elas estão", disse Abdullah.


"No entanto, o maior problema não é a escavação das múmias em si, é a preservação delas após terem sido desenterradas. Não temos o know-how necessário para tanto, e até que sejamos capazes de preservar nossas múmias, é melhor que elas continuem enterradas. Saqueadores estão acabando com nosso patrimônio histórico, desenterrando múmias e pilhando sítios arqueológicos". Abdullah defende que os sítios devem ser rigorosamente protegidos e os saqueadores, punidos por abuso ao patrimônio nacional.


Yusuf Mohammed Abdullah liderou uma expedição que descobriu um grupo de múmias na província de Al-Gharas, em Sanaa, na década de 1980. As múmias são mantidas no Museu da Universidade de Sanaa. Múmias foram encontradas em diversas regiões do Iêmen, incluindo Al-Mahweet, Sanaa e Al-Jawf.


Mumificação
O especialista explica que no Iêmen antigo, entre outras substâncias, uma árvore local chamada "ra" era usada no processo de mumificação. Com frutos de textura semelhante a do algodão, a árvore tinha a capacidade de absorver umidade, e assim mantinha os corpos secos.

"Assim como outros povos pagãos, os iemenitas antigos queriam se imortalizar, por isso adotaram a mumificação de corpos", disse Abdullah. No entanto, nem todos tinham acesso à técnica, que era muito cara. "Só os ricos podiam ser mumificados, mantidos em necrópoles, tumbas ou torres e estruturas especiais", completou.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.anba.com.br/noticia/7359907/artes/o-primeiro-museu-de-mumias-da-peninsula-arabica/?indice=480

*Colaborou Silwan Abassi, de Brasília
Tradução de Gabriel Pomerancblum

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