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terça-feira, 31 de março de 2015

PARABÉNS - O Museu de Arqueologia e Etnologia ( MAE ) da USP - SÃO PAULO - BRASIL - comemora 25 anos de atividades. Com pesquisas reconhecidas mundialmente, os seus oito laboratórios colaboram efetivamente para o desenvolvimento da arqueologia no Brasil e no mundo.

No MAE, a história dos homens, das cidades e da natureza

ARQUEOLOGIA
O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP comemora 25 anos de atividades. Com pesquisas reconhecidas mundialmente, os seus oito laboratórios colaboram efetivamente para o desenvolvimento da arqueologia no Brasil e no mundo. Seu acervo reúne um milhão e meio de objetos produzidos em diferentes continentes, desde peças com dezenas de milhares de anos até a produção recente de artefatos indígenas do Brasil
LEILA KIYOMURA
Assim ele lá dormia, o muita-tenência, divino Odisseu por sono e fadiga dominado; mas Atena foi até a terra, a cidade dos varões feácios. Eles antes moravam na espaçosa Hipereia, próximo aos ciclopes, varões arrogantes que os lesavam, pois na força eram superiores. De lá fê-los erguer-se o divo Nausitoo e assentou-os em Esquéria, longe dos varões come-grão. Em volta puxou muro para a cidade, casas construiu, fez templos de deuses e as glebas dividiu.
O texto de Homero, Odisseia, canto VI, é um convite para conhecer as nuances da Grécia Antiga. A passagem para atravessar os limites do tempo e do espaço está no Museu de Arqueologia e Etnografia (MAE) da USP. Quando o leitor amante ou mero curioso de escrituras antigas como esta de Homero – datada de entre o final do século 8 a. C. e o início do século 7 a. C – entrar no Laboratório de Estudos sobre a Cidade Antiga, o Labeca, vai poder compreender melhor a aventura que inspirou Shakespeare, Camões, Dante e Cervantes. E repensar não só o mundo lírico da literatura como o cotidiano das metrópoles de hoje.
O Labeca, como é mais conhecido, tem uma história à parte construída por sua equipe de pesquisadores que há mais de 30 anos integrou o Instituto de Pré-História. E acompanhou, há 25 anos, a sua transformação em Museu de Arqueologia e Etnologia. Uma história que garante centenas de pesquisas – 58 só no Labeca – sobre a travessia da humanidade.
“Nosso núcleo de pesquisas sobre a arqueologia e a história da Grécia é hoje uma referência nacional para esse tipo de estudo”, orgulha-se a professora e coordenadora geral Maria Beatriz Borba Florenzano. “Temos formado novos pesquisadores nessa área e divulgamos um conhecimento científico de alto nível e atualizado.”
Um dos objetivos do Labeca é divulgar as suas pesquisas para um público amplo, de especialistas na área a professores do ensino básico. Para isso, utiliza múltiplas abordagens, desde videodocumentários até artigos científicos produzidos por sua equipe. Paulistana, Maria Beatriz afirma que muitos dos problemas das metrópoles têm suas raízes na polis. “Na medida em que estudamos e divulgamos conhecimentos sobre o urbanismo antigo, acredito que oferecemos uma base para a compreensão das cidades atuais.” O laboratório pesquisa, por exemplo, questões como as relações sociais e de poder em um espaço específico, abordadas nos estudos da sociedade contemporânea.
À frente do Labeca está também a professora e pesquisadora Elaine Farias Veloso Hirata. Há 35 anos no MAE, ela vem desenvolvendo pesquisas sobre os espaços religiosos no mundo grego e sobre arqueologia, religião e poder político na Grécia Antiga. “O MAE vem contribuindo decisivamente para as pesquisas arqueológicas no Brasil por meio da formação de arqueólogos e pela liderança em muitos projetos de pesquisa por áreas que vão do Estado de São Paulo ao Amazonas, passando por Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso e Minas Gerais, dentre outros locais”, observa. “Organiza e apoia eventos de natureza cientifica que reúnem arqueólogos de todo Brasil e convida especialistas de instituições de renome do exterior para ministrar cursos e PARTICIPAR DE PESQUISAS conjuntas.”
Interdisciplinar – Como bem lembra a professora e diretora do MAE, professora Maria Cristina Oliveira Bruno, o museu celebra 25 anos abrindo caminhos futuros. Destaca a importância do acervo com mais de 1 milhão e meio de itens, com objetos arqueológicos e etnográficos de diferentes continentes e épocas diversas, desde a Europa paleolítica até a produção recente de artefatos dos povos indígenas. “O acervo tem sua origem nas antigas coleções dos setores de Arqueologia e Etnologia do Museu Paulista, do antigo Museu de Arqueologia e Etnologia, do Instituto de Pré-História, do Departamento de Antropologia da USP e das pesquisas atualmente realizadas por professores e alunos.”
Diante dos estudos em diferentes áreas da história e da arqueologia, o MAE vem desenvolvendo e implementando suas atividades acadêmicas em oito laboratórios. Além do Labeca, conta com as pesquisas do Laboratório Temático Arqueologia Regional (LAR), do Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Tecnologia e Território (Lintt), do Laboratório de Arqueologia Romana Provincial (Larp), do Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente (Levoc), do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos (Arqueotrop), do Laboratório de Arqueologia da Paisagem e Geoarqueologia (Lapgeo) e do Laboratório de Pesquisas em Comunicação Museológica (Lapecomus).
Pesquisas – Foram as pesquisas do MAE sobre os índios do Amazonas que chamaram a atenção da doutoranda francesa Magdalena Ruiz Marmolejo, de 29 anos. “A minha formação é em história de arte, etnologia e museologia. Estudo na École du Louvre da Universidade de Paris Sorbonne 1”, explica. “Quando pesquisei o acervo e as atividades do MAE, percebi que poderia me especializar e estagiar aqui.” Ela compara o MAE com os museus franceses e está surpresa com a eficiência técnica. “Os procedimentos são os mesmos. Porém, tem sido interessante observar como o museu conserva os objetos orgânicos, como madeira, entrecasca e ossos, num ambiente tropical.”
Magdalena estagia no Laboratório de Estudos Interdisciplinares sobre Tecnologia e Território (Lintt). “Aqui temos cinco pesquisadores e oito estudantes desenvolvendo projetos etnoarqueológicos com populações pastoralistas do Noroeste argente, populações ceramistas do agreste pernambucano e populações indígenas ceramistas amazônicas e do Sul do Brasil”, explica a coordenadora do Lintt, Fabíola Andrea Silva. “Também estamos desenvolvendo projetos arqueológicos com populações ceramistas tupi do litoral paulista e da Amazônia e também da costa norte peruana. O Lintt conta com três pesquisadores de pós-doutorado, quatro doutorandos, uma mestranda e duas alunas de iniciação científica.”
Fabíola é gaúcha de Novo Hamburgo. Veio para São Paulo fazer o doutorado em Antropologia Social na USP em 2000 e pós-doutorado no MAE em 2002. Hoje atua como professora e pesquisadora. “O MAE tem um dos mais importantes acervos etnográficos e arqueológicos e o mais antigo programa de pós-graduação em Arqueologia do País. Em termos de prevenção preventiva e pesquisa, ele se equipara aos mais importantes museus do mundo”, destaca com orgulho.
As atividades de divulgação das atividades do museu são desenvolvidas pelo Laboratório de Pesquisas em Comunicação Museológica (Lapecomus), coordenado por Maria Cristina Bruno. “O Lapecomus tem o objetivo de realizar experimentações e análises referentes a projetos de exposição e ação educativa museológicas, aplicados à arqueologia e à etnologia, com vistas a produzir conhecimento sobre conteúdos e formas comunicacionais vinculados às pesquisas e aos acervos do MAE”, observa a professora. “Tem como premissas básicas a implementação de curadorias compartilhadas, produção de discursos expositivos argumentativos e elaboração de recursos pedagógicos que ampliem a acessibilidade aos bens culturais que estão sob a guarda do MAE.”
Ser arqueólogo – A vocação por arqueologia, segundo Fabíola, do Lntt, vem da própria história. “Eu sou de uma família de artesãos. Por isso, gosto tanto de trabalhar com cultura material.” Com o professor Eduardo Góes Neves não é diferente. “Aprendi a ler nos livros de Monteiro Lobato e quando me deparei com a História do Mundo para as Crianças, decidi ser um pesquisador em busca da nossa história”, conta.
Neves é um dos arqueólogos atuantes na Amazônia. Graduou-se em História na USP em 1986 e é doutor em Arqueologia pela Indiana University. Desde 1989, é professor do MAE, sendo coordenador do Laboratório de Arqueologia dos Trópicos (Arqueotrop). “O objetivo principal de nossas atividades é entender e divulgar a história milenar da relação entre as populações humanas e o ambiente na Amazônia, através de uma perspectiva integrada com outras áreas do conhecimento, como a antropologia cultural, a história, as ciências da terra e as ciências biológicas”, explica.
A história da paulistana Marisa Coutinho Afonso também se entrelaça com a trajetória do MAE. “Meu início na arqueologia foi em 1981, quando, já formada em Geologia, tornei-me estagiária do antigo Instituto de Pré-História. Mas entrei na USP como aluna há 40 anos.”
Marisa integra o Laboratório de Geoarqueologia de Arqueologia da Paisagem (Lapgeo). “As principais atividades são de pesquisa e ensino na área de arqueologia pré-histórica brasileira. Também colaboramos em atividades de comunicação museológica, como na exposição ‘Olhares Cruzados nos Museus da USP – Identidades Diversas’, em cartaz no MAC Ibirapuera”, esclarece. “A finalidade do Lapgeo é propor e executar programas, projetos, planos e ações focados na interface arqueologia, geografia, geociências, considerando os subcampos interdisciplinares arqueologia da paisagem e geoarqueologia.”
O acervo do MAE: riquezas da humanidade
Contextos ambientais – Fundado há cinco anos, o Laboratório Temático de Arqueologia Regional (LAR) está sob a coordenação do professor Paulo Antonio Dantas DeBlasis. “Seus objetivos estão relacionados com pesquisa arqueológica nos contextos ambientais e paisagísticos nos quais se insere”, esclarece. “Por exemplo, estudamos a evolução da ocupação das sociedades sambaquieiras que construíram os grandes sítios colinares do litoral, os sambaquis. Nesse contexto, pesquisamos também a evolução da paisagem costeira, a formação de praias, campos de dunas e o progressivo fechamento de antigas baías em áreas lagunares. Ou seja, além do enfoque regional, também é importante o recorte histórico de longa duração, às vezes milhares de anos. Trata-se, em última análise, de analisar a evolução associada das sociedades humanas e seus ambientes, sua articulação e influências mútuas.”
DeBlasis ressalta que o LAR também está interessado no desenvolvimento de tecnologias não invasivas de pesquisa, como sensoriamento remoto como radar de solo e magnetometria, por exemplo, e no desenvolvimento de perspectivas de preservação integrada do patrimônio arqueológico e ambiental, com base em parâmetros de participação comunitária e sustentabilidade.
O Laboratório Interdisciplinar de Pesquisas em Evolução, Cultura e Meio Ambiente (Levoc) tem uma importância singular no MAE. Está sob a coordenação do professor Astolfo Gomes de Melo. “Nossos objetivos são desenvolver pesquisas a respeito das relações entre cultura e ambiente dentro de uma perspectiva espacial e diacrônica, envolvendo não apenas a detecção de padrões, mas o entendimento dos processos atuantes nos mecanismos de mudança cultural, sejam intrínsecos ou relacionados com o ambiente”, afirma. “Também procuramos implementar e incentivar a integração de profissionais, especialistas e estudantes de diversas áreas em torno de temas de interesse mútuo.”
O Levoc organiza cursos, oficinas, simpósios e palestras em âmbito nacional e internacional. Também fomenta a publicação e a divulgação dos conhecimentos produzidos e busca parcerias com pesquisadores e instituições estrangeiras com o objetivo de compartilhar conhecimentos e experiências.
A diretora do MAE, Cristina Bruno: novos caminhos para o museu
Pesquisar o império romano pela ótica das províncias é o objetivo do Laboratório de Arqueologia Romana (Larp). “Nós estudamos a presença romana em suas áreas de dominação dentro e fora da esfera mediterrânica”, observa o coordenador Vagner Porto.
Porto faz questão de ressaltar que as pesquisas do MAE têm uma importância muito grande para o desenvolvimento da Arqueologia tanto no Brasil como no mundo. “Mestres e doutores que aqui se formam contribuem profissionalmente para o mercado de trabalho e também cientificamente com o desenvolvimento de pesquisas de vanguarda. Daí ser respeitado por arqueólogos do mundo inteiro que vêm para ministrar cursos no nosso museu. Por outro lado, universidades AMERICANAS e europeias convidam os arqueólogos do MAE para se apresentarem, além de estabelecerem vários projetos conjuntos.”
O Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP está localizado na avenida Professor Almeida Prado 1.466, Cidade Universitária, São Paulo (SP). Aberto às segundas, quartas, quintas e sextas-feiras, das 9 às 17 horas. Grupos organizados devem marcar com antecedência. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (11) 3091-4905.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti MAE/USP 

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