Ouvir o texto...

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Inaugurada em 1987, em Campos do Jordão, São Paulo, Brasil, a Casa da Xilogravura é um useu particular instalado em prédio construído em 1928 que, anteriormente, abrigou o Mosteiro de São João, de freiras beneditinas e, hoje, é também a sede da Editora Mantiqueira

( O lucro da Editora é aplicado na manutenção do Museu ).





O Museu coleciona e preserva xilogravuras, isto é, gravuras feitas por meio da impressão sobre o papel (ou outro suporte) de uma matriz entalhada em madeira. Parte de seu acervo, que hoje conta com milhares de obras de mais de 400 xilógrafos, é exposta permanentemente ao público. 

A Casa da Xilogravura promove também palestras, encontros, cursos e outros eventos culturais, e oferece atelier xilográfico, oficina tipográfica e biblioteca especializada.

Por disposição testamentária do fundador, o imóvel e o acervo do Museu serão legados à USP - Universidade de São Paulo, da qual a Casa da Xilogravura já vem recebendo alguma orientação técnica.


A Casa da Xilogravura situa-se à av. Eduardo Moreira da Cruz n°. 295, bairro Jaguaribe, na esquina de uma praça. Trata-se de local rico em história, pois ali nasceu Campos do Jordão (1874) e, na praça, foi construída a primeira capela, onde se vê hoje a igreja de N. Sra. da Saúde.


Além da xilogravura, outras artes marcam presença nessa praça. Nela se encontra uma escultura de Felícia Leirner, erigida por ocasião do centenário de Campos do Jordão, em 1974. 



Na igreja de N. Sra. da Saúde, há um mural pintado por Expedito Camargo Freire, artista que residiu nessa mesma praça. Uma grande pedra exibe o poema de Ranulpho Mendes, vencedor do I Concurso Nacional de Poesia de Campos do Jordão, realizado em 1987, pela Editora Mantiqueira.

O Museu Casa da Xilogravura situa-se no Brasil, no Estado de São Paulo, na cidade Campos do Jordão.

Aninhada a 1.700 metros de altitude, na Serra da Mantiqueira, a cidade de Campos do Jordão sempre atraiu artistas e escritores e, hoje, atrai para hotéis de luxo turistas de todas as procedências, em especial das três maiores cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. 

Esse turismo estimulou a ocorrência de manifestações culturais importantes, como, por exemplo, o Festival Internacional de Música Erudita, a exposição permanente de arte do Palácio (de verão) do Governo do Estado; e o Museu Casa da Xilogravura. 

Etimologicamente, a palavra xilogravura é composta por xilon, do grego, e por grafó, também do grego. Xilon significa madeira e grafó é gravar ou escrever. Assim, xilogravura é uma gravura feita com uma matriz de madeira. Simplificando, pode-se dizer que é um processo de impressão com o uso de um carimbo de madeira.


Para preparar uma matriz xilográfica é preciso realizar trabalho de entalhe em um pedaço de madeira, deixando em relevo a imagem que se pretenda reproduzir. As partes altas (em relevo) receberão a tinta e transferirão a imagem para o suporte.

Geralmente as xilogravuras são impressas em papel, mas também podem ser feitas por impressão em outros tipos de suporte. 

Quase sempre a impressão é feita com o emprego de tinta, que é previamente aplicada sobre a matriz. No entanto, há xilogravuras impressas sem tinta, nas quais o relevo provocado pela pressão da matriz sobre o papel é o bastante para que o observador possa distinguir a imagem. 

A impressão pode ser produzida por uma prensa de rosca (de parafuso vertical), ou uma prensa de cilindros, ou até sem prensa nenhuma. Com a pressão de uma colher de pau (ou outro instrumento arredondado, liso e sem arestas) exercida no verso do papel, pode-se pressioná-lo centímetro a centímetro contra a matriz, provocando a transferência da tinta da matriz para o papel. No Oriente, em vez de colher de pau, usam para essa impressão manual de xilogravuras um instrumento que denominam baren, uma espécie de bolacha feita de um recheio firme e flexível (barbante enrolado, cartão), revestida por folha de bambu e dotada de um pegador do mesmo material. Ao que consta, no século catorze os xilógrafos europeus usavam, para exercer pressão sobre o papel, uns tampões com miolo de crina revestidos de pano.

A xilografia desdobra-se em dois tipos: xilografia ao fio e xilografia de topo. 

Não se sabe ao certo quando a xilografia começou a ser praticada, nem quem foi o seu inventor. A xilogravura em papel mais antiga, dentre as que se conhecem, ilustra um exemplar da oração budista Sutra Diamante, editada por Wang Chieh, na China, no ano 868. Acredita-se, porém, que a xilografia do Extremo Oriente já estampasse tecidos séculos antes, talvez inicialmente na Índia.

Baralho

Na Europa, o testemunho mais remoto é um tecido impresso no século doze. Há, porém, quem afirme que a estamparia européia de tecidos exista desde o século sexto. 

Nos séculos quatorze e quinze, os europeus utilizaram intensamente a xilografia para produzir imagens sacras (santinhos) e cartas de baralho.

Na xilografia ao fio, também chamada de madeira à veia ou madeira deitada, o artista, para fazer a matriz, lança mão de uma tábua, isto é, de um pedaço de madeira cujo corte se fez da copa à raiz, longitudinalmente ao tronco. 

Diferentemente, na xilografia de topo, também denominada madeira em pé, não se utilizam tábuas. O xilógrafo faz a matriz entalhando na superfície de um disco de madeira obtido com o corte transversal da árvore. Ou seja, ao cortar o tronco, a lâmina da serra opera em um plano perpendicular à direção das fibras.

Na seqüência, alguns artistas alçaram a xilografia a vôos mais elevados, em especial o alemão Albrecht Dürer (1471-1528) que iniciou novo capítulo dessa arte com a série do Apocalipse (1499), na qual conduziu seus traços em busca das potencialidades da madeira, dando-lhe uma linguagem plástica peculiar e notável. As xilogravuras de Dürer influenciaram grandemente a ilustração alemã.

Outro centro de excelência xilográfica, à época do Renascimento, foi a Itália, em especial as cidades de Veneza e Florença. Embora subordinada à ilustração de livros, a xilogravura italiana desdobrou-se em criatividade, graças à tradição miniaturista na qual os italianos exercitavam certa liberdade ornamental.

Quando já prestava seus serviços em toda a Europa, a xilografia veio, entretanto, a perder terreno. A partir do século dezesseis, sofreu forte concorrência da gravura em metal. Na época, ainda não se praticava xilografia de topo e a gravura em metal permitiu obter imagens mais ricas em delicados traços e em finos pormenores, coisa que a xilografia ao fio não conseguia fazer. Embora a matriz de metal entalhado tivesse a desvantagem de exigir uma segunda impressão, pois é entintada de modo diferente do praticado para a tipografia, que é técnica de matriz em relevo, aquela vantagem fê-la levar a melhor. 

Enquanto isso, porém, no outro lado do mundo, no Japão, a gravura em madeira conheceu magnífico momento de esplendor com a Escola Ukyio-e. Produzida principalmente em Edo, hoje Tókio, do século dezessete ao dezenove, a gravura Ukyio-e representa a primeira libertação da xilografia em relação ao livro. Produzida em folhas avulsas, com tiragens enormes, propiciadas pelo trabalho de equipes de entalhadores e impressores reunidos em oficinas coletivas, atendeu, com seu abundante colorido e pela descrição das paisagens e do dia-a-dia, ao gosto dos comerciantes, contrapondo-se à arte aristocrática, que no Japão da época imitava os padrões chineses, mais idealizados e menos ligados ao real. Os maiores expoentes da xilografia Ukyio-e foram Utamaro Kitagawa (1753-1806), Hokusai Katsushira (1760-1849) e Hiroshige Ando (1797-1858).

Thomas Bewick

Entrementes, na Europa, a xilografia voltaria a ser intensamente utilizada para ilustrar livros, jornais e revistas, graças ao aparecimento da técnica de topo, que se difundiu durante o século dezenove pelas mãos do gravador inglês Thomas Bewick (1753-1828). Em 1775, Bewick conquistou o prêmio de gravura da Sociedade de Arte, de Londres, e deu início ao reinado da xilografia gravada em topo, reinado que durou um século, sem confronto, e manteve em ação muitas oficinas de trabalho coletivo para atender à volumosa demanda oriunda dos editores. No entanto, essa xilografia de ilustração em topo – usualmente chamada xilografia de reprodução ou xilografia de interpretação – sofreu colapso no século vinte, porque se revelou desvantajosa em relação ao inovador clichê metálico, então largamente difundido, fruto da fotografia aliada à corrosão química de metais.

Oswaldo Goeldi

Perdendo sua função utilitária – fato que condenou ao desemprego os xilógrafos de reprodução – a gravura em madeira conheceu, entretanto, uma magnífica ressurreição, mas especificamente no campo artístico. Liberada da subserviência que lhe impunham as encomendas dos veículos de comunicação, ela passou a ser usada com liberdade criativa por artistas plásticos empolgados com a força dessa linguagem plástica, na qual evidenciam-se dramáticos contrastes entre branco e preto. Os precursores dessa nova fase na Europa foram, principalmente, o suíço Felix Valloton (1865-1925), o francês Paul Gauguin (1848-1903) e o norueguês Edvard Munch (1863-1944). Na seqüência, os expressionistas alemães (Kirchner, Heckel, Schmidt-Rottluff, Nolde, etc.) do grupo Die Brücke, de 1906, e, nas mesma época, os fauve franceses (Matisse, Derain, Dufy e Vlaminck) elevaram a xilogravura a um nível de expressão extraordinário.

Lasar Segall

Entre nós, assistiu-se à mesma evolução: enquanto a xilogravura de reprodução foi perdendo terreno, eclodiu a xilogravura artística libertada, que teve como seus pilares iniciais Osvaldo Goeldi (1895-1961) e Lasar Segall (1891-1957), e enriqueceu-se nas décadas seguintes com grande número de expressivos artistas. À margem dessa arte erudita, floresceu no Brasil toda uma plêiade de xilógrafos criativos, originários das oficinas tipográficas vinculadas à literatura de cordel, cujas raízes remontam aos cantadores nordestinos.


fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.casadaxilogravura.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário