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sábado, 21 de novembro de 2015

Encontros transculturais. - O Johann Jacobs Museum, em Zurique, apresenta filme inédito da cineasta americana Maya Deren

Em exposição inaugurada no início de outubro, consolidando a nova estratégia da instituição de apresentar uma outra perspectiva da arte e criar uma rede alternativa ao circuito dominante.


O Johann Jacobs Museum, em Zurique (Michael Habes)



O Johann Jacobs Museum, em Zurique (Michael Habes)

Com a nova exposição sobre Maya Deren, pioneira do cinema experimental nos Estados Unidos, inaugurada dia 01 de outubro, o Johann Jacobs Museum, em Zurique, dá mais um passo na consolidação da estratégia de desenvolver uma rede alternativa do circuito dominante das artes. Entre as atrações, o evento conta com a exibição de 6 minutos de um filme inédito rodado pela artista no Haiti, além da obra “Meditation on violence” (Meditação sobre a violência), de 1948.

A artista, que nasceu em 1917 na Ucrânia e em 1922 migrou com a família para os Estados Unidos, acreditava que a função do cinema é gerar novas experiências, sensações, emoções. Trouxe para seus trabalhos elementos da dança, do vodu haitiano, da psicologia, entre outros. Usava e abusava dos diversos recursos de filmagem e edição, desenvolvendo assim uma nova linguagem.



Os rituais de vodu

O trabalho da dançarina Katherine Dunham, que escreveu em 1939 uma tese sobre as danças rituais no Haiti, foi uma das inspirações de Deren. Em 1947, a artista também estudou filmagem etnográfica com Gregory Bateson, em Bali, que pertencia a um grupo de antropólogos que acabou influenciando o trabalho e a ida da artista ao Haiti.

Em setembro de 1947, Deren mudou-se por 9 meses para o país do Caribe. Após esse período, voltou várias vezes. Filmou, fotografou e participou de várias cerimonias de vodu. São praticamente 5.500 metros de filme rodados pela artista. Na exposição, os visitantes poderão assistir cerca de 6 minutos da obra inédita rodada no Haiti e o filme “Meditation on violence”, este último produzido na fase em que a artista se aproximou do grupo de antropólogos formado por Margareth Mead, Gregory Bateson, entre outros.


Exposição

The Haitian Rushes, by Maya Deren

Quando: De 01 de outubro de 2015 a 17 de janeiro de 2016

Onde: Johann Jacobs Museum, Zurique

Mais detalhes: www.johannjacobs.com

A exposição conta ainda com objetos e banners de vodu do início dos anos 50, que compõem o “cenário” do Haiti como um cruzamento de rotas, raças – um meio (antropológico e de contracultura) em que Deren operava. O sentido da exposição, segundo os organizadores, é cruzar arte e antropologia de maneira a se criar uma ideia ou imagem dos encontros transculturais que perpassam a história do Haiti e a própria exploração de Deren.





Maya Deren.
(AFP)

O material, deixado por Deren praticamente sem edição, será restaurado num projeto que prevê a colaboração do Museu com o Anthology Film Archives, de Nova Iorque, e a cineasta Martina Kudlácek, em Viena. O resultado desse trabalho será apresentado ao público em 2017. Em 2018, o filme completo será apresentado na exposição sobre antropologia e arte no Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, em Madri.

Do café para globalização

A proposta, que vem sendo desenvolvida pelo diretor Roger M. Buergel, desde sua chegada em 2013, é fazer com que o Johann Jacobs Museum seja um ponto de referência numa nova rede das artes – fora do tradicional circuito tradicional, comercial. Formado pela Academia de Belas Artes de Viena, em seu currículo Buergel conta com projetos de peso, como a direção artística da documenta 12, em 2007, a direção artística da Bienal de Busan, Coreia do Sul, em 2012.

“No Johann Jacobs Museum temos a possibilidade de aprofundar os temas que nos dizem respeito – basicamente o que chamamos de ‘migração transcultural da forma’. Esse aprofundamento se dá não só no plano da pesquisa, mas também no desenvolvimento de um método próprio e original por meio de uma imersão mais intensiva nos temas que trabalhamos”, explica Buergel.

Outro aspecto relevante desta nova fase do museu é que o café deixou de ser o foco. Agora, o tema de partida das exposições são as questões ligadas ao comércio global, ao capital, ao trabalho, à globalização etc. São os chamados destinos transnacionais. Como é o caso da exposição, que ocorreu em 2014, sobre o trabalho de Lina Bo Bardi, a italiana que foi para o Brasil e lá desenvolveu uma nova proposta. É conhecida por projetar o Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Dentro desta abordagem, ou seja, de quebrar com visões eurocêntricas da arte, a direção do museu tem fechado parcerias com museus na América Latina, na Ásia e África. No Brasil, o Museu está estabelecendo colaboração com o Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador. Uma das metas é trazer para Zurique duas exposições que serão realizadas pela instituição. Parcerias também estão sendo costuradas com o centro Raw Material, no Senegal, e com o próprio Reina Sofia, na Espanha. 


swissinfo.ch - www.johannjacobs.com

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