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segunda-feira, 7 de julho de 2014

A nova arquitectura em directo no MoMA

O trabalho de Pedro Gadanho como curador no Museum of Modern Art (MoMA) de Nova Iorque pode ser visto numa exposição que é também como uma retrospectiva pessoal. Conceptions of Space explora o modo como as novas noções de espaço influenciam o que se projecta em arquitectura. Do social ao artístico, haja contágios.
 
Hy-fi, do atelier nova-iorquino The Living DR



Ao toque, parece esferovite. Poroso, cedendo um pouco à pressão. Um bloco com a forma de um tijolo de barro um pouco mais longo do que a maioria dos que cobrem a fachada de muitos dos edifícios mais antigos de Nova Iorque. Só que mais leve e totalmente orgânico, um tijolo reinventado sobre o qual se pode dizer que foi cultivado, e que, em combinação com outros tijolos iguais, forma uma estrutura que venceu a 15.ª edição do Young Architects Program (YAP), no MoMA. Imagens e uma réplica de parte desse projecto que pode ser visto desde finais de Junho na cidade de Long Island, em Nova Iorque, estão no átrio do museu, junto às bilheteiras, e funcionam como cartão de visita para Conceptions of Space, uma exposição de 20 projectos que representam 80% das aquisições feitas para espólio na área da arquitectura contemporânea nos dois anos e meio em que Pedro Gadanho está nas funções de curador no Departamento de Arquitectura e Design daquele museu.

“O projecto chama-se Hy-Fi é de um grupo de arquitectos [The Living] que traz os princípios da biologia para a arquitectura. Este tijolo nasce do aproveitamento das raízes de um cogumelo que, ao consumir os restos da agricultura, solidifica e forma estas placas que têm sido usadas para embalagens. Esta é a primeira utilização em arquitectura. Interessa-nos enquanto solução de pesquisa para utilização futura e por ser totalmente não poluente. Não tem emissões de carbono ao longo do seu processo de construção”, refere Pedro Gadanho em vésperas de inaugurar a exposição na Robert Menschel Architecture and Design Gallery, no terceiro piso do museu.

É grande o impacto da estrutura naquele anfiteatro onde se podem ver os vencedores dos outros museus que se associaram ao MoMA (o MAXXI, em Roma, o Constructo, em Santiago do Chile, o Istambul Modern na Turquia e o MCAA, de Seul). E é por ela que Pedro Gadanho começa a visita guiada que fez para o PÚBLICO através da exposição que é uma retrospectiva do trabalho que tem desenvolvido em Nova Iorque e que privilegia o modo como a arquitectura reflecte as relações sociais e artísticas que criam ou definem o espaço. Neste caso, o modo como novas propostas respondem a necessidades prementes, como a procura de soluções alternativas em resposta a problemas muito específicos. “Para mim a ideia de sustentabilidade é muito duvidosa porque anda colada a um aproveitamento comercial. Prefiro dizer que me interessam propostas inovadoras sem prejuízos ambientais”, precisa o arquitecto antes de falar do jogo de luz e sombra que sai daquela estrutura pensada como espaço para espectáculos ou lazer.

Simbólico. Aquele que é o elemento mais básico associado à construção de edifícios — o tijolo — surge associado à tecnologia mais inovadora como exemplar não apenas no modo como necessidades funcionais se conjugam e articulam com o espaço arquitectónico e onde a arquitectura é vista enquanto disciplina também artística. Ou seja, enquanto disciplina que responde a problemas culturais e desencadeia trabalhos artísticos. “Interessa-me a ideia de concepção do espaço, mas também de como ele é representado e interpretado e dá azo a vários objectos no mundo da cultura. Não é só um espaço diáfano ou invisível. É algo que se transforma em objectos”, vai dizendo Pedro Gadanho enquanto entra numa sala transformada, já não mais o quadrado que serve de base a quase todas as exposições do MoMA, mas um espaço também ele alterado, fazendo justiça ao título da exposição que está quase montada.

Ainda há escadotes, os projectores de vídeo estão a ser ligados, termina-se a colagem do que vai ser a imagem da exposição Conceptions of Space. São 140 peças que representam 20 projectos divididos em oito grandes áreas e uma preocupação fundamental: pensar como é que os arquitectos concebem, representam e interpretam a noção de espaço arquitectónico. E é tudo como numa performance. A exposição montada como uma experiência não apenas visual, mas sensorialmente mais alargada e sobre a qual é possível fazer projecções, adivinhar tendências, perceber que as possibilidades são múltiplas numa linguagem cheia de contágios. Temos o edifício mais estreito do mundo, na Polónia, enquanto exemplo do quanto pode a criatividade no aproveitamento do espaço vazio em cidades cada vez mais densamente povoadas, como a Nova Iorque depois do mayor Bloomberg; as visões futuristas que aconteceram muito na década de 1970 inspiradas na ficção científica; as estruturas modulares ou de revestimentos — chamam-lhe envelope — que estimulam arquitectos em busca de novos processos de construção; ou as fórmulas rígidas a que também estão limitados e de que mais uma vez os americanos são exemplo.

Mais estimulante de tudo, insiste Pedro Gadanho, “é a forma como o espaço é apropriado. Seja por artistas que fazem instalações, ou por sociólogos que falam da produção do espaço”. Em suma: “Esta exposição revisita a ideia de espaço arquitectónico da contemporaneidade”, muito inspirado no sociólogo francês Henri Lefebvre que explorou a concepção de espaço enquanto abstração e interacção social. É entre estes dois pólos, opostos mas sempre em diálogo, que a colecção e a exposição - que abriu dia 4 ao público - foram pensadas, numa lógica que pretende abarcar a arquitectura contemporânea em toda a sua complexidade. Num momento em que as alterações acontecem não apenas no modo de representar um projecto como nos materiais criativos que eles inspiram.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/a-nova-arquitectura-em-directo-no-moma-1661814

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