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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Museu de Berna vai receber a “colecção nazi” de Cornelius Gurlitt

Acervo legado ao museu suíço contém arte confiscada pelos nazis. Congresso Mundial Judaico ameaça com batalha jurídica.


O Museu de Belas-Artes de Berna concordou em receber centenas de obras de arte que terão pertencido ao historiador e marchand Hildebrand Gurlitt, que ajudou o regime nazi a vender no estrangeiro a arte confiscada aos museus europeus e extorquida aos coleccionadores judeus durante a ascensão de Adolf Hitler ao poder e no decurso da Segunda Guerra Mundial.

A notícia foi avançada pelo site da britânica BBC, que garante ainda que muitos dos trabalhos desta extensa colecção de arte moderna (há artistas de outros períodos, mas são residuais) permanecerão na Alemanha até que os seus verdadeiros proprietários sejam identificados.

A publicação especializada The Art Newspaper precisa que o anúncio foi feito esta segunda-feira numa conferência de imprensa em Berlim, em que o presidente do fundação do museu de Berna, Christoph Schaeublin, disse aos jornalistas que, com as autoridades da Baviera, irá “partilhar responsabilidades” pela colecção.

O museu suíço parece, assim, preparado para uma longa batalha nos tribunais. Já este mês, numa entrevista à revista alemã Der Spiegel, o presidente do Congresso Mundial Judaico, Ronald Lauder, garantira que, caso aceitasse o presente de Cornelius Gurlitt, herdeiro do historiador e colaborador dos nazis, Berna enfrentaria uma “avalanche de processos judiciais”.

Cornelius Gurlitt morreu a 6 de Maio, aos 81 anos, expressando em testamento a vontade de ver o acervo que defendia pertencer-lhe por direito entregue ao Museu de Belas-Artes de Berna. Na altura, o advogado explicou que legar a colecção a um museu suíço foi a forma que o seu cliente encontrou de mostrar que estava “zangado” com a “perseguição” que lhe tinha sido movida pelas autoridades alemãs.

Na semana passada, uma prima do coleccionador, Uta Werner, também reclamou os direitos da família Gurlitt ao acervo, entrando com uma queixa num tribunal de Munique.

Ainda na conferência de Berlim, Christoph Schaeublin manifestou a total disponibilidade da instituição que lidera para colaborar com as autoridades alemãs na identificação das obras roubadas pelos nazis e na sua restituição aos proprietários legítimos. O presidente da fundação do museu de Berna explicou ainda que a decisão de "aceitar a herança" de Gurlitt, avaliada em dezenas de milhões de euros, segundo a AFP, foi tomada no sábado.

Uma decisão que, para a secretária de Estada da Cultura alemã, leva a uma "boa solução". Referindo-se nesta manhã de segunda-feira ao acordo celebrado entre o estado federal alemão, o governo da Baviera e o museu suíço, Monika Grütters classificou-o como uma "etapa importante" no trabalho que a Alemanha tem vindo a fazer no que toca ao seu passado nazi.

Grütters disse ainda na conferência de imprensa que a Alemanha está prestes a devolver três obras de arte que, está provado, foram confiscadas a coleccionadores judeus. Entre elas, exemplifica a agência de notícias francesa, está uma pintura de Henri Matisse que foi roubada ao negociante de arte Paul Rosenberg, avô da jornalista Anne Sinclair.

É por causa deste processo de averiguação de propriedade, que se espera venha a ser longo e complexo, que o número de obras a doar ao museu de Berna é ainda incerto. O que se sabe é que fazem parte de um lote de 1400 pinturas, desenhos e gravuras que as autoridades alemãs descobriram num apartamento de Munique em Fevereiro de 2012, propriedade de Cornelius Gurlitt, filho do historiador que Hitler queria ver à frente do museu que haveria de mandar construir na nova Berlim do pós-guerra, quando sonhava que a vitória era ainda possível.

Tesouro escondido
Deste extenso lote de 1400 obras, muitas delas escondidas atrás de uma “parede” de latas de conserva, faziam parte trabalhos de Henri Matisse, Marc Chagall, Paul Klee, Pablo Picasso, Otto Dix, Emil Nolde, Albrecht Dürer, Pierre-Auguste Renoir e Canalletto, entre muitos outros.

Embora as autoridades tivessem localizado este acervo que contém muitas obras desconhecidas dos historiadores de arte em 2012, só em Novembro do ano passado é que a descoberta foi tornada pública pela alemã Der Spiegel. Mais tarde, noutra das casas ligadas a Cornelius, em Salzburgo, foram encontradas mais obras.

Depois de sujeitos a avaliações aprofundadas por uma equipa de especialistas nomeada pelo governo federal alemão e pelas autoridades da Baviera, e tendo a investigação sido entregue ao Ministério Público, parte da colecção começou a ser devolvida aos herdeiros dos seus donos legítimos, na sua maioria judeus perseguidos, e alguns mortos, durante a Segunda Guerra.

fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/museu-de-berna-vai-receber-a-coleccao-nazi-de-cornelius-gurlitt-1677269

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