O dia 2 de maio, nesta segunda-feira, pode ter pouco significado para a maioria das pessoas, mas para os filhos de santo do Ilê Axé Opô Afonjá - um dos mais históricos e significativos terreiros de candomblé de Salvador -, no São Gonçalo do Retiro, a data reserva grande importância.
É aniversário da comandante da casa, a ialorixá Maria Stella de Azevedo Santos, conhecida publicamente como mãe Stella de Oxóssi e, religiosamente, como Odé Kayodé ("o caçador traz alegria", em referência ao orixá dela, ligado à caça, às florestas e aos animais).
A movimentação mais intensa que o comum no Afonjá, nesta segunda, anunciava o dia especial: são 91 anos de uma escritora imortal, assim considerada desde 2013, quando assumiu, na Academia de Letras da Bahia, a cadeira que tem como patrono o abolicionista Castro Alves.
Mãe Stella recebeu filhos ilustres, admiradores e assinou um acordo de cooperação para que a Universidade do Estado da Bahia (Uneb) catalogue, digitalize e disponibilize online os arquivos de 106 anos do terreiro regido por Xangô, orixá da justiça, dos raios, do trovão e do fogo.
No acervo estão documentos históricos para o candomblé da Bahia, como a ata de fundação do Opô Afonjá, assinada pela primeira ialorixá da casa, Eugênia Anna dos Santos, a mãe Aninha. Além disso, fotos antigas e jornais históricos que mostrem o terreiro serão digitalizados.
Presidente da Sociedade Civil Cruz Santa do Ilê Axé Opô Afonjá, entidade jurídica da casa, o obá de Xangô (espécie de ministro) Ribamar Daniel diz que a preservação dos arquivos é o principal objetivo da parceria, com duração de cinco anos.
"É uma iniciativa importante, porque, no momento em que religiosos tentam questionar o candomblé, damos respostas práticas. Além disso, é importante digitalizar os arquivos para que existam a vida toda", frisa.
Homenagens
Ainda pela manhã, a ialorixá foi homenageada pelo cantor Edu Casanova e por crianças da creche Rumo e Caminho, que passou a funcionar no terreiro há quatro meses, após convite da própria mãe Stella.
Coordenadora da instituição, Terezinha da Silva conta que, antes, a manutenção do projeto de educação sociorracial era complicada, por causa dos aluguéis. "É uma honra e responsabilidade estar perto de uma pessoa tão importante e iluminada. Aprendemos muito com ela, sempre, e temos muita gratidão pelo convite", elogiou.
Sintética, a ialorixá pontuou a gratidão aos deuses africanos: "Só tenho a agradecer ao criador, pelos anos de vida e serviços prestados nesse tempo na casa de Xangô".
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