Sobre a autora: Nadia Somekh.
É professora emérita da Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi Presidente do Conpresp e diretora do DPH (2013-2016).
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Galeria Metrópole, 1959/1960. Arquitetos Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia
Foto Rafael Schimidt [Fotoarquitetura]
As cidades contemporâneas vêm passando por transformações que podem ser elencadas apontando a necessidade de ampliar a importância da proteção do patrimônio cultural, bem como dos espaços públicos, garantindo identidade e democracia urbana. As cidades brasileiras vêm sendo produzidas em um modelo urbano sem urbanidade. O binômio demolição/construção resultou em uma verticalização que destruiu o patrimônio da cidade. As transformações recentes da indústria e a reestruturação produtiva trouxeram para as nossas cidades a convivência de velhos e novos problemas. Esta reestruturação deixou áreas, bem equipadas, vazias, ampliando o processo de expansão e consequente dilapidação dos recursos naturais. Por outro lado desigualdades sociais persistem principalmente na questão habitacional.
Nesse sentido, entendemos que construção de cidade significa atacar velhos e novos problemas: ampliar a oferta habitacional de diversas faixas de renda, reduzindo a gentrificação, (re)estabelecendo uma mobilidade que atenda a redução do aquecimento do planeta e produzir espaços públicos de qualidade com preservação do patrimônio histórico, reforçando núcleos identitários e cidadãos globalizados.
Em síntese podemos apontar a chamada globalização e/ou reestruturação produtiva, que esvazia espaços industriais, portos, orlas ferroviárias e centros históricos, a novas tecnologias conectando o mundo, o divórcio de política e do poder e a dissolução de vínculos. A obsolescência produzida pelo capitalismo, fez com que haja a necessidade de regeneração de tecidos urbanos bem localizados, muitas vezes de forma espontânea, ou seja a mediação de um projeto.
Entendemos também que a proteção do patrimônio deve ser tratada dentro da questão urbana. Nos anos 70, o patrimônio histórico foi tratado pelo órgão de planejamento e, ao longo da sua atuação, foi se fragmentando e se desarticulando da questão urbana. Dentro desse quadro, como então formular uma política de preservação do patrimônio cultural levando em conta o desenvolvimento sustentável? Como construir cidade a partir do patrimônio?
Essas transformações funcionais demandam novas formas de proteção do patrimônio cultural e histórico. Como se dá a materialização do espaço urbano e como é apropriado? Como conferir qualidade e inclusão?
O conceito de cidade compacta é defendido por Richard Rogers (1) e foi estabelecido no Plano Diretor Estratégico – PDE de São Paulo. Consiste em fazer habitar e concentrar população otimizando os investimentos realizados e reduz o avanço da cidade sobre zonas com recursos naturais a serem preservados. O limite da cidade compacta é a urbanidade, aqui entendida como possibilidade de boa convivência através de espaços públicos democráticos e pré-existências norteadores de memória e identidade.
A cidade compacta requer um sistema de transporte compatível e inclusivo. O automóvel e o ônibus são elementos que não contribuem com a constituição de uma cidade compacta. A cidade compacta pode reduzir a dilapidação dos recursos naturais e promover a redução do uso do automóvel.
O que debateremos neste trabalho é a utilização do conceito patrimônio ambiental urbano como elemento de construção de uma cidade democrática, participativa com urbanidade. Para tanto apontamos alguns instrumentos inovadores tais como a Jornada do Patrimônio e a Fábrica de Restauro como possibilidades de democratização da herança urbana.
Estruturamos o trabalho em três partes: uma primeira discute o conceito de patrimônio ambiental urbano, como recorte teórico para a discussão de projetos urbanos com inclusão social. A segunda aponta a Jornada do Patrimônio como instrumento de sensibilização social; e a terceira, a Fábrica de Restauro, mobilização para a construção de ações de transformação/proteção participativos.
Conceito de patrimônio ambiental urbano
Meu primeiro encontro com o conceito se deu a partir do curso realizado na FAU USP em 1978 com o mesmo nome. Para Ulpiano Bezerra de Meneses, “Patrimônio ambiental urbano é um sistema de objetos, socialmente apropriados, percebidos como capazes de alimentar representações de um ambiente urbano” (2). A sua seleção é determinada pela sua carga de significação dotada de potencial legitimador, integrador e, portanto transformador. É necessário ampliar a significação social.
O projeto de futuro de uma cidade deve incorporar “o código de interação que efetivamente organiza as relações sociais daqueles objetos que fornecem ingredientes para as imagens da cidade” (3).
Para Eduardo Yázigi (4), o patrimônio ambiental urbano é constituído de conjuntos arquitetônicos urbanísticos e demais elementos urbanos tendo a inclusão social como exigência crescente. Para o autor o conceito está em constante transformação e “deve se configurar como o ser e o porvir”. Retoma a assertiva de Pier Luigi Cervelati: a preservação do Patrimônio Ambiental não pode existir fora da preservação social (5). A ideia de monumento e conceito de Patrimônio tout court é uma ideia construída pela Unesco que deve ser superada, e transformada em “herança” daquilo que buscamos transmitir às gerações futuras (6).
A superação do conceito de monumento para edifícios e conjuntos de importância histórica se dá através da Carta de Veneza, de 1964, e é incorporada no Brasil pela criação do Condephaat em 1968. A Declaração de Amsterdã, de 1975, propõe a conservação e reabilitação de núcleos urbanos articulada e integrada ao processo de planejamento urbano. Esses dois documentos tem como projeto ícone a cidade de Bolonha que ainda coloca a participação e a inclusão social no cerne do seu conceito de preservação.
A Carta de Nairobi, de 1976, aponta recomendações para a preservação contemporânea de áreas históricas, apontando a limitação da musealização do patrimônio edificado. “O documento ainda define ambiente como cenário, seja natural ou criado pelo homem, que influencia a maneira pela qual as áreas históricas são percebidas ou são ligadas espacialmente por fatores sociais, econômicos e culturais. As áreas históricas, objeto do documento, devem ser consideradas como uma totalidade coerente, em que o equilíbrio depende da inter-relação dos componentes principais, as atividades humanas, os edifícios, a organização espacial e os arredores” (7).
Dentro desse quadro não se poderia entender a preservação do patrimônio ambiental urbano fora do planejamento das cidades. Não foi o que se observou no Brasil em São Paulo. Nabil Bonduki aponta como um dos problemas do balanço da experiência do BID Monumenta no Brasil a desarticulação dos projetos com a Política Urbana (8).
Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses vai além dessa perspectiva integradora: propõe que o Ministério ou as Secretarias de Cultura deveriam se responsabilizar não só pela administração de instituições de eventos “culturais, mas sobretudo na identificação da dimensão cultural em todas as políticas públicas de um governo” (9).
No caso de São Paulo a ação municipal de preservação teve sua origem em 1974 na Coordenadoria Geral de Planejamento – Cogep, entidade instalada originalmente no gabinete do prefeito, com a lista de bens culturais a serem protegidos solicitados aos professores Benedito Lima de Toledo e Carlos Lemos, posteriormente incorporada ao zoneamento a partir da definição das zonas especiais Z8-200 (10). A criação em São Paulo do Departamento de Patrimônio Histórico – DPH e do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental – Conpresp representou uma fragmentação nesse processo de revisão urbanística que agora começa a ser retomada.
Tentativas de integração ocorreram antes da constituição do conselho quando da instituição do Inventário Geral de Patrimônio Ambiental Urbano – Igepac que buscava incorporação do conceito patrimônio ambiental urbano desenvolvido a partir do curso da FAU das experiências de Bolonha e recomendações das cartas patrimoniais.
Uma avaliação crítica a respeito dos instrumentos de preservação no nível municipal, bem como de uma revisão histórica dessas ações aponta a necessidade de busca de instrumentos financeiros complementares a identificação e tombamento para efetivar a proteção dos bens preservados.
Entendemos que projetos urbanos podem trazer recursos para a preservação do patrimônio ambiental urbano desde que sejam constituídos coletivamente. Para isso elegemos os trabalhos que apontaram caminhos nessa direção.
Grandes projetos urbanos são marca nas cidades contemporâneas e podem considerar ou não preexistências que se fundamentam na história e na memória urbana. Mas, na esteira dos movimentos de retomada do espaço público ao redor do mundo, a transformação urbana pode incorporar as múltiplas formas de apropriação cidadã.
Projetos urbanos podem transformar a cidade contemporânea; a sensibilização e a construção de cidadania situam o patrimônio como base para um projeto de futuro.
Jornada do Patrimônio, um instrumento de sensibilização social
Em dezembro de 2015, a cidade de São Paulo teve sua primeira Jornada do Patrimônio. O evento buscou sensibilizar os cidadãos para sua herança material e imaterial compartilhada, entendida como base para a elaboração de uma identidade comum e parte de um processo de construção coletiva da cidade.
A jornada paulistana se inspirou na jornada francesa, criada em 1984 pelo Ministério da Cultura da França com o nome “Jornada de Portas Abertas dos Monumentos Históricos”. Uma experiência bem sucedida que se espalhou e levou, em 1991, o Conselho da Europa a oficializar as “Jornadas Europeias do Patrimônio”. Hoje, cinquenta países do continente participam desse evento. A partir de 2000, o nome foi adotado também pela jornada francesa, concretizando um único grande evento que ocorre em diversos lugares simultaneamente.
Na França, a estratégia foi adotar um tema geral anual, desenvolvido na capital e nas outras cidades, constituindo-se em um momento privilegiado para a população visitar espaços usualmente fechados ao público e conhecer ações de valorização de edifícios patrimoniais, tanto públicos quanto privados. Dentre os temas definidos destacamos: “Patrimônio e Literatura” (1996), “Patrimônio, Festas e Jogos” (1997), “Patrimônio do Século 20” (2000), “Ofícios do Patrimônio” (2007) e “Patrimônio do Século 21” (2015).
Segundo o Ministério da Cultura francês, o sucesso do evento se deve à grande diversidade do patrimônio proposto aos visitantes: são abertas à visitação obras puras da arquitetura civil ou religiosa, há testemunhos das atividades industriais e agrícolas, parques e jardins, sítios arqueológicos, objetos, patrimônio literário, imaterial, além de oficinas de atividades infantis nos espaços. As crianças aprendem a moldar ornamentos, escrever ou decifrar documentos históricos a partir de visitas aos arquivos gerais, entre outras atividades.
Na versão paulistana, introduzimos uma inovação a partir da experiência, na Secretaria Municipal de Cultura, da Virada Cultural, evento anual que dura um final de semana e tem diversas atividades artísticas gratuitas para a população. Ao trazer apresentações artísticas para a Jornada, foi possível atrair um público mais diverso ao patrimônio, além de celebrar o patrimônio imaterial que se expressa nessas manifestações artísticas locais.
Toda a programação de samba, como a apresentação do Tobias da Velha Guarda da Escola de Samba Vai-Vai na Vila Itororó (construída no começo do século 20, como uma solução de moradia coletiva), destaca a importância e a peculiaridade do samba paulistano, que foi registrado como patrimônio imaterial da cidade em 2013. Entre outras atrações do samba em imóveis patrimoniais, tivemos Samba da Vela, a roda de samba mais antiga ainda em vigor na cidade (na Biblioteca Prestes Maia, de 1965, em frente ao antigo Mercado de Santo Amaro), entre outras atrações desse tipo.
O poeta paulistano Mário de Andrade, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna e precursor da ideia da cultura popular como patrimônio, também foi homenageado no evento. No hall de Theatro Municipal (inaugurado em 1911) tivemos a apresentação de “Bach a Bachianas”, com Mário de Andrade interpretado pelo ator Pascoal da Conceição acompanhado de Rosana Lancelotti ao piano forte. Em frente ao edifício da prefeitura, Marília Vargas cantou marchinhas imperiais recolhidas por Mário de Andrade.
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Xis, SNJ, Z’África Brasil, Lurdez da Luz, Rashid, Dexter e Thaide em apresentação no Theatro Municipal
Foto divulgação
Dentro da ideia da ampliação e democratização do conceito de patrimônio, a Jornada trouxe apresentações ligadas ao hip hop, movimento que já é reconhecido popularmente como uma manifestação emblemática da cultura paulistana. E como exemplo da programação relativa às religiões de matriz africana, a Casa Sertanista – casa de taipa do século 17 – recebeu a Cia. Treme Terra, que fez uma intervenção de música, dança e performance chamada “Macumba Jam”.
Para valorizar as 22 companhias de teatro que, assim como o samba, foram registradas como patrimônio imaterial paulistano, a Jornada teve a apresentação de 26 peças dessas companhias durante o final de semana em edifícios de valor histórico e patrimonial, como o Teatro Municipal, a Casa do Povo (espaço de sociabilidade fundado por judeus migrantes do Leste Europeu e que serviu como local de resistência à Ditadura), Solar da Marquesa (raro exemplar de residência urbana do século 18) e o Tribunal de Justiça de São Paulo.
Esses são apenas alguns exemplos da programação, que também teve uma parte especial para crianças. Foram mais de noventa espetáculos, peças, oficinas em edifícios ou locais históricos. Alguns desses edifícios abertos ao público pela primeira vez, como a casa de Vilanova Artigas no Campo Belo, da família do arquiteto, e a casa de Nhonhô Magalhães, propriedade do Shopping Pátio Higienópolis, no bairro de mesmo nome.
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Casa do arquiteto, São Paulo, 1949, arquiteto Vilanova Artigas
Foto Nelson Kon
Também valorizaram o patrimônio material e imaterial os cerca de setenta roteiros concentrados no fim de semana da Jornada, grande parte deles atividades que já ocorrem esporadicamente de forma fragmentada, como o roteiro “Território da paisagem e da cultura de Perus”, proposto pelo movimento de preservação do bairro que nasceu com uma indústria de cimento, hoje tombada. Entre os passeios conduzidos especialmente para a Jornada, podemos destacar o “Roteiro de arquitetura moderna” do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, que ajudou a promover a arquitetura moderna como um dos mais relevantes patrimônios paulistanos, mas pouco reconhecido como tal pela população.
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Edifícios Esther e Arthur Nogueira, São Paulo, 1934/1938. Arquitetos Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho
Foto Rafael Schimidt [Fotoarquitetura]
Houve ainda mais de cinquenta palestras, que atraíram um público relativamente menor e que deverá ter uma curadoria neste ano. Em 2015, a premissa foi a de abertura de um grande chamamento público para todas as modalidades – imóveis, roteiros, palestras, oficinas e apresentações –, incluindo todos que não fugissem ao tema do patrimônio. Como resultado, mais de quatrocentos eventos ocorreram simultaneamente na cidade em cerca de 140 imóveis e locais históricos. A versão de 2016, com menos recursos para apresentações artísticas, teve igual sucesso. A lei n. 16.546, de 21 de setembro de 2016, definiu em seu artigo primeiro a Jornada do Patrimônio como evento a ocorrer nos terceiros sábado e domingo do mês de agosto de cada ano” (11).
Fábrica de Restauro como inovação de projeto urbano
O conceito de Patrimônio ambiental urbano, as cartas patrimoniais propondo a democratização do Patrimônio histórico, envolvendo as comunidades herdeiras, bem como a efetiva salvaguarda da nova herança cultural prevê a criação de instrumentos inovadores.
A salvaguarda do Patrimônio histórico compõe-se de três partes distintas: a identificação, o tombamento e a efetiva preservação/conservação. No caso de São Paulo observamos historicamente desde a sua criação uma quantidade expressiva de levantamentos e inventários, com eventual tombamento, mas com instrumentos limitados para uma efetiva recuperação. Observamos ainda que, quando há o restauro e recuperação do bem tombado, não há um acompanhamento de conservação, tão pouco do impacto social, econômico e ambiental da ação de conservação.
No caso de São Paulo a primeira ação municipal surgiu em 1974, com a lista de bens culturais 28-200, elaborada pelos professores Carlos Lemos e Benedito Lima de Toledo encomendadas pela Cogep do Município de São Paulo. Com a criação do DPH em 1975 e do Conpresp em 1985, o Município de São Paulo pode tombar de forma desvinculada da legislação de planejamento. A identificação e o tombamento focam as recuperações características da ação patrimonial paulistana. Hoje existem 3559 bens tombados e identificados, mas poucos efetivamente conservados e protegidos.
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Escadaria do Bexiga
Foto Abilio Guerra
O Bairro do Bexiga, tradicionalmente excluído de planos e projetos urbanos, por ser composto por operários, pobres, negros, italianos e anarquistas, teve seu casario, pelas mesmas razões de exclusão, preservado da febre imobiliária de São Paulo no século 20.
A principal intervenção no bairro rasgou seu quadro construído dividindo o bairro em duas partes, separadas por vias expressas durante os anos autoritários de implementação do PD77 eminentemente rodoviarista.
Os planos diretores posteriores de 1991, 2002 e 2014 previam altas densidades e poucos instrumentos efetivos para a conservação do bairro, que ao longo do século 20 foi se deteriorando.
O instrumento da Transferência do Potencial Construtivo – TPC, de 2002, e sua adequação Transferência do Direito de Construção – TDC, de 2014, trouxeram a possibilidade de monitorar os valores transferidos para os bens tombados, porém com pouca atividade no bairro do Bexiga.
Em 1992, o concurso de ideias encabeçado pela Empresa Municipal de Urbanização – Emurb, hoje SP Urbanismo, que pretendia a construção coletiva de um projeto urbano, resultou efetivamente no tombamento do bairro em 2002, a partir do Igepac empreendido pelo DPH.
Com uma perspectiva de adensamento previsto pelo plano Diretor 2014 e pela lei de zoneamento de 2015, e tendo como realidade física um tecido social forte e um quadro construído em processo de deterioração física, foi formulado o instrumento inovador denominado Fábrica de Restauro do Bexiga. A ideia é estabelecer um modelo que possa ser replicado em conjuntos urbanos e também constituir-se experiência piloto para dar origem a uma empresa pública SP Restauro.
A Fábrica de Restauro, experimentalmente formulada para o bairro tombado do Bexiga, constitui-se de uma mobilização social que permita construir coletivamente a recuperação física e social do bairro, sem perspectivas de gentrificação. Será isto possível? Será possível, também, abrigar um bairro tombado em adensamento compatível com o tecido histórico preservado pela exclusão?
Enquanto estivemos à frente do DPH, para iniciar essa mobilização propusemos reuniões com possíveis parceiros. Chamamos os diversos grupos sociais atuantes no Bexiga – Rede Paulista de Educação Patrimonial (Repep), Casa de Dona Yayá (Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo – CPC USP), Bexiga Viva e duas associações de proprietários de bens tombados, entidades que muitas vezes atuam de forma conflitante e que não apresentaram representatividade consistente.
Além disso mobilizamos a Associação de Empresas de Restauro – Asseer, consultores envolvidos na TDC e ainda a Agência São Paulo de Desenvolvimento – Adesampa, voltada para o estímulo de micro e pequenas empresas, startups e laboratórios de coworking.
Após reuniões parciais, reunimos todos os parceiros em uma oficina de organização. A partir dos debates e das apresentações de experiência como da Vila Itororó, do processo participativo de restauro, do Escritório Modelo-Mosaico Mackenzie, da ocupação habitacional de interesse social e do Plano Regional da Sé realizado pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento Urbano – SMDU, estabelecemos três grandes grupos de trabalho.
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Vila Itororó
Foto Nelson Kon
O primeiro grupo, denominado “Formação/capacitação do pedreiro ao restaurador”, se desdobrou na perspectiva de desenvolver cursos de manutenção e zeladoria especializados em acompanhamento de bens que quando restaurados demandem um olhar e saberes específicos. Essa iniciativa contou com a participação da Asseer em conjunto com a Adesampa.
O debate do projeto vinculado ao patrimônio histórico foi liderado pelo grupo de pesquisa do professor Julio Katinsky, que desde 2016 passou a organizar seminários sistemáticos na FAU USP e que neste ano de 2017 passaram a ser documentados para constituir uma produção acumulada de conhecimento.
Voltado para a obtenção de recursos, o grupo 2 de se dividiu em dois subgrupos: o denominado TDC coletivo, onde foram calculados transferências previstas para conjunto de propriedades e proprietários no sentido de se potencializar possíveis recursos advindos do instrumento previsto no PDE 2014; o segundo, sem nome específico e sem grande adesão, preocupou-se com outras formas de obtenção de recursos, como lei Rouanet, lei Mendonça etc.
O grupo 3, denominado Participação/Coletivismo, previa a articulação de grupos sociais e proprietários bem como a Asseer para formular projetos coletivos de restauro e participação da comunidade na recuperação de bens culturais tombados ou não.
As atividades foram paralisadas na mudança de gestão, mas também começou uma mobilização piloto na Vila Maria Zélia, cujo grupo de moradores presente nas oficinas demandava continuidade ao processo já em andamento de recaracterização participativa liderado pelo DPH através da professora Simone Scifoni em parceria pelo Condephaat e grupos de moradores. Esperamos a retomada dessa mobilização com o apoio do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB-SP.
Considerações finais
Ações de sensibilização como a Jornada do Patrimônio, com seus roteiros ancorados no território, a celebração dos patrimônios imateriais, a visitação a edifícios, a vivência do centro e da memória que ele guarda de uma vida de fato urbana, fazem parte desse processo de projetação e despertar da consciência para além do véu do espetáculo, por meio do qual a mercadoria passa a ocupar a vida social de forma total (12).
A aposta é que a sensibilização para o patrimônio e a participação no espaço público, mediada pela construção coletiva de projetos urbanos, possam romper com essa falta de lógica e com o desconhecimento do desejo.Nesse sentido a experiência iniciante da Fábrica de Restauro é uma aposta na construção de ações coletivas que em conjunto promovam projetos urbanos com inclusão social (13).
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In this sense, we understand that city construction means tackling old and new problems: expanding the housing supply of various income streams, reducing gentrification, (re) establishing a mobility that serves to reduce global warming and produce quality public spaces with preservation of historical patrimony, reinforcing identity nuclei and globalized citizens.
In summary, we can point to the so-called globalization and / or productive restructuring, which empties industrial spaces, ports, railways and historic centers, to new technologies connecting the world, the divorce of politics and power and the dissolution of ties. The obsolescence produced by capitalism has made it necessary to regenerate well-located urban fabrics, often spontaneously, that is, the mediation of a project.
We also understand that the protection of heritage must be treated within the urban question. In the 1970s, historical heritage was treated by the planning body and, throughout its activities, it has been fragmented and disarticulated from the urban question. Within this framework, how then to formulate a policy of preservation of cultural heritage taking into account sustainable development? How to build city from the equity?
These functional transformations demand new forms of protection of the cultural and historical patrimony. How is the urban space materialized and how is it appropriate? How to check quality and inclusion?
The compact city concept is defended by Richard Rogers (1) and was established in the Strategic Master Plan - PDE of São Paulo. It consists in making inhabitants and concentrating population optimizing the investments made and reducing the city's advance over areas with natural resources to be preserved. The limit of the compact city is urbanity, here understood as the possibility of good coexistence through democratic public spaces and pre-existences guiding memory and identity.
The compact city requires a compatible and inclusive transportation system. The car and the bus are elements that do not contribute to the constitution of a compact city. The compact city can reduce the squandering of natural resources and promote the reduction of car use.
What we will discuss in this work is the use of the concept of urban environmental patrimony as an element of the construction of a democratic, participatory city with urbanity. In order to do so, we point out some innovative instruments such as the Patrimony Journey and the Restoration Plant as possibilities for the democratization of the urban heritage.
We work in three parts: a first discusses the concept of urban environmental patrimony, as a theoretical clipping for the discussion of urban projects with social inclusion. The second points to the Patrimony Day as an instrument of social awareness; and the third, the Restoration Plant, mobilization for the construction of participatory transformation / protection actions.
Concept of urban environmental patrimony
My first encounter with the concept came from a course at FAU USP in 1978 with the same name. For Ulpiano Bezerra de Meneses, "Urban environmental patrimony is a system of objects, socially appropriate, perceived as capable of feeding representations of an urban environment" (2). Its selection is determined by its load of meaning endowed with legitimating, integrating and therefore transforming potential. It is necessary to broaden social significance.
The future project of a city must incorporate "the code of interaction that effectively organizes the social relations of those objects that provide ingredients for the images of the city" (3).
According to Eduardo Yázigi (4), urban environmental patrimony consists of urbanistic architectural ensembles and other urban elements, and social inclusion is a growing requirement. For the author the concept is in constant transformation and "must be configured as the being and the future". It retakes the assertion of Pier Luigi Cervelati: the preservation of the Environmental Patrimony can not exist outside the social preservation (5). The idea of monument and concept of Heritage tout court is an idea built by Unesco that must be surpassed, and transformed into "inheritance" of what we seek to transmit to future generations (6).
Overcoming the concept of a monument for buildings and buildings of historical importance is through the 1964 Venice Charter and incorporated in Brazil by the creation of Condephaat in 1968. The Amsterdam Declaration of 1975 proposes the conservation and rehabilitation of urban nuclei articulated and integrated to the process of urban planning. These two documents have as icon project the city of Bologna that still places participation and social inclusion at the heart of its concept of preservation.
The Nairobi Charter of 1976 outlines recommendations for the contemporary preservation of historic areas, pointing to the limitation of the museum's ownership of the built heritage. "The document further defines environment as a setting, whether natural or man-made, that influences the way in which historical areas are perceived or spatially linked by social, economic, and cultural factors. The historical areas, object of the document, should be considered as a coherent totality, in which the balance depends on the interrelationship of the main components, human activities, buildings, spatial organization and the surroundings "(7).
Within this framework could not be understood the preservation of the urban environmental patrimony outside the planning of the cities. This was not the case in Brazil in São Paulo. Nabil Bonduki points out one of the problems of the balance of the IDB's experience in Brazil is the disarticulation of projects with the Urban Policy (8).
Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses goes beyond this integrative perspective: he proposes that the Ministry or the Secretariats of Culture should be responsible not only for the administration of institutions of "cultural events, but above all in the identification of the cultural dimension in all the public policies of a government" (9).
In the case of São Paulo, the municipal preservation action had its origin in 1974 in the General Coordination of Planning - Cogep, an entity originally installed in the mayor's office, with the list of cultural objects to be protected requested by Professors Benedito Lima de Toledo and Carlos Lemos , later incorporated into the zoning from the definition of special zones Z8-200 (10). The creation in São Paulo of the Department of Historic Heritage - DPH and the Municipal Council for the Preservation of Historic, Cultural and Environmental Heritage - Conpresp represented a fragmentation in this urban review process that is now beginning to be resumed.
Attempts at integration occurred prior to the constitution of the council at the time of the establishment of the General Inventory of Urban Environmental Heritage - Igepac, which sought to incorporate the concept of urban environmental patrimony developed from the FAU course of the Bologna experiments and recommendations from the patrimonial charts.
A critical evaluation of the preservation instruments at the municipal level, as well as a historical review of these actions, points out the need to search for complementary financial instruments to identify and record to protect the preserved assets.
We understand that urban projects can bring resources for the preservation of urban environmental patrimony as long as they are collectively constituted. For this we choose the works that pointed ways in this direction.
Large urban projects are a mark in contemporary cities and may or may not consider preexistences based on history and urban memory. But in the wake of the movements of public space around the world, urban transformation can incorporate the multiple forms of citizen appropriation.
Urban projects can transform the contemporary city; raising awareness and building citizenship places the heritage as the basis for a future project.
Heritage Day, an instrument of social awareness
In December of 2015, the city of São Paulo had its first Heritage Journey. The event sought to sensitize citizens to their shared material and immaterial heritage, understood as the basis for the elaboration of a common identity and part of a process of collective construction of the city.
The journey was inspired by the French journey, created in 1984 by the Ministry of Culture of France with the name "Open Doors of Historical Monuments". A successful experience that spread and led in 1991, the Council of Europe to formalize the "European Heritage Days". Today, fifty countries of the continent participate in this event. From 2000, the name was adopted also by the French journey, concretizando a single great event that occurs in several places simultaneously.
In France, the strategy was to adopt an annual general theme, developed in the capital and in other cities, constituting a privileged moment for the population to visit spaces usually closed to the public and to know actions of valorization of heritage buildings, both public and private. Among the themes defined are: "Patrimony and Literature" (1996), "Patrimony, Festivals and Games" (1997), "Patrimony of the 20th Century" (2000), "Heritage Offices" "(2015).
According to the French Ministry of Culture, the success of the event is due to the great diversity of patrimony proposed to visitors: pure works of civil or religious architecture are open to visitation, there are testimonies of industrial and agricultural activities, parks and gardens, archaeological sites, objects , literary, immaterial heritage, as well as workshops for children's activities in the spaces. Children learn to shape ornaments, write or decipher historical documents from visits to general archives, among other activities.
In the São Paulo version, we introduced an innovation from the experience at the Cultural Secretariat of Virada Cultural, an annual event that lasts a weekend and has several artistic activities free of charge for the population. By bringing artistic presentations to the Journey, it was possible to attract a more diverse audience to the patrimony, besides celebrating the immaterial patrimony that is expressed in these local artistic manifestations.
All the samba programming, such as the presentation of Tobias da Velha Guarda from the Vai-Vai Samba School in Vila Itororó (built at the beginning of the 20th century as a collective housing solution), highlights the importance and the peculiarity of the São Paulo samba, which was registered as intangible heritage of the city in 2013. Among other samba attractions in heritage properties, we had Samba da Vela, the oldest samba wheel still in force in the city (in the Prestes Maia Library, 1965, in front of the old Market of Santo Amaro), among other attractions of this type.
The São Paulo poet Mário de Andrade, one of the creators of Modern Art Week and a forerunner of the idea of popular culture as patrimony, was also honored at the event. In the Hall of Municipal Theater (inaugurated in 1911) we had the presentation of "Bach to Bachianas", with Mário de Andrade interpreted by the actor Pascoal da Conceição accompanied by Rosana Lancelotti to the strong piano. In front of the city hall building, Marília Vargas sang imperial marches collected by Mário de Andrade.
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Xis, SNJ, Z'Africa Brazil, Lurdez da Luz, Rashid, Dexter and Thaide in a presentation at the Municipal Theater
Photo disclosure
Within the idea of the expansion and democratization of the concept of heritage, Jornada brought presentations related to hip hop, a movement that is already popularly recognized as an emblematic manifestation of the culture of São Paulo. And as an example of the programming related to African religions, Casa Sertanista - a 17th-century mud house - hosted Cia. Treme Terra, who performed a song, dance and performance intervention called "Macumba Jam".
In order to value the 22 theater companies that, like samba, were registered as an immaterial patrimony in São Paulo, Jornada had the presentation of 26 pieces of these companies over the weekend in buildings of historical and heritage value, such as the Teatro Municipal, House of the People (a space of sociability founded by immigrant Jews from Eastern Europe and served as a place of resistance to the dictatorship), Solar da Marquesa (rare example of 18th century urban residence) and the Court of Justice of São Paulo.
These are just a few examples of programming, which also had a special part for children. There were more than ninety shows, plays, workshops on buildings or historical sites. Some of these buildings were opened to the public for the first time, such as the house of Vilanova Artigas in Campo Belo, the architect's family, and the house of Nhonhô Magalhães, owned by the Pátio Higienópolis Shopping Mall, in the neighborhood of the same name.
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House of the architect, São Paulo, 1949, architect Vilanova Artigas
Photo Nelson Kon
Some of the seventy scripts focused on the weekend of the Journey, most of them activities that already occur sporadically in a fragmented way, such as the itinerary "Territory of the landscape and the culture of Turkeys", proposed by the movement of preservation of the neighborhood that was born with a cement industry, today tumbled. Among the tours conducted especially for the Journey, we can highlight the "Roadmap of modern architecture" of the Institute of Architects of Brazil (IAB), which helped promote modern architecture as one of the most important patrimony of São Paulo, but little recognized as such by the population.
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Buildings Esther and Arthur Nogueira, São Paulo, 1934/1938. Architects Álvaro Vital Brazil and Adhemar Marinho
Photo Rafael Schimidt [Photoarchitecture]
There were even more than fifty lectures, which attracted a relatively smaller audience and should be curated this year. In 2015, the premise was to open a great public call for all modalities - real estate, scripts, lectures, workshops and presentations - including everyone who did not escape the theme of heritage. As a result, more than four hundred events occurred simultaneously in the city in about 140 properties and historic sites. The 2016 version, with fewer features for artistic presentations, was equally successful. Law no. 16,546, dated September 21, 2016, defined in its first article the Heritage Day as an event to occur on the third Saturday and Sunday of the month of August of each year "(11).
Restoration Factory as an urban design innovation
The concept of urban environmental patrimony, patrimonial charters proposing the democratization of historical patrimony involving the heiress communities, as well as the effective safeguarding of the new cultural heritage foresees the creation of innovative instruments.
The preservation of the Historical Patrimony is made up of three distinct parts: the identification, the tipping and the effective preservation / conservation. In the case of São Paulo we have historically observed an expressive amount of surveys and inventories, with eventual registration, but with limited instruments for an effective recovery. We also observe that, when there is the restoration and recovery of the well, there is no conservation monitoring, so little of the social, economic and environmental impact of the conservation action.
In the case of São Paulo, the first municipal action arose in 1974, with the list of cultural assets 28-200, elaborated by professors Carlos Lemos and Benedito Lima de Toledo commissioned by Cogep of the Municipality of São Paulo. With the creation of DPH in 1975 and Conpresp in 1985, the Municipality of São Paulo may fall in a way that is unrelated to planning legislation. The identification and tipping refer to the characteristic recoveries of the patrimonial action of São Paulo. Today there are 3559 items listed and identified, but few are effectively preserved and protected.
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Staircase of the Bladder
Photo Abilio Guerra
The neighborhood of Bexiga, traditionally excluded from urban plans and projects, because it was composed of workers, poor, blacks, Italians and anarchists, had its houses, for the same reasons of exclusion, preserved from the estate fever of São Paulo in the 20th century.
The main intervention in the neighborhood tore its built structure dividing the neighborhood into two parts, separated by expressways during the authoritarian years of implementation of the PD77 eminently rodoviarista.
The subsequent master plans of 1991, 2002 and 2014 predicted high densities and few effective instruments for the conservation of the neighborhood, which throughout the 20th century deteriorated.
The Construction Transfer Transfer (TPC) instrument of 2002, and its appropriateness Transfer of Construction Right (TDC), of 2014, brought the possibility of monitoring the values transferred to the assets, but with little activity in the Bexiga neighborhood.
In 1992, the ideas contest led by the Municipal Urbanization Company - Emurb, now SP Urbanism, which sought the collective construction of an urban project, effectively resulted in the overturning of the neighborhood in 2002, from the Igepac undertaken by DPH.
With a perspective of densification envisaged by the 2014 Master Plan and the zoning law of 2015, and having as physical reality a strong social fabric and a framework built in a process of physical deterioration, the innovative instrument called the Bexiga Restoration Factory was formulated. The idea is to establish a model that can be replicated in urban groups and also to be a pilot experience to give rise to a public company SP Restoration.
The Restoration Factory, experimentally formulated for the neighborhood located in the Bexiga, is a social mobilization that allows collectively to build the physical and social recovery of the neighborhood, without prospects of gentrification. Is this possible? Is it possible, too, to house a densely populated neighborhood compatible with the historical fabric preserved by exclusion?
While we were at the helm of DPH, to initiate this mobilization we proposed meetings with potential partners. We call the various social groups that are active in Bexiga - Rede São Paulo de Patrimonio Patrimonial (Repep), Casa de Dona Yayá (Cultural Preservation Center of the University of São Paulo - CPC USP), Bexiga Viva and two associations of owners of listed assets. they often act in a conflicting way and do not have a consistent representation.
In addition we mobilized the Association of Restoration Companies - Asseer, consultants involved in the TDC and also the São Paulo Development Agency - Adesampa, aimed at stimulating micro and small companies, startups and coworking laboratories.
After partial meetings, we gathered all the partners in an organization workshop. From the debates and presentations of experience such as Vila Itororó, the participatory restoration process, the Mackenzie Model-Mosaic Office, the housing occupation of social interest and the Sé Regional Plan carried out by the Municipal Secretariat of Urban Development - SMDU, we established three large working groups.
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Vila Itororó
Photo Nelson Kon
The first group, called "Training / training of the mason to the restorer", unfolded with the perspective of developing maintenance and janitorial courses specialized in accompaniment of goods that when restored demand a specific look and knowledge. This initiative was attended by Asseer in conjunction with Adesampa.
The debate on the project linked to historical heritage was led by the research group of Professor Julio Katinsky, who since 2016 started to organize systematic seminars at FAU USP and in this year of 2017 began to be documented to constitute a cumulative production of knowledge.
In order to obtain resources, group 2 was divided into two subgroups: the so-called collective TDC, where predicted transfers to the set of properties and owners were calculated in order to potentiate potential resources arising from the PDE 2014 instrument; the second, without specific name and without great adhesion, was concerned with other ways of obtaining resources, such as Rouanet law, Mendonça law etc.
Group 3, called Participation / Collectivism, provided for the articulation of social groups and landowners as well as Asseer to formulate collective projects for restoration and community participation in the recovery of cultural assets that have fallen or not.
The activities were paralyzed in the change of management, but also a pilot mobilization began at Vila Maria Zélia, whose group of residents present at the workshops demanded continuity to the ongoing process of participative recharacterization led by DPH through the teacher Simone Scifoni in partnership by Condephaat and groups of residents. We expect the resumption of this mobilization with the support of the Institute of Architects of Brazil - IAB-SP.
Final considerations
Awareness actions such as the Patrimony Day, with its itineraries anchored in the territory, the celebration of intangible heritage, t
É professora emérita da Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi Presidente do Conpresp e diretora do DPH (2013-2016).
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Galeria Metrópole, 1959/1960. Arquitetos Gian Carlo Gasperini e Salvador Candia
Foto Rafael Schimidt [Fotoarquitetura]
As cidades contemporâneas vêm passando por transformações que podem ser elencadas apontando a necessidade de ampliar a importância da proteção do patrimônio cultural, bem como dos espaços públicos, garantindo identidade e democracia urbana. As cidades brasileiras vêm sendo produzidas em um modelo urbano sem urbanidade. O binômio demolição/construção resultou em uma verticalização que destruiu o patrimônio da cidade. As transformações recentes da indústria e a reestruturação produtiva trouxeram para as nossas cidades a convivência de velhos e novos problemas. Esta reestruturação deixou áreas, bem equipadas, vazias, ampliando o processo de expansão e consequente dilapidação dos recursos naturais. Por outro lado desigualdades sociais persistem principalmente na questão habitacional.
Nesse sentido, entendemos que construção de cidade significa atacar velhos e novos problemas: ampliar a oferta habitacional de diversas faixas de renda, reduzindo a gentrificação, (re)estabelecendo uma mobilidade que atenda a redução do aquecimento do planeta e produzir espaços públicos de qualidade com preservação do patrimônio histórico, reforçando núcleos identitários e cidadãos globalizados.
Em síntese podemos apontar a chamada globalização e/ou reestruturação produtiva, que esvazia espaços industriais, portos, orlas ferroviárias e centros históricos, a novas tecnologias conectando o mundo, o divórcio de política e do poder e a dissolução de vínculos. A obsolescência produzida pelo capitalismo, fez com que haja a necessidade de regeneração de tecidos urbanos bem localizados, muitas vezes de forma espontânea, ou seja a mediação de um projeto.
Entendemos também que a proteção do patrimônio deve ser tratada dentro da questão urbana. Nos anos 70, o patrimônio histórico foi tratado pelo órgão de planejamento e, ao longo da sua atuação, foi se fragmentando e se desarticulando da questão urbana. Dentro desse quadro, como então formular uma política de preservação do patrimônio cultural levando em conta o desenvolvimento sustentável? Como construir cidade a partir do patrimônio?
Essas transformações funcionais demandam novas formas de proteção do patrimônio cultural e histórico. Como se dá a materialização do espaço urbano e como é apropriado? Como conferir qualidade e inclusão?
O conceito de cidade compacta é defendido por Richard Rogers (1) e foi estabelecido no Plano Diretor Estratégico – PDE de São Paulo. Consiste em fazer habitar e concentrar população otimizando os investimentos realizados e reduz o avanço da cidade sobre zonas com recursos naturais a serem preservados. O limite da cidade compacta é a urbanidade, aqui entendida como possibilidade de boa convivência através de espaços públicos democráticos e pré-existências norteadores de memória e identidade.
A cidade compacta requer um sistema de transporte compatível e inclusivo. O automóvel e o ônibus são elementos que não contribuem com a constituição de uma cidade compacta. A cidade compacta pode reduzir a dilapidação dos recursos naturais e promover a redução do uso do automóvel.
O que debateremos neste trabalho é a utilização do conceito patrimônio ambiental urbano como elemento de construção de uma cidade democrática, participativa com urbanidade. Para tanto apontamos alguns instrumentos inovadores tais como a Jornada do Patrimônio e a Fábrica de Restauro como possibilidades de democratização da herança urbana.
Estruturamos o trabalho em três partes: uma primeira discute o conceito de patrimônio ambiental urbano, como recorte teórico para a discussão de projetos urbanos com inclusão social. A segunda aponta a Jornada do Patrimônio como instrumento de sensibilização social; e a terceira, a Fábrica de Restauro, mobilização para a construção de ações de transformação/proteção participativos.
Conceito de patrimônio ambiental urbano
Meu primeiro encontro com o conceito se deu a partir do curso realizado na FAU USP em 1978 com o mesmo nome. Para Ulpiano Bezerra de Meneses, “Patrimônio ambiental urbano é um sistema de objetos, socialmente apropriados, percebidos como capazes de alimentar representações de um ambiente urbano” (2). A sua seleção é determinada pela sua carga de significação dotada de potencial legitimador, integrador e, portanto transformador. É necessário ampliar a significação social.
O projeto de futuro de uma cidade deve incorporar “o código de interação que efetivamente organiza as relações sociais daqueles objetos que fornecem ingredientes para as imagens da cidade” (3).
Para Eduardo Yázigi (4), o patrimônio ambiental urbano é constituído de conjuntos arquitetônicos urbanísticos e demais elementos urbanos tendo a inclusão social como exigência crescente. Para o autor o conceito está em constante transformação e “deve se configurar como o ser e o porvir”. Retoma a assertiva de Pier Luigi Cervelati: a preservação do Patrimônio Ambiental não pode existir fora da preservação social (5). A ideia de monumento e conceito de Patrimônio tout court é uma ideia construída pela Unesco que deve ser superada, e transformada em “herança” daquilo que buscamos transmitir às gerações futuras (6).
A superação do conceito de monumento para edifícios e conjuntos de importância histórica se dá através da Carta de Veneza, de 1964, e é incorporada no Brasil pela criação do Condephaat em 1968. A Declaração de Amsterdã, de 1975, propõe a conservação e reabilitação de núcleos urbanos articulada e integrada ao processo de planejamento urbano. Esses dois documentos tem como projeto ícone a cidade de Bolonha que ainda coloca a participação e a inclusão social no cerne do seu conceito de preservação.
A Carta de Nairobi, de 1976, aponta recomendações para a preservação contemporânea de áreas históricas, apontando a limitação da musealização do patrimônio edificado. “O documento ainda define ambiente como cenário, seja natural ou criado pelo homem, que influencia a maneira pela qual as áreas históricas são percebidas ou são ligadas espacialmente por fatores sociais, econômicos e culturais. As áreas históricas, objeto do documento, devem ser consideradas como uma totalidade coerente, em que o equilíbrio depende da inter-relação dos componentes principais, as atividades humanas, os edifícios, a organização espacial e os arredores” (7).
Dentro desse quadro não se poderia entender a preservação do patrimônio ambiental urbano fora do planejamento das cidades. Não foi o que se observou no Brasil em São Paulo. Nabil Bonduki aponta como um dos problemas do balanço da experiência do BID Monumenta no Brasil a desarticulação dos projetos com a Política Urbana (8).
Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses vai além dessa perspectiva integradora: propõe que o Ministério ou as Secretarias de Cultura deveriam se responsabilizar não só pela administração de instituições de eventos “culturais, mas sobretudo na identificação da dimensão cultural em todas as políticas públicas de um governo” (9).
No caso de São Paulo a ação municipal de preservação teve sua origem em 1974 na Coordenadoria Geral de Planejamento – Cogep, entidade instalada originalmente no gabinete do prefeito, com a lista de bens culturais a serem protegidos solicitados aos professores Benedito Lima de Toledo e Carlos Lemos, posteriormente incorporada ao zoneamento a partir da definição das zonas especiais Z8-200 (10). A criação em São Paulo do Departamento de Patrimônio Histórico – DPH e do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental – Conpresp representou uma fragmentação nesse processo de revisão urbanística que agora começa a ser retomada.
Tentativas de integração ocorreram antes da constituição do conselho quando da instituição do Inventário Geral de Patrimônio Ambiental Urbano – Igepac que buscava incorporação do conceito patrimônio ambiental urbano desenvolvido a partir do curso da FAU das experiências de Bolonha e recomendações das cartas patrimoniais.
Uma avaliação crítica a respeito dos instrumentos de preservação no nível municipal, bem como de uma revisão histórica dessas ações aponta a necessidade de busca de instrumentos financeiros complementares a identificação e tombamento para efetivar a proteção dos bens preservados.
Entendemos que projetos urbanos podem trazer recursos para a preservação do patrimônio ambiental urbano desde que sejam constituídos coletivamente. Para isso elegemos os trabalhos que apontaram caminhos nessa direção.
Grandes projetos urbanos são marca nas cidades contemporâneas e podem considerar ou não preexistências que se fundamentam na história e na memória urbana. Mas, na esteira dos movimentos de retomada do espaço público ao redor do mundo, a transformação urbana pode incorporar as múltiplas formas de apropriação cidadã.
Projetos urbanos podem transformar a cidade contemporânea; a sensibilização e a construção de cidadania situam o patrimônio como base para um projeto de futuro.
Jornada do Patrimônio, um instrumento de sensibilização social
Em dezembro de 2015, a cidade de São Paulo teve sua primeira Jornada do Patrimônio. O evento buscou sensibilizar os cidadãos para sua herança material e imaterial compartilhada, entendida como base para a elaboração de uma identidade comum e parte de um processo de construção coletiva da cidade.
A jornada paulistana se inspirou na jornada francesa, criada em 1984 pelo Ministério da Cultura da França com o nome “Jornada de Portas Abertas dos Monumentos Históricos”. Uma experiência bem sucedida que se espalhou e levou, em 1991, o Conselho da Europa a oficializar as “Jornadas Europeias do Patrimônio”. Hoje, cinquenta países do continente participam desse evento. A partir de 2000, o nome foi adotado também pela jornada francesa, concretizando um único grande evento que ocorre em diversos lugares simultaneamente.
Na França, a estratégia foi adotar um tema geral anual, desenvolvido na capital e nas outras cidades, constituindo-se em um momento privilegiado para a população visitar espaços usualmente fechados ao público e conhecer ações de valorização de edifícios patrimoniais, tanto públicos quanto privados. Dentre os temas definidos destacamos: “Patrimônio e Literatura” (1996), “Patrimônio, Festas e Jogos” (1997), “Patrimônio do Século 20” (2000), “Ofícios do Patrimônio” (2007) e “Patrimônio do Século 21” (2015).
Segundo o Ministério da Cultura francês, o sucesso do evento se deve à grande diversidade do patrimônio proposto aos visitantes: são abertas à visitação obras puras da arquitetura civil ou religiosa, há testemunhos das atividades industriais e agrícolas, parques e jardins, sítios arqueológicos, objetos, patrimônio literário, imaterial, além de oficinas de atividades infantis nos espaços. As crianças aprendem a moldar ornamentos, escrever ou decifrar documentos históricos a partir de visitas aos arquivos gerais, entre outras atividades.
Na versão paulistana, introduzimos uma inovação a partir da experiência, na Secretaria Municipal de Cultura, da Virada Cultural, evento anual que dura um final de semana e tem diversas atividades artísticas gratuitas para a população. Ao trazer apresentações artísticas para a Jornada, foi possível atrair um público mais diverso ao patrimônio, além de celebrar o patrimônio imaterial que se expressa nessas manifestações artísticas locais.
Toda a programação de samba, como a apresentação do Tobias da Velha Guarda da Escola de Samba Vai-Vai na Vila Itororó (construída no começo do século 20, como uma solução de moradia coletiva), destaca a importância e a peculiaridade do samba paulistano, que foi registrado como patrimônio imaterial da cidade em 2013. Entre outras atrações do samba em imóveis patrimoniais, tivemos Samba da Vela, a roda de samba mais antiga ainda em vigor na cidade (na Biblioteca Prestes Maia, de 1965, em frente ao antigo Mercado de Santo Amaro), entre outras atrações desse tipo.
O poeta paulistano Mário de Andrade, um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna e precursor da ideia da cultura popular como patrimônio, também foi homenageado no evento. No hall de Theatro Municipal (inaugurado em 1911) tivemos a apresentação de “Bach a Bachianas”, com Mário de Andrade interpretado pelo ator Pascoal da Conceição acompanhado de Rosana Lancelotti ao piano forte. Em frente ao edifício da prefeitura, Marília Vargas cantou marchinhas imperiais recolhidas por Mário de Andrade.
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Xis, SNJ, Z’África Brasil, Lurdez da Luz, Rashid, Dexter e Thaide em apresentação no Theatro Municipal
Foto divulgação
Dentro da ideia da ampliação e democratização do conceito de patrimônio, a Jornada trouxe apresentações ligadas ao hip hop, movimento que já é reconhecido popularmente como uma manifestação emblemática da cultura paulistana. E como exemplo da programação relativa às religiões de matriz africana, a Casa Sertanista – casa de taipa do século 17 – recebeu a Cia. Treme Terra, que fez uma intervenção de música, dança e performance chamada “Macumba Jam”.
Para valorizar as 22 companhias de teatro que, assim como o samba, foram registradas como patrimônio imaterial paulistano, a Jornada teve a apresentação de 26 peças dessas companhias durante o final de semana em edifícios de valor histórico e patrimonial, como o Teatro Municipal, a Casa do Povo (espaço de sociabilidade fundado por judeus migrantes do Leste Europeu e que serviu como local de resistência à Ditadura), Solar da Marquesa (raro exemplar de residência urbana do século 18) e o Tribunal de Justiça de São Paulo.
Esses são apenas alguns exemplos da programação, que também teve uma parte especial para crianças. Foram mais de noventa espetáculos, peças, oficinas em edifícios ou locais históricos. Alguns desses edifícios abertos ao público pela primeira vez, como a casa de Vilanova Artigas no Campo Belo, da família do arquiteto, e a casa de Nhonhô Magalhães, propriedade do Shopping Pátio Higienópolis, no bairro de mesmo nome.
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Casa do arquiteto, São Paulo, 1949, arquiteto Vilanova Artigas
Foto Nelson Kon
Também valorizaram o patrimônio material e imaterial os cerca de setenta roteiros concentrados no fim de semana da Jornada, grande parte deles atividades que já ocorrem esporadicamente de forma fragmentada, como o roteiro “Território da paisagem e da cultura de Perus”, proposto pelo movimento de preservação do bairro que nasceu com uma indústria de cimento, hoje tombada. Entre os passeios conduzidos especialmente para a Jornada, podemos destacar o “Roteiro de arquitetura moderna” do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB, que ajudou a promover a arquitetura moderna como um dos mais relevantes patrimônios paulistanos, mas pouco reconhecido como tal pela população.
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Edifícios Esther e Arthur Nogueira, São Paulo, 1934/1938. Arquitetos Álvaro Vital Brazil e Adhemar Marinho
Foto Rafael Schimidt [Fotoarquitetura]
Houve ainda mais de cinquenta palestras, que atraíram um público relativamente menor e que deverá ter uma curadoria neste ano. Em 2015, a premissa foi a de abertura de um grande chamamento público para todas as modalidades – imóveis, roteiros, palestras, oficinas e apresentações –, incluindo todos que não fugissem ao tema do patrimônio. Como resultado, mais de quatrocentos eventos ocorreram simultaneamente na cidade em cerca de 140 imóveis e locais históricos. A versão de 2016, com menos recursos para apresentações artísticas, teve igual sucesso. A lei n. 16.546, de 21 de setembro de 2016, definiu em seu artigo primeiro a Jornada do Patrimônio como evento a ocorrer nos terceiros sábado e domingo do mês de agosto de cada ano” (11).
Fábrica de Restauro como inovação de projeto urbano
O conceito de Patrimônio ambiental urbano, as cartas patrimoniais propondo a democratização do Patrimônio histórico, envolvendo as comunidades herdeiras, bem como a efetiva salvaguarda da nova herança cultural prevê a criação de instrumentos inovadores.
A salvaguarda do Patrimônio histórico compõe-se de três partes distintas: a identificação, o tombamento e a efetiva preservação/conservação. No caso de São Paulo observamos historicamente desde a sua criação uma quantidade expressiva de levantamentos e inventários, com eventual tombamento, mas com instrumentos limitados para uma efetiva recuperação. Observamos ainda que, quando há o restauro e recuperação do bem tombado, não há um acompanhamento de conservação, tão pouco do impacto social, econômico e ambiental da ação de conservação.
No caso de São Paulo a primeira ação municipal surgiu em 1974, com a lista de bens culturais 28-200, elaborada pelos professores Carlos Lemos e Benedito Lima de Toledo encomendadas pela Cogep do Município de São Paulo. Com a criação do DPH em 1975 e do Conpresp em 1985, o Município de São Paulo pode tombar de forma desvinculada da legislação de planejamento. A identificação e o tombamento focam as recuperações características da ação patrimonial paulistana. Hoje existem 3559 bens tombados e identificados, mas poucos efetivamente conservados e protegidos.
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Escadaria do Bexiga
Foto Abilio Guerra
O Bairro do Bexiga, tradicionalmente excluído de planos e projetos urbanos, por ser composto por operários, pobres, negros, italianos e anarquistas, teve seu casario, pelas mesmas razões de exclusão, preservado da febre imobiliária de São Paulo no século 20.
A principal intervenção no bairro rasgou seu quadro construído dividindo o bairro em duas partes, separadas por vias expressas durante os anos autoritários de implementação do PD77 eminentemente rodoviarista.
Os planos diretores posteriores de 1991, 2002 e 2014 previam altas densidades e poucos instrumentos efetivos para a conservação do bairro, que ao longo do século 20 foi se deteriorando.
O instrumento da Transferência do Potencial Construtivo – TPC, de 2002, e sua adequação Transferência do Direito de Construção – TDC, de 2014, trouxeram a possibilidade de monitorar os valores transferidos para os bens tombados, porém com pouca atividade no bairro do Bexiga.
Em 1992, o concurso de ideias encabeçado pela Empresa Municipal de Urbanização – Emurb, hoje SP Urbanismo, que pretendia a construção coletiva de um projeto urbano, resultou efetivamente no tombamento do bairro em 2002, a partir do Igepac empreendido pelo DPH.
Com uma perspectiva de adensamento previsto pelo plano Diretor 2014 e pela lei de zoneamento de 2015, e tendo como realidade física um tecido social forte e um quadro construído em processo de deterioração física, foi formulado o instrumento inovador denominado Fábrica de Restauro do Bexiga. A ideia é estabelecer um modelo que possa ser replicado em conjuntos urbanos e também constituir-se experiência piloto para dar origem a uma empresa pública SP Restauro.
A Fábrica de Restauro, experimentalmente formulada para o bairro tombado do Bexiga, constitui-se de uma mobilização social que permita construir coletivamente a recuperação física e social do bairro, sem perspectivas de gentrificação. Será isto possível? Será possível, também, abrigar um bairro tombado em adensamento compatível com o tecido histórico preservado pela exclusão?
Enquanto estivemos à frente do DPH, para iniciar essa mobilização propusemos reuniões com possíveis parceiros. Chamamos os diversos grupos sociais atuantes no Bexiga – Rede Paulista de Educação Patrimonial (Repep), Casa de Dona Yayá (Centro de Preservação Cultural da Universidade de São Paulo – CPC USP), Bexiga Viva e duas associações de proprietários de bens tombados, entidades que muitas vezes atuam de forma conflitante e que não apresentaram representatividade consistente.
Além disso mobilizamos a Associação de Empresas de Restauro – Asseer, consultores envolvidos na TDC e ainda a Agência São Paulo de Desenvolvimento – Adesampa, voltada para o estímulo de micro e pequenas empresas, startups e laboratórios de coworking.
Após reuniões parciais, reunimos todos os parceiros em uma oficina de organização. A partir dos debates e das apresentações de experiência como da Vila Itororó, do processo participativo de restauro, do Escritório Modelo-Mosaico Mackenzie, da ocupação habitacional de interesse social e do Plano Regional da Sé realizado pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento Urbano – SMDU, estabelecemos três grandes grupos de trabalho.
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Vila Itororó
Foto Nelson Kon
O primeiro grupo, denominado “Formação/capacitação do pedreiro ao restaurador”, se desdobrou na perspectiva de desenvolver cursos de manutenção e zeladoria especializados em acompanhamento de bens que quando restaurados demandem um olhar e saberes específicos. Essa iniciativa contou com a participação da Asseer em conjunto com a Adesampa.
O debate do projeto vinculado ao patrimônio histórico foi liderado pelo grupo de pesquisa do professor Julio Katinsky, que desde 2016 passou a organizar seminários sistemáticos na FAU USP e que neste ano de 2017 passaram a ser documentados para constituir uma produção acumulada de conhecimento.
Voltado para a obtenção de recursos, o grupo 2 de se dividiu em dois subgrupos: o denominado TDC coletivo, onde foram calculados transferências previstas para conjunto de propriedades e proprietários no sentido de se potencializar possíveis recursos advindos do instrumento previsto no PDE 2014; o segundo, sem nome específico e sem grande adesão, preocupou-se com outras formas de obtenção de recursos, como lei Rouanet, lei Mendonça etc.
O grupo 3, denominado Participação/Coletivismo, previa a articulação de grupos sociais e proprietários bem como a Asseer para formular projetos coletivos de restauro e participação da comunidade na recuperação de bens culturais tombados ou não.
As atividades foram paralisadas na mudança de gestão, mas também começou uma mobilização piloto na Vila Maria Zélia, cujo grupo de moradores presente nas oficinas demandava continuidade ao processo já em andamento de recaracterização participativa liderado pelo DPH através da professora Simone Scifoni em parceria pelo Condephaat e grupos de moradores. Esperamos a retomada dessa mobilização com o apoio do Instituto de Arquitetos do Brasil – IAB-SP.
Considerações finais
Ações de sensibilização como a Jornada do Patrimônio, com seus roteiros ancorados no território, a celebração dos patrimônios imateriais, a visitação a edifícios, a vivência do centro e da memória que ele guarda de uma vida de fato urbana, fazem parte desse processo de projetação e despertar da consciência para além do véu do espetáculo, por meio do qual a mercadoria passa a ocupar a vida social de forma total (12).
A aposta é que a sensibilização para o patrimônio e a participação no espaço público, mediada pela construção coletiva de projetos urbanos, possam romper com essa falta de lógica e com o desconhecimento do desejo.Nesse sentido a experiência iniciante da Fábrica de Restauro é uma aposta na construção de ações coletivas que em conjunto promovam projetos urbanos com inclusão social (13).
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notas
NA – Texto apresentado na Sessão temática
“Patrimônio ambiental urbano” do IV Enanparq – Encontro da Associação
Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Porto
Alegre, 25 a 29 de julho de 2016.
1
ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona, Gustavo Gili, 2001.
ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. Cidades para um pequeno planeta. Barcelona, Gustavo Gili, 2001.
2
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Patrimônio ambiental urbano: do lugar comum ao lugar de todos. CJ Arquitetura, São Paulo, v. 5, 1978, p. 18-20.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Patrimônio ambiental urbano: do lugar comum ao lugar de todos. CJ Arquitetura, São Paulo, v. 5, 1978, p. 18-20.
3
Idem, ibidem.
Idem, ibidem.
4
YÁZIGI, Eduardo. Patrimônio ambiental urbano: refazendo um conceito para o planejamento urbano. Simpósio de Geografia Urbana da Universidade de São Paulo, 2001.
YÁZIGI, Eduardo. Patrimônio ambiental urbano: refazendo um conceito para o planejamento urbano. Simpósio de Geografia Urbana da Universidade de São Paulo, 2001.
5
Cf. MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Op. cit.
Cf. MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. Op. cit.
6
BIASE, Alessia de. Hériter de la Ville: Pour une Anthropologie de la Transformation Urbaine. Paris, Donner Lieu, 2014.
BIASE, Alessia de. Hériter de la Ville: Pour une Anthropologie de la Transformation Urbaine. Paris, Donner Lieu, 2014.
7
LUSTOZA, Regina E. Patrimônio ambiental urbano: revendo conceitos. 9º Seminário Docomomo Brasil – interdisciplinaridade, experiências em documentação e preservação do patrimônio recente. Brasília, Docomomo, 2011.
LUSTOZA, Regina E. Patrimônio ambiental urbano: revendo conceitos. 9º Seminário Docomomo Brasil – interdisciplinaridade, experiências em documentação e preservação do patrimônio recente. Brasília, Docomomo, 2011.
8
BONDUKI, Nabil. Intervenções urbanas na recuperação de centros históricos. Brasília, Iphan, 2012.
BONDUKI, Nabil. Intervenções urbanas na recuperação de centros históricos. Brasília, Iphan, 2012.
9
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A cidade com bem cultural – áreas envoltórias e outros dilemas, equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental urbano. In MORI, Victor Hugo; SOUZA, Marise Campos de; BASTOS, Rossano Lopes; GALLO, Haroldo (Orgs.). Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo, Iphan, 2006, p. 33-76.
MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de. A cidade com bem cultural – áreas envoltórias e outros dilemas, equívocos e alcance na preservação do patrimônio ambiental urbano. In MORI, Victor Hugo; SOUZA, Marise Campos de; BASTOS, Rossano Lopes; GALLO, Haroldo (Orgs.). Patrimônio: atualizando o debate. São Paulo, Iphan, 2006, p. 33-76.
10
SOMEKH, Nadia. Patrimônio cultural em São Paulo: resgate do contemporâneo? Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 185.08, Vitruvius, out. 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.185/5795>. Da mesma autora, ver: SOMEKH, Nadia (Org.). Preservando o patrimônio histórico: um manual para gestores municipais. São Paulo, CAU-SP/MackPesquisa/DPH, 2015; SOMEKH, Nadia; CORREA, Vanessa. Transformação urbana e patrimônio cultural: sensibilização e projeto de futuro em São Paulo. Diálogos França/Brasil IV, Salvador, 2016; SOMEKH, Nadia. Patrimônio ambiental urbano, urbanidade e construção de cidade. IV Enanparq, Porto Alegre, 2016.
SOMEKH, Nadia. Patrimônio cultural em São Paulo: resgate do contemporâneo? Arquitextos, São Paulo, ano 16, n. 185.08, Vitruvius, out. 2015 <www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/16.185/5795>. Da mesma autora, ver: SOMEKH, Nadia (Org.). Preservando o patrimônio histórico: um manual para gestores municipais. São Paulo, CAU-SP/MackPesquisa/DPH, 2015; SOMEKH, Nadia; CORREA, Vanessa. Transformação urbana e patrimônio cultural: sensibilização e projeto de futuro em São Paulo. Diálogos França/Brasil IV, Salvador, 2016; SOMEKH, Nadia. Patrimônio ambiental urbano, urbanidade e construção de cidade. IV Enanparq, Porto Alegre, 2016.
11
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Lei nº 16.546, 21 set. 2016 <http://documentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/leis/L16546.pdf>.
CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Lei nº 16.546, 21 set. 2016 <http://documentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/leis/L16546.pdf>.
12
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro, Contraponto, 2015.
DEBORD, Guy. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro, Contraponto, 2015.
13. O presente artigo conta ainda com a seguinte bibliografia de apoio: ARENDT, Hannah. A condição humana. 11a edição revisada. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 2010; ARGAN, Giulio Carlo. Projeto e destino. São Paulo, Ática, 2001; BAUMAN, Zygmunt. A cultura no mundo líquido moderno. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2013; BAUMAN, Zygmunt. Confiança e medo na cidade. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2005; LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo, Centauro, 2001; MOSTAFAVI, Mohsen; DOHERTY, Gareth. Porque um urbanismo ecológico? Porque agora? Urbanismo Ecológico. Barcelona, Harvard University Graduate School of Design/Gustavo Gili, 2014; SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo, Nobel, 1988.
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fonte: @edisonmariotti #edisonmariotti
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Culture is not what enters the eyes and ears,
but what modifies the way of looking and hearing
Cultura não é o que entra pelos olhos e ouvidos,
mas o que modifica o jeito de olhar e ouvir.
--in via tradutor do google
City, patrimony, inheritance and inclusion. In search of new instruments.
About the author ...
Nadia Somekh is an emeritus professor at Mackenzie Presbyterian University, was President of Conpresp and director of DPH (2013-2016).
1
Metropolis Gallery, 1959/1960. Architects Gian Carlo Gasperini and Salvador Candia
Photo Rafael Schimidt [Photoarchitecture]
Contemporary cities are undergoing transformations that can be highlighted, pointing to the need to increase the importance of protecting cultural heritage, as well as public spaces, guaranteeing identity and urban democracy. Brazilian cities have been produced in an urban model without urbanity. The binomial demolition / construction resulted in a verticalization that destroyed the patrimony of the city. The recent transformations of industry and the productive restructuring brought to our cities the coexistence of old and new problems. This restructuring left areas well-equipped, empty, expanding the process of expansion and consequent dilapidation of natural resources. On the other hand social inequalities persist mainly in the housing issue
About the author ...
Nadia Somekh is an emeritus professor at Mackenzie Presbyterian University, was President of Conpresp and director of DPH (2013-2016).
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Metropolis Gallery, 1959/1960. Architects Gian Carlo Gasperini and Salvador Candia
Photo Rafael Schimidt [Photoarchitecture]
Contemporary cities are undergoing transformations that can be highlighted, pointing to the need to increase the importance of protecting cultural heritage, as well as public spaces, guaranteeing identity and urban democracy. Brazilian cities have been produced in an urban model without urbanity. The binomial demolition / construction resulted in a verticalization that destroyed the patrimony of the city. The recent transformations of industry and the productive restructuring brought to our cities the coexistence of old and new problems. This restructuring left areas well-equipped, empty, expanding the process of expansion and consequent dilapidation of natural resources. On the other hand social inequalities persist mainly in the housing issue
In this sense, we understand that city construction means tackling old and new problems: expanding the housing supply of various income streams, reducing gentrification, (re) establishing a mobility that serves to reduce global warming and produce quality public spaces with preservation of historical patrimony, reinforcing identity nuclei and globalized citizens.
In summary, we can point to the so-called globalization and / or productive restructuring, which empties industrial spaces, ports, railways and historic centers, to new technologies connecting the world, the divorce of politics and power and the dissolution of ties. The obsolescence produced by capitalism has made it necessary to regenerate well-located urban fabrics, often spontaneously, that is, the mediation of a project.
We also understand that the protection of heritage must be treated within the urban question. In the 1970s, historical heritage was treated by the planning body and, throughout its activities, it has been fragmented and disarticulated from the urban question. Within this framework, how then to formulate a policy of preservation of cultural heritage taking into account sustainable development? How to build city from the equity?
These functional transformations demand new forms of protection of the cultural and historical patrimony. How is the urban space materialized and how is it appropriate? How to check quality and inclusion?
The compact city concept is defended by Richard Rogers (1) and was established in the Strategic Master Plan - PDE of São Paulo. It consists in making inhabitants and concentrating population optimizing the investments made and reducing the city's advance over areas with natural resources to be preserved. The limit of the compact city is urbanity, here understood as the possibility of good coexistence through democratic public spaces and pre-existences guiding memory and identity.
The compact city requires a compatible and inclusive transportation system. The car and the bus are elements that do not contribute to the constitution of a compact city. The compact city can reduce the squandering of natural resources and promote the reduction of car use.
What we will discuss in this work is the use of the concept of urban environmental patrimony as an element of the construction of a democratic, participatory city with urbanity. In order to do so, we point out some innovative instruments such as the Patrimony Journey and the Restoration Plant as possibilities for the democratization of the urban heritage.
We work in three parts: a first discusses the concept of urban environmental patrimony, as a theoretical clipping for the discussion of urban projects with social inclusion. The second points to the Patrimony Day as an instrument of social awareness; and the third, the Restoration Plant, mobilization for the construction of participatory transformation / protection actions.
Concept of urban environmental patrimony
My first encounter with the concept came from a course at FAU USP in 1978 with the same name. For Ulpiano Bezerra de Meneses, "Urban environmental patrimony is a system of objects, socially appropriate, perceived as capable of feeding representations of an urban environment" (2). Its selection is determined by its load of meaning endowed with legitimating, integrating and therefore transforming potential. It is necessary to broaden social significance.
The future project of a city must incorporate "the code of interaction that effectively organizes the social relations of those objects that provide ingredients for the images of the city" (3).
According to Eduardo Yázigi (4), urban environmental patrimony consists of urbanistic architectural ensembles and other urban elements, and social inclusion is a growing requirement. For the author the concept is in constant transformation and "must be configured as the being and the future". It retakes the assertion of Pier Luigi Cervelati: the preservation of the Environmental Patrimony can not exist outside the social preservation (5). The idea of monument and concept of Heritage tout court is an idea built by Unesco that must be surpassed, and transformed into "inheritance" of what we seek to transmit to future generations (6).
Overcoming the concept of a monument for buildings and buildings of historical importance is through the 1964 Venice Charter and incorporated in Brazil by the creation of Condephaat in 1968. The Amsterdam Declaration of 1975 proposes the conservation and rehabilitation of urban nuclei articulated and integrated to the process of urban planning. These two documents have as icon project the city of Bologna that still places participation and social inclusion at the heart of its concept of preservation.
The Nairobi Charter of 1976 outlines recommendations for the contemporary preservation of historic areas, pointing to the limitation of the museum's ownership of the built heritage. "The document further defines environment as a setting, whether natural or man-made, that influences the way in which historical areas are perceived or spatially linked by social, economic, and cultural factors. The historical areas, object of the document, should be considered as a coherent totality, in which the balance depends on the interrelationship of the main components, human activities, buildings, spatial organization and the surroundings "(7).
Within this framework could not be understood the preservation of the urban environmental patrimony outside the planning of the cities. This was not the case in Brazil in São Paulo. Nabil Bonduki points out one of the problems of the balance of the IDB's experience in Brazil is the disarticulation of projects with the Urban Policy (8).
Ulpiano Toledo Bezerra de Meneses goes beyond this integrative perspective: he proposes that the Ministry or the Secretariats of Culture should be responsible not only for the administration of institutions of "cultural events, but above all in the identification of the cultural dimension in all the public policies of a government" (9).
In the case of São Paulo, the municipal preservation action had its origin in 1974 in the General Coordination of Planning - Cogep, an entity originally installed in the mayor's office, with the list of cultural objects to be protected requested by Professors Benedito Lima de Toledo and Carlos Lemos , later incorporated into the zoning from the definition of special zones Z8-200 (10). The creation in São Paulo of the Department of Historic Heritage - DPH and the Municipal Council for the Preservation of Historic, Cultural and Environmental Heritage - Conpresp represented a fragmentation in this urban review process that is now beginning to be resumed.
Attempts at integration occurred prior to the constitution of the council at the time of the establishment of the General Inventory of Urban Environmental Heritage - Igepac, which sought to incorporate the concept of urban environmental patrimony developed from the FAU course of the Bologna experiments and recommendations from the patrimonial charts.
A critical evaluation of the preservation instruments at the municipal level, as well as a historical review of these actions, points out the need to search for complementary financial instruments to identify and record to protect the preserved assets.
We understand that urban projects can bring resources for the preservation of urban environmental patrimony as long as they are collectively constituted. For this we choose the works that pointed ways in this direction.
Large urban projects are a mark in contemporary cities and may or may not consider preexistences based on history and urban memory. But in the wake of the movements of public space around the world, urban transformation can incorporate the multiple forms of citizen appropriation.
Urban projects can transform the contemporary city; raising awareness and building citizenship places the heritage as the basis for a future project.
Heritage Day, an instrument of social awareness
In December of 2015, the city of São Paulo had its first Heritage Journey. The event sought to sensitize citizens to their shared material and immaterial heritage, understood as the basis for the elaboration of a common identity and part of a process of collective construction of the city.
The journey was inspired by the French journey, created in 1984 by the Ministry of Culture of France with the name "Open Doors of Historical Monuments". A successful experience that spread and led in 1991, the Council of Europe to formalize the "European Heritage Days". Today, fifty countries of the continent participate in this event. From 2000, the name was adopted also by the French journey, concretizando a single great event that occurs in several places simultaneously.
In France, the strategy was to adopt an annual general theme, developed in the capital and in other cities, constituting a privileged moment for the population to visit spaces usually closed to the public and to know actions of valorization of heritage buildings, both public and private. Among the themes defined are: "Patrimony and Literature" (1996), "Patrimony, Festivals and Games" (1997), "Patrimony of the 20th Century" (2000), "Heritage Offices" "(2015).
According to the French Ministry of Culture, the success of the event is due to the great diversity of patrimony proposed to visitors: pure works of civil or religious architecture are open to visitation, there are testimonies of industrial and agricultural activities, parks and gardens, archaeological sites, objects , literary, immaterial heritage, as well as workshops for children's activities in the spaces. Children learn to shape ornaments, write or decipher historical documents from visits to general archives, among other activities.
In the São Paulo version, we introduced an innovation from the experience at the Cultural Secretariat of Virada Cultural, an annual event that lasts a weekend and has several artistic activities free of charge for the population. By bringing artistic presentations to the Journey, it was possible to attract a more diverse audience to the patrimony, besides celebrating the immaterial patrimony that is expressed in these local artistic manifestations.
All the samba programming, such as the presentation of Tobias da Velha Guarda from the Vai-Vai Samba School in Vila Itororó (built at the beginning of the 20th century as a collective housing solution), highlights the importance and the peculiarity of the São Paulo samba, which was registered as intangible heritage of the city in 2013. Among other samba attractions in heritage properties, we had Samba da Vela, the oldest samba wheel still in force in the city (in the Prestes Maia Library, 1965, in front of the old Market of Santo Amaro), among other attractions of this type.
The São Paulo poet Mário de Andrade, one of the creators of Modern Art Week and a forerunner of the idea of popular culture as patrimony, was also honored at the event. In the Hall of Municipal Theater (inaugurated in 1911) we had the presentation of "Bach to Bachianas", with Mário de Andrade interpreted by the actor Pascoal da Conceição accompanied by Rosana Lancelotti to the strong piano. In front of the city hall building, Marília Vargas sang imperial marches collected by Mário de Andrade.
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Xis, SNJ, Z'Africa Brazil, Lurdez da Luz, Rashid, Dexter and Thaide in a presentation at the Municipal Theater
Photo disclosure
Within the idea of the expansion and democratization of the concept of heritage, Jornada brought presentations related to hip hop, a movement that is already popularly recognized as an emblematic manifestation of the culture of São Paulo. And as an example of the programming related to African religions, Casa Sertanista - a 17th-century mud house - hosted Cia. Treme Terra, who performed a song, dance and performance intervention called "Macumba Jam".
In order to value the 22 theater companies that, like samba, were registered as an immaterial patrimony in São Paulo, Jornada had the presentation of 26 pieces of these companies over the weekend in buildings of historical and heritage value, such as the Teatro Municipal, House of the People (a space of sociability founded by immigrant Jews from Eastern Europe and served as a place of resistance to the dictatorship), Solar da Marquesa (rare example of 18th century urban residence) and the Court of Justice of São Paulo.
These are just a few examples of programming, which also had a special part for children. There were more than ninety shows, plays, workshops on buildings or historical sites. Some of these buildings were opened to the public for the first time, such as the house of Vilanova Artigas in Campo Belo, the architect's family, and the house of Nhonhô Magalhães, owned by the Pátio Higienópolis Shopping Mall, in the neighborhood of the same name.
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House of the architect, São Paulo, 1949, architect Vilanova Artigas
Photo Nelson Kon
Some of the seventy scripts focused on the weekend of the Journey, most of them activities that already occur sporadically in a fragmented way, such as the itinerary "Territory of the landscape and the culture of Turkeys", proposed by the movement of preservation of the neighborhood that was born with a cement industry, today tumbled. Among the tours conducted especially for the Journey, we can highlight the "Roadmap of modern architecture" of the Institute of Architects of Brazil (IAB), which helped promote modern architecture as one of the most important patrimony of São Paulo, but little recognized as such by the population.
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Buildings Esther and Arthur Nogueira, São Paulo, 1934/1938. Architects Álvaro Vital Brazil and Adhemar Marinho
Photo Rafael Schimidt [Photoarchitecture]
There were even more than fifty lectures, which attracted a relatively smaller audience and should be curated this year. In 2015, the premise was to open a great public call for all modalities - real estate, scripts, lectures, workshops and presentations - including everyone who did not escape the theme of heritage. As a result, more than four hundred events occurred simultaneously in the city in about 140 properties and historic sites. The 2016 version, with fewer features for artistic presentations, was equally successful. Law no. 16,546, dated September 21, 2016, defined in its first article the Heritage Day as an event to occur on the third Saturday and Sunday of the month of August of each year "(11).
Restoration Factory as an urban design innovation
The concept of urban environmental patrimony, patrimonial charters proposing the democratization of historical patrimony involving the heiress communities, as well as the effective safeguarding of the new cultural heritage foresees the creation of innovative instruments.
The preservation of the Historical Patrimony is made up of three distinct parts: the identification, the tipping and the effective preservation / conservation. In the case of São Paulo we have historically observed an expressive amount of surveys and inventories, with eventual registration, but with limited instruments for an effective recovery. We also observe that, when there is the restoration and recovery of the well, there is no conservation monitoring, so little of the social, economic and environmental impact of the conservation action.
In the case of São Paulo, the first municipal action arose in 1974, with the list of cultural assets 28-200, elaborated by professors Carlos Lemos and Benedito Lima de Toledo commissioned by Cogep of the Municipality of São Paulo. With the creation of DPH in 1975 and Conpresp in 1985, the Municipality of São Paulo may fall in a way that is unrelated to planning legislation. The identification and tipping refer to the characteristic recoveries of the patrimonial action of São Paulo. Today there are 3559 items listed and identified, but few are effectively preserved and protected.
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Staircase of the Bladder
Photo Abilio Guerra
The neighborhood of Bexiga, traditionally excluded from urban plans and projects, because it was composed of workers, poor, blacks, Italians and anarchists, had its houses, for the same reasons of exclusion, preserved from the estate fever of São Paulo in the 20th century.
The main intervention in the neighborhood tore its built structure dividing the neighborhood into two parts, separated by expressways during the authoritarian years of implementation of the PD77 eminently rodoviarista.
The subsequent master plans of 1991, 2002 and 2014 predicted high densities and few effective instruments for the conservation of the neighborhood, which throughout the 20th century deteriorated.
The Construction Transfer Transfer (TPC) instrument of 2002, and its appropriateness Transfer of Construction Right (TDC), of 2014, brought the possibility of monitoring the values transferred to the assets, but with little activity in the Bexiga neighborhood.
In 1992, the ideas contest led by the Municipal Urbanization Company - Emurb, now SP Urbanism, which sought the collective construction of an urban project, effectively resulted in the overturning of the neighborhood in 2002, from the Igepac undertaken by DPH.
With a perspective of densification envisaged by the 2014 Master Plan and the zoning law of 2015, and having as physical reality a strong social fabric and a framework built in a process of physical deterioration, the innovative instrument called the Bexiga Restoration Factory was formulated. The idea is to establish a model that can be replicated in urban groups and also to be a pilot experience to give rise to a public company SP Restoration.
The Restoration Factory, experimentally formulated for the neighborhood located in the Bexiga, is a social mobilization that allows collectively to build the physical and social recovery of the neighborhood, without prospects of gentrification. Is this possible? Is it possible, too, to house a densely populated neighborhood compatible with the historical fabric preserved by exclusion?
While we were at the helm of DPH, to initiate this mobilization we proposed meetings with potential partners. We call the various social groups that are active in Bexiga - Rede São Paulo de Patrimonio Patrimonial (Repep), Casa de Dona Yayá (Cultural Preservation Center of the University of São Paulo - CPC USP), Bexiga Viva and two associations of owners of listed assets. they often act in a conflicting way and do not have a consistent representation.
In addition we mobilized the Association of Restoration Companies - Asseer, consultants involved in the TDC and also the São Paulo Development Agency - Adesampa, aimed at stimulating micro and small companies, startups and coworking laboratories.
After partial meetings, we gathered all the partners in an organization workshop. From the debates and presentations of experience such as Vila Itororó, the participatory restoration process, the Mackenzie Model-Mosaic Office, the housing occupation of social interest and the Sé Regional Plan carried out by the Municipal Secretariat of Urban Development - SMDU, we established three large working groups.
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Vila Itororó
Photo Nelson Kon
The first group, called "Training / training of the mason to the restorer", unfolded with the perspective of developing maintenance and janitorial courses specialized in accompaniment of goods that when restored demand a specific look and knowledge. This initiative was attended by Asseer in conjunction with Adesampa.
The debate on the project linked to historical heritage was led by the research group of Professor Julio Katinsky, who since 2016 started to organize systematic seminars at FAU USP and in this year of 2017 began to be documented to constitute a cumulative production of knowledge.
In order to obtain resources, group 2 was divided into two subgroups: the so-called collective TDC, where predicted transfers to the set of properties and owners were calculated in order to potentiate potential resources arising from the PDE 2014 instrument; the second, without specific name and without great adhesion, was concerned with other ways of obtaining resources, such as Rouanet law, Mendonça law etc.
Group 3, called Participation / Collectivism, provided for the articulation of social groups and landowners as well as Asseer to formulate collective projects for restoration and community participation in the recovery of cultural assets that have fallen or not.
The activities were paralyzed in the change of management, but also a pilot mobilization began at Vila Maria Zélia, whose group of residents present at the workshops demanded continuity to the ongoing process of participative recharacterization led by DPH through the teacher Simone Scifoni in partnership by Condephaat and groups of residents. We expect the resumption of this mobilization with the support of the Institute of Architects of Brazil - IAB-SP.
Final considerations
Awareness actions such as the Patrimony Day, with its itineraries anchored in the territory, the celebration of intangible heritage, t
he visitation of buildings, the experience of the center and the memory that it keeps from an urban life, are part of this process of projection and awakening of the consciousness beyond the veil of the spectacle, whereby the commodity begins to occupy social life in a total way (12).
The bet is that awareness of the heritage and participation in public space, mediated by the collective construction of urban projects, can break with this lack of logic and the lack of knowledge of the desire. In this sense, the experience of the Restoration Factory is a in the construction of collective actions that jointly promote urban projects with social inclusion (13).
The bet is that awareness of the heritage and participation in public space, mediated by the collective construction of urban projects, can break with this lack of logic and the lack of knowledge of the desire. In this sense, the experience of the Restoration Factory is a in the construction of collective actions that jointly promote urban projects with social inclusion (13).
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