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sábado, 9 de abril de 2022

Kolimá's Notebooks: Varlam Shalamov's poetry. #edisonmariotti Os Cadernos de Kolimá: a poesia de Varlam Shalamov.

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Kolimá's Notebooks: Varlam Shalamov's poetry.

In Brazil, except for small mentions made in articles translated from international agencies, the first major reference in the national press was the writer's obituary. The text, read with the distance of four decades of its writing, is configured as a portrait of the ideological battle that unfolded in the years of the Cold War. The author of the article was Nicolas Milititch who in 1981, therefore the year before Chalamov's death, had been expelled from Russia. A documentary filmmaker and correspondent for Agence France Press, Milititch was deported because of his connections with dissidents in the regime or, to believe the official justifications, for working for non-Soviet organizations.

The article in which Chalamov's death was reported was published on March 11, 1982, in the Diário de Pernambuco, therefore, two months after the writer's death.

Before being a “dissident”, something that Chalamov never claimed to be, the author considered himself a “writer” and a “Soviet citizen”. In addition to editions of his stories being released without any authorization from Chalamov, sometimes even with the wrong spelling of the author's name, the writer never received a single penny for the sale of copies of his work abroad.

It is worth remembering that in 1962 Chalamov was invited to read his poems on a television program, “Novyye knigi”. Something inconceivable for someone who was actually proscribed by the regime, which finally officially accepted him, when he signed his admission as a member of the Writers' Union in 1972. Another remarkable fact, evidently not alluded to in the obituary, was that "Stalinik", one of the short stories that make up the volume of Tales of Kolimá, was published in the middle of the Soviet press, in 1965, in number 3 of the magazine Sel'skaya molodezh'.

However, the most incorrect of all that Nicolas Milititch wrote, certainly, was the statement that there was a “ban” on publishing Chalamov's works in the Soviet Union. When Chalamov was alive, five books were published, all of poetry: Ognivo (1961), Shelest list’yev (1964), Doroga i sud’ba (1967), Moskovskiye oblaka (1973) and Tochka kipeniya (1977). There was no ban, it is a fact, but there was censorship. To the point where the poet himself, ironically, calls his books “invalid”.

It was only in 1993, when there was no longer the Soviet Union or the Cold War, that the Brazilian public was able to learn about Varlam Chalamov's work in a more balanced and comprehensive way. And this was thanks to the greatest promoter of Russian literature in Brazil and patriarch of translation studies, the writer Boris Schnaiderman. In the article “Between fiction and history” a biographical profile of Chalamov is outlined in a few lines. “Born in 1907, he was first arrested in 1929, then spent three years in labor camps. After his release, he devoted himself entirely to literature, in prose and verse, being arrested again in 1937, which resulted in more than 17 years between forced labor and exile in Siberia.

Aleksandr Solzhenitsyn proposed to Chalamov that he participate in the writing of the book Gulag Archipelago, which he refused. “I want to be assured of who I am writing for,” said the author of Chalamov. The question was intended to make it clear which audience the project was aimed at: the West or the Soviet audience. Chalamov did not want to be used as a tool for political purposes, according to his biographer Valeri Iessipov.

Part of the reflections on Chalamov written in Jornal do Brasil by Boris Schnaiderman were later incorporated into the book Os stubros e o mito, a small encyclopedia of 20th century Russian culture, released in 1997. It can be said that it was a kind of presentation of Chalamov to the Brazilian reading public, mainly because Schnaiderman translated excerpts from the writer's diary, which gave an idea of ​​the creative force.

Regarding Varlam Chalamov's poetry, very little has been translated into Portuguese. In the electronic magazine “mode to use & co. poetry magazine and other conscious textualities”, Ricardo Domeneck publishes the translation of two texts by the author. Another poem by Chalamov, “Lilac Polar Darkness”, received six different translations. An article about the process was published in Cadernos de Literatura em Tradução, at UFRGS. The task was carried out by Denise Sales, who had already translated Chalamov's prose. The project also includes Leonardo Antunes, Thiago Koslowsky da Rosa, Bruno Palavro, Douglas Rosa and Daniel Saeger.



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Os Cadernos de Kolimá: a poesia de Varlam Shalamov.


No Brasil, salvo pequenas menções feitas por meio de artigos traduzidos de agências internacionais, a primeira grande referência na imprensa nacional foi o obituário do escritor. O texto, lido com a distância de quatro décadas de sua escrita, se configura como um retrato da batalha ideológica que se descortinou nos anos da Guerra Fria. O autor do artigo foi Nicolas Milititch que em 1981, portanto no ano anterior à morte de Chalamov, havia sido expulso da Rússia. Documentarista e correspondente da agência France Press, Milititch  foi deportado por conta de suas ligações com os dissidentes do regime ou, a crer nas justificativas oficiais, por trabalhar para organizações não-soviéticas.

A matéria no qual se relatava a morte de Chalamov foi publicada em 11 de março de 1982, no Diário de Pernambuco,  portanto, dois meses após a morte do escritor. 

Antes de ser um “dissidente”, algo que Chalamov nunca declarou ser, o autor se considerava um “escritor” e “cidadão soviético”. Além das edições de seus contos saírem sem qualquer autorização de Chalamov, às vezes até com a grafia errada do nome do autor,  o escritor jamais recebeu um único centavo pela venda dos exemplares de sua obra no exterior. 

Não custa nada lembrar que em 1962 Chalamov foi convidado para ler seus poemas em um programa de televisão,   “Novyye knigi”. Algo inconcebível para alguém que fosse, realmente, proscrito pelo regime que, por fim, o aceitou oficialmente, ao chancelar sua admissão como membro da União dos Escritores em 1972. Outro fato notável, evidentemente não aludido no necrológio, foi que “Stalinik”,  um dos contos que integram o volume dos Contos de Kolimá,  chegou a ser publicado em plena imprensa soviética, em 1965, no número 3 da revista  Sel’skaya molodezh’.

Todavia,  o mais incorreto de tudo o que Nicolas Milititch escreveu, certamente, foi a afirmação de que havia uma “proibição” para se publicar as obras de Chalamov na União Soviética. Quando Chalamov estava vivo chegaram a ser lançados cinco livros, todos de poesia: Ognivo (1961), Shelest list’yev (1964), Doroga i sud’ba (1967), Moskovskiye oblaka (1973) e Tochka kipeniya (1977). Não houve proibição, é fato,  mas houve censura. Ao ponto do próprio poeta, ironicamente, chamar seus livros de “inválidos”.

Só em 1993, quando não havia mais União Soviética e nem Guerra Fria, o público brasileiro pôde tomar conhecimento da obra de Varlam Chalamov de forma mais equilibrada e ampla. E isso se deu graças ao maior divulgador da literatura russa no Brasil e patriarca dos estudos de tradução, o escritor Boris Schnaiderman.  No artigo “Entre ficção e a história” é traçado, em poucas linhas, um perfil biográfico de Chalamov.  “Nascido em 1907, este foi preso pela primeira vez em 1929, passando então três anos em campos de trabalho. Depois de solto, dedicou-se inteiramente à literatura, em prosa e verso, sendo novamente preso em 1937, o que resultou em mais de 17 anos entre trabalhos forçados e degredo na Sibéria. 

Aleksandr Soljenítsin propôs a Chalamov que participasse da escrita do livro Arquipélago Gulag, o que foi recusado. “Eu quero ter a garantia de para quem eu estou escrevendo”, disse o autor de Chalamov. A pergunta se destinava a deixar claro para qual público o projeto se orientava: se ao Ocidente ou ao público soviético. Chalamov não queria ser usado como instrumento para objetivos políticos, conforme opina o seu biógrafo, Valeri Iessipov.

Parte das reflexões sobre Chalamov escritas no Jornal do Brasil por Boris Schnaiderman foram, posteriormente, incorporadas ao livro Os escombros e o mito, uma pequena enciclopédia da cultura russa do século XX, lançado em 1997. Pode-se dizer que foi uma espécie de apresentação de Chalamov ao público leitor brasileiro, sobretudo porque Schnaiderman traduziu trechos do diário do escritor, que davam uma ideia da força criativa. 

Com relação à poesia de Varlam Chalamov, muito pouco foi traduzido para o português. Na revista eletrônica “modo de usar & co. revista de poesia e outras textualidades conscientes”, Ricardo Domeneck publica a tradução de dois textos do autor. Outro poema de Chalamov, “Lilás polar escuridão”, recebeu seis traduções diferentes. Um artigo sobre o processo foi publicado nos  Cadernos de Literatura em Tradução, da UFRGS. A tarefa foi levada adiante por Denise Sales, que já havia traduzido a prosa de Chalamov. Integram o projeto ainda Leonardo Antunes, Thiago Koslowsky da Rosa, Bruno Palavro, Douglas Rosa e Daniel Saeger.


Três poemas de Varlam Chalamov, do livro Cadernos de Kolimá, na tradução de Astier Basílio.

..

Irão me fuzilar bem na fronteira…

..

Irão me fuzilar bem na fronteira,

Bem na fronteira da consciência minha

Meu sangue jorrará folhas inteiras,

Algo que meus amigos angustia

..

Quando uma estrada não dá mais pra achar

No meio das  montanhas que se espinham

Amigos se despedem por demais,

Vão proferindo uma sentença mínima
..

Quando há incerteza e ânsia e não há ânimo

Eu para a zona de terror irei,

Obedientes eles vão mirando

Enquanto eu fico sob a visão deles.
..

Entretanto há guaritas de observação

Que estão a serviço de seus próprios sonhos

Eles vão através de seculares

Frivolidades, acidentes, dores,
..

Quando eu penetro numa zona assim,

Já nem é minha mais:  país estranho,

Eles se portam pelas leis dali,

As leis que existem neste nosso lado.
..

Para que se encurtasse esta aflição,

Para morrer, que é por demais possível,

Fui dado pelas minhas próprias mãos

Como nas mãos do atirador de elite.
..

..

Меня застрелят на границе,

Границе совести моей,

И кровь моя зальет страницы,

Что так тревожили друзей.

..

Когда теряется дорога

Среди щетинящихся гор,

Друзья прощают слишком много,

Выносят мягкий приговор.

..

Но есть посты сторожевые

На службе собственной мечты,

Они следят сквозь вековые

Ущербы, боли и тщеты.

..

Когда в смятенье малодушном

Я к страшной зоне подойду,

Они прицелятся послушно,

Пока у них я на виду.

..

Когда войду в такую зону

Уж не моей — чужой страны,

Они поступят по закону,

Закону нашей стороны.

..

И чтоб короче были муки,

Чтоб умереть наверняка,

Я отдан в собственные руки,

Как в руки лучшего стрелка.

.…….…….
..
Subitamente, congelou-se  a mão… 

..

Subitamente, congelou-se  a mão

Do rosto o sangue some num momento,

A amargura mortal está jorrando

Com a angústia pesada por inteiro.

..

Vou parar de falar. Eu juro e assim

Sem som sigo mexendo os lábios meus,

Por qual razão foi que voltei ainda aqui

Eu voltei ainda aqui foi por vocês

..

..

Похолодеет вдруг рука,

И кровь с лица мгновенно схлынет,

И смертная дохнет тоска

Тяжелой горечью полыни.

..

Я умолкаю. Я клянусь,

Беззвучно шевеля губами,

Что я еще сюда вернусь,

Еще вернусь сюда — за вами!

.…….…….
..
Sobre a canção

..

..

..

Eu muitos anos pedras esmaguei

Com verso irado não, picaretadas.

A vergonha de um crime eu carreguei

E o triunfo perpétuo da verdade

..

Que não fique a alma em estimada lira

Correrei com meu corpo em cinzas feito

Por minha casa que não é aquecida,

Por sobre a neve cujo toque queima

..

Lá por cima onde meu corpo é imortal,

Aquilo que nas mãos carregou o inverno,

Girou a nevasca de vestido branco,

Já perdendo a cabeça por completo

..

Como aldeã que grita sem ter calma,

Para quem tudo soa ignorado,

Que enterram antes por aqui a alma,

Plantando o corpo sob um cadeado.

..

Uma velha amiga já de longas datas,

Como um finado, ela não honra a mim.

Ela vai cantando e baila — esta nevasca,

Canta e baila sem nunca ter um fim.

..

..

О песне

..

3

..

Я много лет дробил каменья

Не гневным ямбом, а кайлом.

Я жил позором преступленья

И вечной правды торжеством.

..

Пусть не душой в заветной лире –

Я телом тленья убегу

В моей нетопленой квартире,

На обжигающем снегу.

..

Где над моим бессмертным телом,

Что на руках несла зима,

Металась вьюга в платье белом,

Уже сошедшая с ума,

..

Как деревенская кликуша,

Которой вовсе невдомек,

Что здесь хоронят раньше душу,

Сажая тело под замок.

..

Моя давнишняя подруга

Меня не чтит за мертвеца.

Она поет и пляшет – вьюга,

Поет и пляшет без конца.






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Cultura não é o que entra pelos olhos e ouvidos,    
mas o que modifica o jeito de olhar e ouvir.

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